Um dos documentos usados pelo parlamentar para conseguir registrar as contas é o seu passaporte diplomático Foto: Fotos Públicas
Documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça ao Brasil comprovam que um negócio de US$ 34,5 milhões de dólares fechado em 2011 pela Petrobras, em Benin, na África, serviu para irrigar as quatro contas que têm o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e sua esposa, Cláudia Cordeiro Cruz, como beneficiários.
O "giro do dinheiro", como classificam os investigadores sobre o caminho para chegar até o parlamentar, é considerado mais interessante do que o valor bloqueado pelas autoridades suíças em 17 de abril, no total de 2,468 milhões de francos suíços. Convertido em reais pelo câmbio atual, o montante corresponde a R$ 9,638 milhões. Cunha tem negado reiteradas vezes a existência de contas no exterior em seu nome. Procurado nesta sexta-feira, 9, não se manifestou a respeito das investigações.
O caminho do dinheiro começa no pagamento da Petrobras à petroleira africana Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl (CBH), que celebrou em Benin a venda de 50% de um bloco de petróleo à estatal brasileira. A conta da empresa tem como titular o brasileiro Idalécio de Oliveira, que repassou US$ 31 milhões à Lusitânia Petroleum Ltd, controladora da CBH, que permaneceu com a outra metade do bloco. De acordo com as investigações, a conta da Lusitânia está em nome de Idalécio. Por meio desta conta foram destinados US$ 10 milhões, em maio de 2011, ao empresário João Henriques.
Conforme revelou o jornal O Estado de S.Paulo, Henriques, apontado como lobista do PMDB no esquema de corrupção na Diretoria Internacional da Petrobras, disse em depoimento à força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, que fez uma transferência bancária a um político no âmbito de um contrato da estatal para aquisição do campo de exploração em Benin.
O material suíço enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR) confirma cinco repasses feitos por Henriques para uma das contas em nome de uma das três offshores que têm Cunha como beneficiário, no valor total de 1,3 milhão de francos suíços. No total, Cunha abriu três contas em nome das offshores Orion SP, Netherton Investments Ltd e Triumph SP, todas no banco suíço Julius Baer. A primeira recebeu o dinheiro do operador do PMDB, no mês seguinte ao negócio na África, e alimentou as outras duas
Um dos documentos usados pelo parlamentar para conseguir registrar as contas é o seu passaporte diplomático. Os registros mostram ainda endereço de Cunha na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Além dos repasses de Henriques, as contas das offshores de Cunha receberam valores de chamadas "contas de custódia", sediadas, por exemplo, no Merrill Lynch International. A suspeita de investigadores é que estas sejam meras "contas de passagem", utilizadas por exemplo para operadores viabilizarem a chegada do dinheiro ao destinatário final. Desde quarta-feira, 7, a PGR recebeu os documentos e iniciou a investigação para chegar aos dados que não foram apurados pela Suíça.
Os documentos - como extratos bancários - foram encaminhados em alemão ao Brasil e as comunicações diplomáticas do Ministério Público suíço, em francês. Investigadores brasileiros calculam em ao menos 15 dias o tempo para fechar a primeira etapa da análise das contas do parlamentar e decidir pela abertura de um inquérito perante o Supremo Tribunal Federal ou oferecimento direto de uma denúncia à Corte.
As autoridades suíças conseguiram bloquear apenas duas das quatro contas ligadas ao parlamentar. Isso porque o deputado encerrou as outras duas em abril e em maio do ano passado, após o início das investigações da Operação Lava Jato. Nos registro da Netherton Investments, que tem sede em Cingapura, a Suíça congelou 2,322 milhões de francos suíços. A conta é considerada a principal pelos investigadores.
Já a quarta conta ligada ao peemedebista, que também teve saldo bloqueado, tem a esposa de Cunha como titular e recebeu o nome fantasia de Kopek. O saldo em conta bloqueado neste caso foi de 146,375 mil francos suíços.
As quatro contas foram abertas entre maio de 2007 e setembro de 2008. Anos antes, portanto, do recebimento dos valores oriundos do negócio da África. Investigadores brasileiros apuram a partir de agora como os negócios foram irrigados antes de 2011 e a existência de possíveis outras contas ligadas ao deputado.