Kevin Systrom, co-fundador do Instagram, nem teve a palestra mais concorrida do festival SXSW, que acontece em Austin nos Estados Unidos, até a próxima sexta-feira. mas o que ele tinha para falar na conversa com uma das mais famosas podcasters americanas, Kara Swinshen, pode mudar a forma como as pessoas consomem notícias.
Kevin Systron e o brasileiro Mike Krieger criaram o Instagram e o venderam ao Facebook há pouco mais de 10 anos por US$ 1 bilhão de dólares. Os dois agora estão dedicados a desenvolver mais uma rede social, a Artifact.
A ideia é usar Inteligência Artificial para oferecer feeds personalizados de informação aos usuários.
Quando uma dupla que criou do nada uma rede que tem hoje 2 bilhões de usuários diz que está fazendo uma nova e totalmente diferente, é bom prestar atenção. A lógica é oferecer algo simples de usar como o Instagram nos seus primeiros dias, para que depois se converta em uma rede social.
Inspiração chinesa na nova rede social
Ao falar do novo produto que está desenvolvendo, Systrom citou um app chinês pouco conhecido nos EUA, o Toutiao (no Brasil ele chegou a ser oferecido com o nome de Topbuzz).
É um app que oferece um cardápio de notícias aos usuários, mas passou a receber menos atenção dos seus criadores porque eles também são donos do TikTok. E a explosão da rede social de vídeos fez com que a Bytedance, dona do TouTiao e do TikTok, concentrasse sua atenção no segundo.
"O Tiktok não surgiu do nada, a Bytedance usou todo o aprendizado que teve no TouTiao no desenvolvimento do TikTok', comentou Systrom. Não à toa, a imprensa especializada está chamando o aplicativo de "O TikTok dos Textos".
Assim como o Instagram, Artifact quer se lançar primeiro como uma ferramenta simples e útil, no tempo certo. "O Instagram teve o timing perfeito. O iPhone 4 acabara de ser lançado e o app oferecia uma maneira simples de melhorar a fotografia", lembra Systrom.
Como funciona o Artifact?
Já o Artifact é centrado em um feed de artigos de notícias personalizados ao gosto de cada leitor. Os usuários devem inserir pelo menos 10 categorias de notícias de seu interesse e as publicações preferidas. A IA rastreia o comportamento dos usuários e seleciona o feed.
O aplicativo sugere inicialmente que os leitores cliquem em pelo menos 25 artigos por quinzena para personalizar as ofertas. O progresso é exibido no canto inferior direito. No futuro, o Artifact pode incorporar opções das pessoas discutirem o que estão lendo com outras pessoas.
"Queremos mudar a lógica como os algoritmos oferecerem informação com base no que seu círculo de amizades e família consome. No final, são as vozes mais ruidosas de Silicon Valley que determinam o que as pessoas leem", critica.
Concorrentes na Apple e no Google
Há outros produtos no mercado que fazem isso, como o Apple News e o Google Discover. Os dois vêm instalados nos seus respectivos smartphones, iOS ou Android. Mas a dupla que criou o instagram vê oportunidades no segmento de notícias.
O Facebook está reduzindo a distribuição de notícias em seu aplicativo e encerrando projetos com empresas de mídia, para competir com o TikTok. E o Twitter, que tem reputação de ser a rede social preferida dos que consomem notícias, ainda não tem rumo muito definido desde que Elon Musk o comprou.
Systrom inclusive insinuou que o Twitter está com número de usuários em queda, ao perguntar à audiência quem tinha aumentado o tempo que passa no Twitter depois que Musk o comprou... só uma pessoa levantou a mão entre algumas centenas que estavam na sala.
O empreendedor considera que o surgimento de toda uma nova safra de ferramentas de inteligência artificial pode indicar o timing perfeito para um aplicativo para notícias cujo modelo de negócio ainda não está totalmente definido pelos seus criadores.
A plataforma pode vir a exibir publicidade personalizada para os usuários dos planos free ou opções pagas de assinatura premium.
Um detalhe importante é que Systrom e Krieger estão financiamento o desenvolvimento do próprio bolso, e também foram atingidos pela quebra do Silicon Valley Bank, que sacudiu o mercado de tecnologia e finanças na semana passada.
A nova rede social Artifact já pode ser usada?
O app pode ser baixado para iOS e Android e configurado nos EUA para as suas preferências. Simon Systrom diz que a empresa tem detectado um consumo em forma de "J". O usuário médio entra, configura, e vai começando a se engajar aos poucos. De repente se torna um reavy user.
"Estamos tentando entender esse comportamento ainda", confessou Systrom. A rede realiza uma curadoria dos players que são disponibilizados, para evitar mentiras e desinformação. Mas o empreendedor destaca que, na sua opinião, "todo mundo pode ser jornalista".
Questionado se esse projeto pode "salvar" o jornalismo, Simon Systrom diz que esse não é o seu papel. E diz que num contexto de uso intenso de IA, a investigação jornalística é algo que não pode ser substituída pela máquina. "A máquina pode ajudar a publicar mais rápido, transcrever, buscar informação extra", diz, mas o trabalho de investigação é algo que pode sim salvar o jornalismo.
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