
A família de Carlos e Ívson é formada pelos dois e pelos três filhos: Carlos Eduardo, Ívson Júnior e Lucas Foto: Arquivo Pessoal

O casal realizou a primeira adoção de Jaboatão dos GuararapesFoto: Lorena Barros / NE10
O fato de Ivson e Carlos formarem um casal homoafetivo pode parecer um problema aos olhos do Estatuto da Família, mas, sob a visão da Vara da Infância e Juventude de Jaboatão dos Guararapes, responsável pelos trâmites legais de adoção dos três filhos, não foi relevante: "Ao chegar à Vara, me perguntaram se eu iria adotar a criança sozinho ou com outra pessoa. Falei que ia adotar com meu parceiro e eles adiantaram que não tinham problema nenhum com isso (...). Fui muito bem acolhido", lembrou Ivson, que se adiantou para buscar os papéis da adoção pouco depois de oficializar o relacionamento com Carlos, em 2011.
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Com boa relação com os vizinhos e uma grande parceria com a escola na qual os filhos estudam - classificam como “acolhedora, que nos conhece como família” -, o casal se mostra preocupado com o avanço do Estatuto da Família no ambiente “Acho que ele [o estatuto] vem tirando o direito de muitas famílias a serem formadas e quer tirar o direito de muitas famílias que já estão formadas quado dizem que família é o pai a mãe e seus descendentes. Não queremos tirar os direitos de ninguém ou obter privilégios sobre ninguém”. Enquanto o projeto de lei tramita na Câmara, a a família de Carlos e Ivson cresce como uma só: “Nós já eramos uma família. Com a chegada dos meninos, ela ficou ainda mais completa”.
Para a presidente da Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção (Angaad) e diretora de relações Institucionais do Gead Recife, a psicóloga Suzana Schettini, a implementação do estatuto “diminuiria as possibilidades de inserção familiar para muitas crianças e adolescentes”. O raciocínio, segundo ela, é que boa parte das famílias homoafetivas não tem distinção para adotar crianças mais velhas e de cor diferente da sua. Ela lembra que o maior interesse para as varas de adoção é saber se a criança a ser adotada será criada por pais com condições psicológicas e sociais para garantir o seu bem estar e que, na hora da aplicação dos papéis, não é necessário declarar se o casal é de membros homoafetivos ou não.
Suzana lembrou, ainda, que não há adoção “feita por acaso”, e que os pais que buscam um filho através da adoção têm amor e disponibilidade: “A adoção é a construção familiar onde as crianças são amadas e aceitas, a implementação de um estatuto que mude isso é um constrangimento para toda a sociedade”. Para aqueles que classificam o ato de um casal homoafetivo adotar crianças como um “risco” para a sexualidade dos filhos, a psicóloga lembra: “Aa homossexualidade nao acontece por influência, não influencia, não contagia, não se ensina e não se aprende; é um estado de ser”. Fala que abraça o pensamento de Carlos que, questionado sobre as críticas, afirma que viver com o preconceito exposto nos dias de hoje é um desafio: “Ninguém escolhe sofrer; eu também não queria passar por isso”.