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Citação coringa na redação do Enem: usar ou não usar?

Estudantes utilizam citações coringa como repertório na redação do Enem, contudo o uso desse tipo de mecanismo é contestado por alguns especialistas

Paloma Xavier
Paloma Xavier
Publicado em 10/10/2025 às 12:03 | Atualizado em 06/11/2025 às 12:09
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A redação é feita no primeiro dia da prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) FOTO: Freepik

O primeiro dia do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) se aproxima, trazendo a temida prova de redação. Na preparação para a prova, estudantes abastecem seu repertório com áreas do conhecimento como sociologia e filosofia, atualidades e até com citações coringa.

O professor Isaac Melo, que ministra aulas de redação, explica que a produção textual do Enem avalia cinco competências:

1 - Correção gramatical;
2 - Adequação ao tema, ao gênero e o uso de repertório sociocultural;
3 - Qualidade argumentativa;
4 - Coesão textual;
5 - Propostas de intervenção.

De acordo com Isaac, as citações podem contemplar duas dessas cinco competências. “A Competência 3, que lida com a qualidade argumentativa, e os repertórios são algumas das bases para legitimar a tese dos estudantes no texto e, sobretudo, a Competência 2, que analisa a qualidade desse repertório usado no texto”, detalha.

Uma dúvida frequente dos estudantes que cogitam o uso de citações no Enem é onde colocá-las no texto. Isaac explica que não há em edital uma obrigação de quantidade ou local melhor do texto para utilização de repertório sociocultural. “Mas, a julgar pelas melhores notas, o estudante deve ficar atento ao uso de repertório na introdução, nos dois desenvolvimentos e, em alguns casos, retomar um repertório sociocultural já usado no texto para finalizar a conclusão. Portanto, todo parágrafo pode receber repertório”, acrescenta.

Pode usar citação coringa na redação do Enem?

Apesar de contemplarem competências importantes do Enem, o professor de redação desaconselha o uso de citações coringa: “Trata-se de um processo de memorização de citações de filósofos, sociólogos, antropólogos, artistas que, em tese, funcionaria para todo e qualquer tema. Mas, se de um lado esse recurso aparenta salvar o texto do estudante, de outro vem quase sempre desconectado do tema, sem qualquer pertinência nem produtividade na construção textual, tornando o discurso superficial, desconectado e, dessa forma, passível de penalização na nota. Quando o estudante pensar em alguma citação que serve para ‘todo tema’, ele estará diante de um potencial perigo textual: a tal citação coringa. É sempre melhor evitá-la.”

“Todas as citações que aparentarem servir para todo e qualquer tema devem ser evitadas. Se esse for o critério para memorização de citações, o candidato estará em potencial perigo. Agora, se a citação tiver coerência com o tema, o candidato pode ficar tranquilo e começar a argumentar com propriedade sobre o tema abordado”, destaca.

Contudo, isso não significa que as citações não devam ser utilizadas na prova. “Não há citação coringa quando as áreas do conhecimento recebem no texto associações pertinentes, legitimadas e produtivas. Em outras palavras, toda citação que tem direta relação com o assunto do tema ou com ele por inteiro, toda citação que a fonte é explicitada, correta e bem explicada, assim como toda citação que será urdida ao argumento e ao tema são bem-vindas”, ressalta o especialista.

Como enriquecer o repertório para a prova de redação?

Isaac orienta que os estudantes invistam em fontes diversas para enriquecer o repertório sociocultural. “Não existe citação fácil. O que existe é citação estudada com profundidade e praticada. É difícil fazer uma feijoada de primeira apenas olhando para ela já pronta por alguém. É necessário pesquisar os ingredientes e, sobretudo, praticar para ir, a cada nova tentativa, lapidando o sabor do prato. Com produção textual é a mesma coisa. Filósofos, sociólogos, antropólogos tendem a discutir vários fatores sociais.

“Logo, eles são de demanda teórica ampla. Cabe aos estudantes pesquisarem essas fontes, aprenderem sobre elas com propriedade e praticarem em temas vários o uso desses discursos socioculturais”, acrescenta. 

O professor também exemplifica itens que podem agregar ao repertório do vestibulando: “A sociedade pode ser associada a uma ‘moral de rebanho’, de Nietzsche; tecnologia pode estar associada a uma série televisiva, como Black Mirror; educação pode estar associada à poderosa e atual voz de uma Viviane Mosé, de um Mário Sergio Cortella e porque não do maior deles, Paulo Freire.”

Além disso, afirma que o repertório pode ser enriquecido até com atividades como assistir a filmes, séries e novelas e ler bons livros - inclusive os exigidos em alguns vestibulares. “O aluno também pode praticar citações novas, inéditas, aprendidas nas aulas de geografia, filosofia, artes, história, literatura e na própria disciplina de redação”, acrescenta.

“Usar citações diferentes é importante demais para que não se crie uma espécie de vício perigoso que só limita e, muitas vezes, empobrece a capacidade argumentativa do estudante”, finaliza.

Temas da redação do Enem dos últimos 10 anos

  • 2024 - Desafios para a valorização da herança africana no Brasil
  • 2023 - Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil
  • 2022 - Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil
  • 2021 - Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil (tema do Enem impresso e digital)
  • 2020 - O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira (tema do Enem impresso)
  • 2020 - O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil (tema do Enem digital)
  • 2019 - Democratização do acesso ao cinema no Brasil
  • 2018 - Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na Internet
  • 2017 - Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil
  • 2016 - Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil
  • 2015 - A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira

Enem 2025

Enem 2025 será aplicado nos dias 9 e 16 de novembro em todo o Brasil, com exceção de Belém, Ananindeua e Marituba, no Pará, que terão o exame aplicado nos dias 30 de novembro e 7 de dezembro.

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o Enem teve mais de 4,8 milhões de inscrições confirmadas. Em comparação com 2024, o aumento no número das inscrições foi de 11,22%. O estado com mais inscritos é São Paulo (751.648), seguido de Minas Gerais (464.994) e Bahia (428.019). Pernambuco tem 272.299 inscrições confirmadas para a prova. 

Da preparação à aprovação no Enem! Quais estratégias e desafios dos estudantes?

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