Para socióloga Lice Guimarães, construir presídio não diminui violência Foto: Guga Matos/JC Imagem
Uma bala perdida pode tirar uma vida, como aconteceu com o mecânico Ricardo Alves da Silva, no último domingo. Mas, indiretamente, pode atingir muito mais gente do que se pensa. Medo, angústia e síndrome do pânico são alguns dos problemas que a sensação de inseguraça provoca no ser humano. Existe um nível de tolerância que, uma vez atravessado, pode paralisar completamente. E aí, só o tratamento psicoterápico ou psiquiátrico nos casos mais graves.
O psicólogo Leopoldo Barbosa explica que sentir medo é normal em qualquer um quando encara uma situação desagradável: uma prova, falar em público. O problema é quando esse medo chega a um nível de desequilíbrio. A pessoa tem as reações sem nada que a provoque. "O problema é quando o medo e a angústia extrapolam o nível do suportável e o indivíduo antecipa algo que não existe", pontua.
Daí vêm as inibições. Não se consegue sair de casa, sair à noite. "Já há uma disfuncionalidade". Quando chega a esse estágio já é preciso procurar ajuda. E não há tempo previsto para a cura. Varia de caso a caso.
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SOCIOLOGIA - Se o indivíduo manifesta problemas, um grupo faz o mesmo quando exposto à violência. De acordo com a socióloga Lice Guimarães, o grande problema é combater o sintoma e, não, a doença. "A violência é um sintoma de que algo está errado. Nossa sociedade tem a preocupação de resolver os problemas da violência sem ir na fonte, sem saber de onde vem e por que existe. São reações de um problema social que deve ser tratado, e considero a desigualdade e exclusão como os principais a serem combatidos", aponta.
Ela vê muito dinheiro desperdiçado para construção de presídios e pouco para investir em educação de qualidade. Para Lice, essas grandes edificações cercadas de muros, grades e cercas elétricas são o reflexo do desinteresse público. "Se quer diminuir a violência, invista em educação de qualidade e que dê capacidade para as pessoas pensarem e construírem uma vida melhor. Gastam-se muitos recursos para fazer presídio quando deveríamos investir em educação transformadora".