Patrimônio de Cunha aumentou 214%, aponta PGR

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Patrimônio de Cunha aumentou 214%, aponta PGR

Ana Maria Miranda
Publicado em 16/10/2015 às 12:25
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Cunha tem atualmente patrimônio declarado de R$ 1,6 milhão / Foto: Agência Brasil

Cunha tem atualmente patrimônio declarado de R$ 1,6 milhão Foto: Agência Brasil

Os documentos apresentados pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para abertura de uma de suas contas na Suíça levaram o banco Julius Baer a estimar seu patrimônio em mais de 37 vezes o que ele declarou à Justiça Eleitoral. Segundo as informações enviadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao fazer a análise de risco do cliente o banco estimou o patrimônio dele em US$ 16 milhões (R$ 61,3 milhões). Para a Justiça Eleitoral, Cunha declarou ter patrimônio de R$ 1,6 milhão. A informação consta do pedido de abertura de novo inquérito contra o presidente da Câmara pela abertura de contas na Suíça.

“A análise de risco e perfil do cliente demonstram que Eduardo Cunha já mantinha conta junto ao banco Merril Lynch nos EUA há mais de 20 anos de perfil agressivo e com interesse em crescimento patrimonial. Sua fortuna seria oriunda de aplicações no mercado financeiro local e do investimento no mercado imobiliário carioca. Há também referências à sua antiga função de Presidente da Telerj. Seu patrimônio estimado, à época da abertura da conta, era de aproximadamente US$ 16 milhões”, diz trecho da peça entregue pela PGR.

O patrimônio declarado do presidente da Câmara cresceu 214% entre 2002 e 2014 de acordo com os dados da Justiça Eleitoral, passando de R$ 525 mil para R$ 1,6 milhão. A PGR observa, porém, que com base em dados sobre registros de carros é possível observar que duas empresas de Cunha e sua mulher Cláudia Cruz, a Jesus.com e a C3 Participações, possui veículos registrados que totalizam R$ 815 mil, entre eles um Porsche de R$ 429 mil.

"Em relação à titularidade das contas objeto da transferência de processo por parte da Suíça, o procurador-geral em exercício explica que não há a menor dúvida de sua vinculação com Eduardo Cunha e Cláudia Cruz. Para ele, os elementos neste sentido são abundantes e evidentes. "Há cópias de passaportes - inclusive diplomáticos - do casal, endereço residencial, números de telefones do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto", diz nota divulgada pela Procuradoria-Geral da República nesta sexta-feira.

O pedido de abertura de inquérito relata o caminho do dinheiro pelas contas de Cunha na Suíça. O ponto de partida é um contrato da Petrobras para a compra do direito de exploração de um campo de petróleo no Benin. No mesmo mês em que foi feito um pagamento pela estatal uma conta do presidente da Câmara começa a receber repasses do lobista João Augusto Rezende Henriques que totalizam 1,3 milhões de francos-suíços.

ENCONTRO COM JORGE ZELADA - A PGR relata que um e-mail de uma secretária do ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Zelada indicaria uma reunião dele com Cunha no período em que ocorriam as tratativas do negócio no Benin. O e-mail pede autorização para que Cunha e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), entrem pela garagem e se dirijam até o heliporto, onde embarcariam em um helicóptero”.

"Prezados Senhores, De ordem do Diretor Jorge Luiz Zelada, solicito providenciar para este Domingo 12/09/2010, autorização para entrada na garagem do EDISE do carro trazendo os Senhores Eduardo Paes - Prefeito do Rio de Janeiro e Eduardo Cunha - Deputado PMDB/RJ. Ainda não possuo detalhes deste carro que serão informados oportunamente. Eles deverão ter acesso através da garagem até o heliponto, onde serão recolhidos pelo Helicóptero Mod S76C++ - Prefixo PRYMH, no horário entre 10:45 e 11:00 da manhã, para embarque imediato. Comandantes da Aeronave: Antonio Ramos Anac - 383455 e Álvaro Castanheira Jr. - Anac 649707. Contatos da Assessora do Deputado Eduardo Cunha, onde poderão ser obtido maiores detalhes, caso necessário. Sra. Liliane (61) 3215 3510 e (61) 8138 2503 Sds, Elizabeth Taylor Secretária do Diretor Diretoria Internacional PETROBRAS”, diz o e-mail.

A PGR pede a investigação da mulher de Cunha por ela ser titular de uma das contas na Suíça, abastecida com recursos do esquema. A filha Danielle será investigada por possuir um cartão de crédito vinculado a essa conta e efetuar gastos no período.

Na decisão em que autorizou a abertura de novo inquérito contra Eduardo Cunha, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), recomendou que o Ministério Público e a Policia Federal trabalhem em harmonia. Em episódios recentes, as duas instituições divergiram sobre a estratégia de condução das investigações da Lava-Jato. O despacho do ministro foi escrito ontem, mas só foi divulgado nesta sexta-feira.

“Registra-se ser do mais elevado interesse público e da boa prestação da justiça que a atuação conjunta do Ministério Público e das autoridades policiais se desenvolva de forma harmoniosa, sob métodos, rotinas de trabalho e práticas investigativas adequadas, a serem por eles mesmos definidos, observados os padrões legais, e que visem, acima de qualquer outro objetivo, à busca da verdade a respeito dos fatos investigados, pelo modo mais eficiente e seguro e em tempo mais breve possível”, escreveu o ministro.

MULHER E FILHA NA MIRA - Além de Cunha, também serão investigadas no mesmo inquérito a mulher dele, Cláudia Cordeiro Cruz, e a filha Danielle Dytz da Cunha Doctorovitch. Na decisão em que autoriza o início das investigações, Zavascki explicou que, quando o Ministério Público Federal pede a abertura de um inquérito, cabe ao STF cumprir a determinação, a não ser que haja algum tipo de irregularidade no pedido. Como isso não foi verificado, o ministro instaurou o inquérito.

Ao fim do despacho, Zavascki determinou que os autos voltassem ao Ministério Público, para que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, especificasse quais providências serão necessárias no momento. O procurador-geral poderá pedir a tomada de depoimentos ou, ainda, a quebra de dados sigilosos dos investigados. Na decisão, o ministro não deu detalhes sobre os indícios que existem contra os suspeitos.

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