Jorge, Isabel e Bruna também respondem processo por outras duas mortes Foto: Hélia Scheppa/ JC Imagem
#JÚRIDOSCANIBAIS
» Entenda o caso
O psiquiatra forense Lamartine Hollanda, perito responsável pelo exame de sanidade mental, foi a primeira testemunha ouvida no júri. Questionado pela acusação e pela defesa, afirmou que os réus não têm doenças ou distúrbios mentais que possam comprometer o entedimento deles sobre o crime. "Curiosamente, em um processo que correu há 16 anos em Olinda, não foi alegada nem por parte dele nem dos advogados essa insanidade", afirmou, em relação a um assassinato do qual Jorge foi absolvido, também em Olinda. Em 1994, ele foi acusado de matar, com um tiro nas costas, um adolescente de 17 anos, homicídio pelo qual foi inocentado há quatro anos - quando a morte de Jéssica já havia acontecido, porém não havia sido descoberta pela polícia. Para o médico, "a probabilidade de repetição de tal conduta é alta."
- Delegado do inquérito diz que réus confessaram crime e não demonstraram arrependimento
- Acusado de canibalismo descreve ritual de morte das vítimas
- Isabel Cristina nega participação no assassinato e diz que filha da vítima comeu carne da mãe
- Terceira acusada de canibalismo contradiz outros réus em interrogatório
Logo em seguida, foi a vez de Paulo Berenguer, delegado responsável pelo inquérito do assassinato da jovem. Berenguer confirmou que o trio confessou, durante as ouvidas à polícia, ter matado a jovem e praticado o canibalismo. Ainda segundo o delegado, os acusados não teriam demonstrado arrependimento em nenhum momento e já planejavam o assassinato de outras vítimas. A crueldade seria tanto que a filha da vítima, na época com 1 ano de idade, também teria comido carne da mãe. Arrolado pelo MPPE como testemunha de acusação, o delegado afirmou por diversas vezes o modo de execução da vítima. "Dona Isabel entregou a faca, Bruna segurou Jéssica e Jorge deu o golpe na jugular", relatou.
Durante as investigações, ficou comprovado que o trio pretendia continuar com os assassinatos. "Identificamos outras eventuais vítimas que poderiam ser mortas pelo trio, mas os planos foram interrompidos com a prisão dos três (em abril de 2012)", ressaltou Berenguer, afirmando também que não havia uma liderança e sim "uma individualização de conduta". Para o policial, a seita denominada O Cartel foi o modus operandi da execução. "Segundo relatos dos três, eles procuravam mulheres que não tinham nada de positivo para contribuir com a sociedade. Essas pessoas deviam ser eliminadas, assim suas almas seriam purificadas e, na vida terrena, a eliminação contribuiria com o controle populacional. O Cartel serviu para justificar o homicídio praticado. Acreditamos que esse homicídio foi planejado antes, durante e depois", explicou em depoimento.
Além de se dizer arrependido, Jorge alegou doença mentalFoto: Hélia Scheppa/ JC Imagem
Segunda a falar, Isabel Cristina se mostrou - durante todo o seu depoimento - bastante abalada e visivelmente nervosa. A ré negou participação no assassinato da jovem Jéssica Camila, mas confessou ter ajudado a ocultar o cadáver da vítima. O motivo de ter se envolvido nos crimes, segundo a acusada, era uma "profunda dependência emocional por Jorge". Questionada diversas vezes por ambas as partes, a mais velha dos três insistia em dizer que toda a sua participação era motivada por amor ao réu, por quem foi casada por quase 30 anos. "Jorge disse que foi a senhora que entregou a faca para ele. Se não foi a senhora, então ele está mentindo? Então ele não te ama, dona Isabel", alegou a promotora Eliane Gaia. Confusa, a ré demorou alguns instantes para responder e terminou por dizer: "Ou então ele não se lembra."
Abuso sexual, canibalismo e insanidade mental foram outros pontos levantados pela promotoria e debatidos com os advogados de defesa durante o depoimento de Isabel. Questionada por Eliane Gaia se a criança também comia a carne da vítima, a acusada divagou, mas terminou por afirmar: "Sim, ela comia. Ela já estava lá (na casa) e fazia parte da família". A carne, segundo Isabel, era preparada em uma grelha e misturada nas refeições. Sobre um suposto abuso sexual sofrido pela menor, Isabel negou prontamente. "Levamos ela para a médica, que disse que havia uma ruptura. Houve abuso sexual, mas não foi da gente. Ela já tinha passado pela mão de muita gente", alegou.
O julgamento será retomado nesta sextaFoto: Guga Matos/ JC Imagem
RECESSO - Por volta das 19h, os interrogatórios acabaram e juíza titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Olinda, Maria Segunda Gomes de Lima, anunciou pausa para breve lanche dos jurados. Na volta, anunciou que, por pedido das partes, o Tribunal entraria em recesso e só voltaria com os trabalhos na manhã desta sexta-feira (14), a partir das 9h. Neste segundo dia, terá início a parte mais longa do júri, em que o Ministério Público e a defesa terão até nove horas para debater. Quem falará primeiro, em tempo máximo de duas horas e meia, é a promotora.
A fase de debate do julgamento continuará com a argumentação da defesa. Juntos, terão mais duas horas e meia para falar os advogados de Jorge, a defensora pública Tereza Joacy; de Isabel, Paulo Sales; e de Bruna, Rômulo Lyra, Isis Cordeiro Aires, Ianara Rodrigues e Hellanderson Wilker. Se o trio for condenado, a pena pode passar de 30 anos. Os crimes pelos quais respondem são homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, uso de meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e assegurar a impunidade de outros crimes), além de vilipêndio (agressão ao cadáver) e ocultação do corpo. Bruna ainda é acusada de falsidade ideológica, por ter assumido a identidade de Jéssica após a sua morte.
OUTROS CRIMES - O trio também é acusado de matar e esquartejar outras duas mulheres em Garanhuns, no Agreste pernambucano, onde os acusados também teriam feito comida com carne humana. Esses casos correm em segredo de justiça.