Inovação

SXSW 2024: empatia, felicidade e inteligência artificial no ambiente trabalho

Festival de inovação e cultura trouxe várias discussões que envolviam emoções no ambiente de trabalho e de como a inteligência artificial está transformando esse espaço

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Maria Luiza Borges

Publicado em 16/03/2024 às 9:18 | Atualizado em 03/05/2024 às 16:56
Noticia

Num festival que discutiu em vários momentos os males da atualidade, como solidão, ansiedade e busca de propósito, a South By SouthWest (SXSW), realizada em Austin, entre 8 e 16 de março, também levou esses temas para a trilha que discutiu Ambiente de Trabalho.

Num painel em que falou sobre re-skilling, Chris Ernst, da empresa Workday, colocou no mesmo nível de prioridade no mercado corporativo habilidades técnicas e interpessoais. Para ele, solução de problemas, empatia e curiosidade são as características que o mercado precisa de um profissional nos dias de hoje.

Segundo ele, o mercado precisa de profissionais que consigam não apenas resolver problemas, mas ser empáticos com os demais, dentro e fora da empresa, além de curiosos para estar abertos a uma aprendizagem contínua.

A empresa da qual é Chief Learning Officer desenvolveu um sistema de treinamento da habilidade de empatia, utilizando técnicas de XR (realidade estendida, que mistura VR, AR e MR) para desenvolver empatia em situações simuladas.

É possível ser feliz no ambiente de trabalho?

Para Laurie Santos, professora da Universidade de Yale que se tornou especialista na ciência da felicidade e tem um podcast sobre o tema, a resposta é sim. Mas é preciso que as pessoas se treinem para isso.

Ela relata que estudos recentes indicam que mais de 67% dos estudantes universitários americanos reportam ansiedade e um a cada 10 já tiveram ideias suicidas.

"Como especialista na ciência da felicidade, isso é algo que realmente me preocupa sobre o futuro do trabalho, sabemos o que acontece com o trabalho das pessoas quando seu bem-estar sofre uma queda, quando se sentem esgotadas, sobrecarregadas. E a resposta não é boa", disse.

Sua palestra teve o sugestivo título de "5 maneiras de melhorar o bem-estar no local de trabalho" e suas dicas de ouro incluem:

  • Reconhecer suas emoções negativas. Santos diz que não devemos tentar suprim-las, mas entendê-las. Pode ser cansaço, frustração ou tristeza… Os sentimentos não devem ser julgados. A partir desse reconhecimento é possível traçar um plano de ação para enfrentá-los.
  • Repensar seu entendimento sobre produtividade. Uma agenda cheia de reuniões não significa ser produtivo. Direcionar esforços para o que realmente importa pode ser muito melhor. Algumas atividades (como conferir e-mail e mensagens) podem ficar limitadas a momentos pré-estabelecidos.
  • Ter compaixão de si mesmo. É preciso entender o que você está passando, reconhecer suas falhas e limitações, ser mais gentil consigo.
  • Procurar ter um emprego que tenha a ver com os seus valores. Isso desperta o propósito. Ir de encontro a seus valores pode ser a causa de burnout em muitos profissionais.
  • Ter amigos no ambiente de trabalho. Isso faz o dia a dia mais feliz, melhora o senso de pertencimento e costuma aumentar a produtividade

O efeito da IA

O tema inteligência artificial era inescapável. Shravan Goli, da plataforma de cursos Coursera, e Saurabh Sanghvi, especialista em educação, abordaram o tema na palestra sobre IA e a força de trabalho do futuro.

Goli destaca que é preciso combinar habilidades técnicas com humanas, que ele diz ser impossíveis de automatização, como adaptabilidade, pensamento crítico, colaboração, narrativa e negociação.

Sanghvi destacou a mudança no nível gerencial que é necessária para incorporar a inteligência artificial no ambiente de trabalho. Falou da gestão de mudanças e da necessidade de treinamento.

Segundo ele, a migração dos serviços para a nuvem oferece um modelo de como as organizaçoes podem abordar o embarque da IA, mas lembrou que dessa vez a mudança é muito mais abrangente.

Os dois especialistas acham que a IA não apenas substituirá empregos, mas aumentará o número de funções e fará com que os humanos se concentrem em tarefas de mais valor.

Caixas de areia para brincar com AI

Sanghvi defende que se criem "sandboxes" seguras para a experimentação com a AI, permitindo que estudantes e professores explorem a tecnologia de maneira controlada (de certa forma, lembra a experiencia de XR da Workday).

Ele argumentou que as organizações devem adotar uma mentalidade de aprendizado contínuo e adaptabilidade. Esta abordagem ajudaria os funcionários a tirar o máximo proveito das oportunidades apresentadas pela AI, ao mesmo tempo em que minimiza o risco de obsolescência de habilidades.

Ambos concordaram que o futuro do trabalho com AI é promissor, mas desafiador. As organizações e os trabalhadores precisam estar preparados para uma jornada de transformação contínua, onde o aprendizado e a adaptação serão constantes. 

Generalistas criativos

Maria Luiza Borges/Cortesia

Ian Beacraft, CEO da Signal And Cipher, especialista em futuro do trabalho, na SXSW 2024 - Maria Luiza Borges/Cortesia


Um especialista no futuro do trabalho deu um nome para esse profissional do futuro, que estará em constante evolução. Ian Beacraft, CEO da Signal And Cipher, acredita que está nascendo uma geração de "generalistas criativos".

São profissionais que podem ter estudado uma determinada área, mas têm capacidade de entender e atuar várias outras, com a ajuda da inteligência artificial. Pessoas que nao estao limitadas a um único domínio de especialização, possuem uma gama diversa de habilidades e interesses, expansíveis em qualquer direção.

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O emprego está morto. Vida longa ao trabalho
Ian Beacraft, especialista em futuro do trabalho

Beacraft é otimista com relação ao futuro do trabalho com IA. Ele diz que o uso atual automatiza tarefas rotineiras e repetitivas e permite que trabalhadores se concentrem em atividades mais complexas e criativas. Ele considera que é hora de abraçar a IA nas carreiras e empresas.

Ele trouxe para a sua palestra uma frase de efeito: "jobs are dead. long live work", que pode ser traduzida para o português como "os empregos estão mortos. Vida longa ao trabalho".

Esta expressão sugere uma mudança na natureza do emprego tradicional, indicando que, embora os empregos formais como os conhecemos possam estar diminuindo ou transformando-se, o conceito de trabalho em si continua relevante e evoluindo. É viver para descobrir...

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O emprego está morto. Vida longa ao trabalho

Ian Beacraft, especialista em futuro do trabalho

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