Saúde mental

Cerca de 1% da população mundial é psicopata; entenda o transtorno

Amanda Miranda
Amanda Miranda
Publicado em 11/11/2014 às 13:43
Leitura:

Jorge Beltrão, tido como líder do trio acusado de canibalismo, tem transtorno antissocial psicopata / Foto:Wenyson Aubiérgio/Acervo JC Imagem

Jorge Beltrão, tido como líder do trio acusado de canibalismo, tem transtorno antissocial psicopata Foto:Wenyson Aubiérgio/Acervo JC Imagem

Doença ou crueldade? É o que muitos se perguntaram à época da descoberta do crime que tornou Jorge Beltrão, Isabel Cristina e Bruna Cristina conhecidos como o "trio de canibais de Garanhuns". Mais de dois anos depois, a conclusão do exame de sanidade mental os coloca como imputáveis, o que quer dizer que, por terem consciência do crime e tido vontade de matar Jéssica Camila, em 2008, podem responder em juízo pelo assassinato. Porém o mesmo laudo os revela como portadores de transtornos de personalidade. No caso de Jorge, considerado líder do grupo, foi mostrada uma mente psicopata.

ESPECIAL:
Entenda o caso dos canibais

A psicopatia faz parte do transtorno antissocial, que acomete cerca 3% da população mundial segundo estudo norte-americano. O número de psicopatas no mundo é de 1%, atingindo mais homens que mulheres, segundo o mesmo levantamento. Não há estatísticas especificamente brasileiras.

De acordo com o psiquiatra forense Feliciano Abdom, há diferenças entre a doença e a perturbação da saúde mental, sendo essa última a que compõe a personalidade de Jorge. "Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a perturbação comprometia apenas parcialmente a vontade de cometer o crime, ou seja, a pessoa sabia o que estava fazendo, mas não tinha condições de parar de fazer. Hoje já se sabe que não é assim; há provas de que a vontade estava sendo feita. Nos crimes, os psicopatas têm responsabilidade, consciência e inteligência sobre o que estão fazendo", contextualiza o médico, que atua nessa área há mais de 28 anos. "Eles vivem em uma faixa entre o que é normal e o que é anormal", explica.

Segundo o psiquiatra, os portadores desse transtorno têm em seu caráter características como a facilidade em manipular outras pessoas, o fato de não se arrepender pelo que fazem ou sentir piedade pela vítima e o prazer com as suas ações. "Mas é importante lembrar que nem todos os casos são do mesmo jeito", afirma Abdom.

Jorge Beltrão escreveu de desenhou diário que intitulou

Jorge Beltrão escreveu de desenhou diário que intitulou "Relatos de um esquizofrênico", em que questiona a própria sanidade mentalReprodução: Alexandre Gondim/JC Imagem

A especialista em assassinos em série Ilana Casoy, autora de livros sobre o assunto, concorda. "As características do crime não podem ser transformadas automaticamente (na investigação)", diz. Ilana justifica ser necessário um trabalho técnico para analisar as características de cada crime. "Tem que descobrir o padrão e isso não é tão óbvio quanto aparece na ficção."

Nos Estados Unidos, os psicopatas representam cerca de 15% a 20% da população carcerária, com índice de reincidência criminal aproximadamente três vezes maior que o normal. "Hoje, popularmente, se aliou muito a psicopatia com o crime, mas não é necessário. Um psicopata pode passar a vida inteira sem cometer crimes", afirma a especialista. No mundo corporativo, as pessoas com esse transtorno são 3% do total.

Entre os psiquiatras, é quase uma unanimidade considerar que não há tratamento para a psicopatia, já que é um traço da personalidade.

Mais lidas