Jorge Beltrão, tido como líder do trio acusado de canibalismo, tem transtorno antissocial psicopata Foto:Wenyson Aubiérgio/Acervo JC Imagem
Doença ou crueldade? É o que muitos se perguntaram à época da descoberta do crime que tornou Jorge Beltrão, Isabel Cristina e Bruna Cristina conhecidos como o "trio de canibais de Garanhuns". Mais de dois anos depois, a conclusão do exame de sanidade mental os coloca como imputáveis, o que quer dizer que, por terem consciência do crime e tido vontade de matar Jéssica Camila, em 2008, podem responder em juízo pelo assassinato. Porém o mesmo laudo os revela como portadores de transtornos de personalidade. No caso de Jorge, considerado líder do grupo, foi mostrada uma mente psicopata.
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De acordo com o psiquiatra forense Feliciano Abdom, há diferenças entre a doença e a perturbação da saúde mental, sendo essa última a que compõe a personalidade de Jorge. "Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a perturbação comprometia apenas parcialmente a vontade de cometer o crime, ou seja, a pessoa sabia o que estava fazendo, mas não tinha condições de parar de fazer. Hoje já se sabe que não é assim; há provas de que a vontade estava sendo feita. Nos crimes, os psicopatas têm responsabilidade, consciência e inteligência sobre o que estão fazendo", contextualiza o médico, que atua nessa área há mais de 28 anos. "Eles vivem em uma faixa entre o que é normal e o que é anormal", explica.
Segundo o psiquiatra, os portadores desse transtorno têm em seu caráter características como a facilidade em manipular outras pessoas, o fato de não se arrepender pelo que fazem ou sentir piedade pela vítima e o prazer com as suas ações. "Mas é importante lembrar que nem todos os casos são do mesmo jeito", afirma Abdom.
Jorge Beltrão escreveu de desenhou diário que intitulou "Relatos de um esquizofrênico", em que questiona a própria sanidade mentalReprodução: Alexandre Gondim/JC Imagem
Nos Estados Unidos, os psicopatas representam cerca de 15% a 20% da população carcerária, com índice de reincidência criminal aproximadamente três vezes maior que o normal. "Hoje, popularmente, se aliou muito a psicopatia com o crime, mas não é necessário. Um psicopata pode passar a vida inteira sem cometer crimes", afirma a especialista. No mundo corporativo, as pessoas com esse transtorno são 3% do total.
Entre os psiquiatras, é quase uma unanimidade considerar que não há tratamento para a psicopatia, já que é um traço da personalidade.