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depoimento

Delegado do inquérito diz que réus confessaram crime e não demonstraram arrependimento

Malu Silveira
Malu Silveira
Publicado em 13/11/2014 às 12:55
Leitura: 7min

O delegado Paulo Berenguer foi o segundo a prestar depoimento no julgamento dos acusados  / Foto: Luiz Pessoa/NE10

O delegado Paulo Berenguer foi o segundo a prestar depoimento no julgamento dos acusados Foto: Luiz Pessoa/NE10

O delegado Paulo Berenguer, responsável pelo inquérito do assassinato da jovem Jéssica Camila Pereira da Silva, 17 anos, confirmou em depoimento no julgamento do trio acusado de canibalismo que os réus confessaram, durante as ouvidas à Polícia Civil de Pernambuco, o assassinato da moradora de rua. Ainda segundo Berenguer, os acusados não teriam demonstrado arrependimento em nenhum momento e já planejavam o assassinato de outras vítimas. A filha da vítima, na época com 1 ano de idade, que ficou com o trio, também teria comido carne da mãe. 

Arrolado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) como testemunha de acusação, o delegado foi primeiramente questionado pelo órgão. Indagado pela promotora Eliane Gaia e os advogados de defesa, Berenguer apontou a conduta de cada um dos acusados na execução da vítima. "Dona Isabel entregou a faca, Bruna segurou Jéssica e Jorge deu o golpe na jugular", explicou o delegado por diversas vezes.

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Segundo Berenguer, o caso chegou às mãos dele após a notícia de que o desaparecimento de uma moradora de rua em Olinda teria ligação com os crimes praticados pelo trio de canibais. A forma de agir e o modo que executaram a adolescente estiveram entre os principais questionamentos ao delegado. 

Para o policial, a seita denominada O Cartel foi o modus operandi da execução. "Segundo relatos dos três, eles procuravam mulheres que não tinham nada de positivo para contribuir com a sociedade. Essas pessoas deviam ser eliminadas, assim suas almas seriam purificadas e, na vida terrena, a eliminação contribuiria com o controle populacional. O Cartel serviu para justificar o homicídio praticado. Acreditamos que esse homicídio foi planejado antes, durante e depois", explicou em depoimento. 

Se o crime não tivesse sido descoberto em abril de 2012, afirmou o delegado, os assassinatos continuariam. "Identificamos outras eventuais vítimas que poderiam ser mortas pelo trio, mas os planos foram interrompidos com a prisão dos três", afirmou. Questionado pelos advogados de defesa, Paulo Berenguer negou que houvesse qualquer tipo de dependência de Isabel e Bruna em relação a Jorge, apontado por diversas vezes como o líder do trio. "Não existe um líder ou falta de liderança. Existe a individualização de conduta", ressaltou.  

Berenguer também foi questionado pela promotora se, na época em que Jorge foi julgado pelo assassinato de Luciano Severino da Silva houve a realização de exame de insanidade mental. "Pelo que apuramos, nem na fase de inquérito nem na fase de processo criminal, não foi requisitado exame de insanidade mental", destacou o delegado.

A promotora também questionou o delegado se houve telefonemas de Jéssica, quando estava em cárcere privado, para a família. "Houve um telefonema de Jéssica para a tia. Ela dizia que estava em cárcere privado. Mas ela (Jéssica) não sabia onde estava morando e não deve ter saído de casa", explicou Berenguer, que não voltou a apontar outros contatos familiares.

Ainda segundo Paulo Berenguer, Bruna afirmou à polícia, durante os depoimentos, que Jéssica continuou viva por alguns momentos depois que levou o golpe de Jorge. "Segundo relato de Bruna, a vítima estava convulsionando quando foi levada para o banheiro."

DISCUSSÃO
- Durante os questionamentos dos advogados de defesa dos réus, o delegado Paulo Berenguer se mostrou bastante incomodado com a subjetividade das perguntas. "Nosso inquérito se adequa na objetividade e adequamos ao processo penal; não tenho como responder estas perguntas", declarou por diversas vezes. A questão também foi discutida entre a promotoria e a defesa, rapidamente intermediada pela juíza Maria Segunda.

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