Eu estava lá no meio e via tudo, mas não gostava do que fazia, disse Bruna Fotos: Hélia Scheppa
Tranquila e falando em tom de naturalidade sobre a morte da moradora de rua Jéssica Camila da Silva Pereira, 17, a acusada Bruna Cristina, 28 anos, contradisse, no fim da tarde desta quinta-feira (13), o que foi dito no interrogatório dos outros réus, Jorge Beltrão, 52, e Isabel Cristina, 53. Ao contrário do que eles haviam afirmado, segundo Bruna, a filha de Jéssica, de 1 ano, não viu a mãe sendo morta nem comeu a carne dela. Bruna ainda negou ter assassinado a vítima, mas confessou ter ajudado a segurá-la com Isabel, antes de Jorge desferir a facada no pescoço que a matou.
"Eles traziam as vítimas, não era eu que trazia. Eu estava lá no meio e via tudo, mas não gostava do que fazia. Não me acostumei e queria que aquilo acabasse, mas eu não tinha como fazer aquilo acabar. Hoje, eu me sinto uma pessoa livre, apesar de ser presa", respondeu Jéssica a um dos sete jurados, que pela primeira vez no julgamento indagou um réu.
Durante a sua fala, que durou mais de uma hora, Bruna provocou risadas na plateia, pelo seu jeito de relatar o crime e a convivência com os outros acusados. "Jorge falou que, se matasse, tinha que comer, porque estava na Bíblia. Mas eu revirei a Bíblia de um canto a outro e não tem isso em lugar nenhum", brincou. Outro momento foi o que a juíza questionou se ela havia feito coxinhas com carne humana e a acusada respondeu: "Está repreendido!". A promotora Eliane Gaia chegou a pedir que ela tratasse o júri com seriedade.
Bruna culpou Isabel e Jorge pela morte de Jéssica
A acusada contou que o objetivo inicial de Isabel era de sequestrar a filha de Jéssica, um bebê de um ano à época, depois de conhecê-las em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. No entanto, sem conseguir, acabou levando Jéssica para casa e falsificou os documentos usando Bruna, já que as duas tinham idades próximas. De acordo com o relato dela, depois os homicídios aconteceram.
Bruna afirmou ter ficado aterrorizada e arrependida pelos crimes, mas alegou não ter denunciado por amor a Jorge e medo de tornar-se vítima. "Amava muito ele, ele foi meu primeiro homem, meu primeiro namorado", disse.
Bruna ressaltou que Jorge tem problemas mentais, enfatizando o fato de ter ido à perícia do INSS com ele. Porém, acabou admitindo que não. "Do jeito que ele orientou a senhora, a senhora acha que ele é doido?", questionou Eliane Gaia. Após uma pausa, a ré disse que não.
Questionada, Bruna admitiu que já foi agredida por Jorge (foto)
Após uma pergunta do advogado de Isabel, Paulo Sales, a própria Bruna entrou em contradição. Apesar de ter afirmado à promotora nunca ter sido agredida por Jorge, a acusada acabou respondendo positivamente à indagação se já havia sido alvo de agressão e uma cuspida do réu.
Durante a toda a sua fala, ela colocou a culpa nos outros dois. "Isabel não tinha documento falso, mas em compensação fazia estelionato com o rosto", afirmou à defesa da ex-esposa de Jorge. Essa foi a linha adotada pelo seu advogado, Rômulo Lyra.
Embora não se diga "doida", nas palavras dela, estimulada pela defensora pública Teresa Joazy, representante de Jorge, Bruna fez como o acusado e questionou o exame de sanidade mental feito pelo psiquiatra forense Lamartine de Hollanda, uma das testemunhas ouvidas pelo júri. "Eu mal sentei, já levantei. Ele perguntou o meu nome, pediu para eu falar a verdade e logo interrompeu. Me disse que não acredita em Papai Noel nem em chapeuzinho Vermelho, que eu sou uma atriz. Pensei: Meu Deus, esse homem é um psiquiatra ou um promotor?", contou, voltando a provocar o riso entre o público.
Após o depoimento de Bruna, a juíza Maria Segunda anunciou que o julgamento seria interrompido e retomado na manhã desta sexta-feira (14).
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