Instabilidade econômica

Impeachment é 'perigosa subversão', diz Jaques Wagner ao assumir a Casa Civil

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 07/10/2015 às 19:58
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Wagner disse haver uma "distorção" por parte de adversários que apostam na disputa política fora de hora / Foto: Agência Brasil

Wagner disse haver uma "distorção" por parte de adversários que apostam na disputa política fora de hora Foto: Agência Brasil

O novo ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, afirmou nesta quarta-feira (7) que a ameaça de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff é uma "perigosa subversão", que pode trazer instabilidade ao País e até pôr em risco a democracia. Sob o argumento de que impeachment é uma "ferramenta de exceção", e não de normalidade, Wagner disse haver uma "distorção" por parte de adversários que apostam na disputa política fora de hora para chegar ao poder.

"Estamos há quase um ano falando o tempo todo que 'precisamos construir o impeachment'. Ora, ninguém constrói impeachment. Isso é uma perigosa subversão, que pode trazer instabilidade", insistiu o ministro da Casa Civil, logo após receber o cargo de Aloizio Mercadante, deslocado para o Ministério da Educação. "Se formos nessa toada, toda vez que houver um governo com taxa de popularidade baixa, ou com dificuldade na sua maioria congressual, então a oposição vai achar que tem uma oportunidade "

Wagner fez as declarações antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitar o pedido de suspensão do julgamento do Tribunal de Contas da União (TCU). Na terça-feira, o governo entrou com mandado de segurança no Supremo para tentar segurar a sessão do TCU, que avaliará as contas de 2014 de Dilma. Foi mais uma tentativa de ganhar tempo, uma vez que o Palácio do Planalto dá como certa a derrota de Dilma no TCU. Antes, o governo também pediu ao próprio Tribunal de Contas o afastamento do relator do processo, Augusto Nardes, que antecipou seu voto pela rejeição das contas.

"Agora, mesmo que haja rejeição das contas, isso não é sustentação para pedido de processo de impeachment", avaliou o chefe da Casa Civil. "O ex-presidente do Supremo Ayres Brito já deu declarações muito contundentes sobre isso e creio que qualquer pessoa que queira respeitar o texto constitucional sabe que o julgamento das contas, por ser de mandato anterior, não tem conexão com o mandato atual."

Ao observar que a oposição "erra" ao "banalizar" mecanismos como impeachment e comissões parlamentares de inquérito, Wagner lembrou que, em 1992, as denúncias contra o então presidente Fernando Collor (PTB-AL), hoje senador, se encaixavam em "crime de responsabilidade". Collor acabou renunciando, mas, mesmo assim, sofreu impeachment no Congresso.

"Sou um democrata convicto, confesso e praticante. Portanto, eu acho um risco muito grande falar em impeachment, principalmente quando estamos comemorando 30 anos de democracia ininterrupta", observou Wagner. "Respeito quem prega isso, mas evidentemente discordo, porque é um péssimo uso de uma ferramenta de exceção, não de normalidade."

TESTE FRUSTRADO - Momentos antes da nova derrota do Planalto, que pelo segundo dia consecutivo não conseguiu quórum no Congresso para apreciar os vetos de Dilma a projetos da "pauta-bomba", com grande impacto nas contas públicas -, Wagner disse que aquela votação seria o primeiro teste de reaglutinação da base aliada. Na sexta-feira, Dilma entregou sete ministérios ao PMDB, na tentativa de barrar o impeachment e aprovar o pacote fiscal.

Questionado se apoiava o ajuste do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Wagner afirmou que as mudanças não eram apenas propostas da equipe econômica. "O ajuste é do governo, não é do ministro Levy", destacou.

O ministro argumentou, porém, que o governo não pode ficar só com a agenda do ajuste. "Já está absorvido pela sociedade que é preciso fazer esse processo de ajuste e começar logo as políticas de desenvolvimento", comentou ele.

Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também de Dilma, Wagner tratou de desfazer o carimbo de "superpoderoso", conferido a todos os outros petistas que comandaram a Casa Civil, desde 2003.

"Não pretendo ser superministro e não acredito em salvadores da Pátria. Não chego aqui como super isso, super aquilo, nem chego para espalhar. Tenho a humildade de quem sabe do tamanho do desafio e vou tentar juntar todo mundo", prometeu o ministro.

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