DIFUSÃO - 13/02/2003

Assis Chateaubriand, Um Paraibano nas Comunicações - Parte 2

Publicado em 13/02/2003 às 17:29
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DIFUSÃO
Assis Chateaubriand, Um Paraibano nas Comunicações - Parte 2

Para começar a televisão no Brasil, Chateaubriand importou duzentos aparelhos de TV e os espalhou pela cidade. Fez sucesso, mas o dilema era manter uma programação diária. As pessoas envolvidas no projeto trabalharam durante semanas para a inauguração e agora tinham apenas um dia para a preparação da programação do dia seguinte. O roteiro inicial foi de Demerval Costa Lima, que se tornaria o primeiro diretor de roteiro da TV Tupi.

Algumas horas antes da primeira transmissão, uma das duas câmeras quebrou e o engenheiro americano, Walter Obermiller, responsável pela implantação técnica achou melhor adiar a estréia, mas o diretor artístico, Cassiano Gabus Mendes, então com 23 anos, decidiu ir ao ar assim mesmo. Tudo o que fora ensaiado com duas câmeras, teria que ser feita com uma só. E o improviso virou a marca registrada da TV Tupi.

Precisamente, às 17h, Homero Silva convidava Lolita Rodrigues a cantar O Hino da TV ou Canção da TV; composto especialmente por Marcelo Tupinambá, com letra de Guilherme de Almeida. A transmissão era das 18h às 23h e os profissionais vieram do rádio, jornal e teatro. Juntos buscavam descobrir e desenvolver a nova linguagem que a televisão exigia.

O primeiro programa transmitido foi TV na Taba", apresentado por Homero Silva. Participaram também: Lima Duarte, Hebe Camargo, Mazzaropi, Ciccilo, balé de Lia Aguiar, Vadeco, Ivon Cury, Wilma Bentivegna, Aurélio Campos, o jogador Baltazar, a orquestra de George Henri, declamação da poetisa Rosalina Coelho Lisboa. A jovem atriz Yara Lins fez a locução do
prefixo da emissora.

O primeiro telejornal foi "Imagens do Dia"", apresentado pelo radialista Ribeiro Filho, com texto e reportagem de Rui Rezende. Não tinha horário fixo, podendo entrar no ar às 9h30 ou às 10h. Tudo dependia da sorte, da programação ou de eventuais problemas de operação. As reportagens eram feitas com câmeras Auricons de cinema com filme 16 milímetros.

Dependendo da região do País onde estavam, podia ser necessário revelar o filme e levá-lo de avião até São Paulo ou Rio, onde ficavam os estúdios. Chegavam geralmente em cima da hora, quando chegavam. Rui Rezende, além de apresentar, produzia e redigia as matérias. Os cinegrafistas eram: Jorge Kurkjian, Paulo Salomão e Alfonsas Zibas que utilizavam o laboratório
caseiro na residência de Kurkjian, para revelar os filmes antes de enviá-los para a TV.

Apesar de não se produzir aparelhos de TV, não haver público e o mercado publicitário ainda ser jovem, Chateaubriand vendeu um ano de espaço publicitário de televisão para as empresas: Sul América Seguros, Antarctica, Moinho Santista e empresas Pignatari (Prata Wolf). A capacidade de convencer já era a marca registrada de Chateaubriand.

A Rede Tupi continua sua expansão e em 8 de setembro de 1955 é inaugurada a TV de Belo Horizonte, pertencente aos Diários Associados. Em 1956 Assis Chateaubriand inaugura mais nove estações de sua Rede: Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Campina Grande, Fortaleza, São Luís, Belém e Goiânia. A Rede Tupi dominava o País, alavancada pelo surto desenvolvimentista da Era Juscelino Kubstchek.

As leis de diversos países, na época, previam salvaguardas para impedir que estrangeiros tivessem o controle de emissoras de rádio e televisão. A legislação brasileira previa tais impedimentos, o que gerou muita polêmica no Congresso em relação ao acordo da Globo com o grupo Time-Life dos Estados Unidos, em meados da década de 1960.

Assis Chateaubriand e João Calmon se tornaram paladinos da justiça contra Roberto Marinho, para defender o monopólio dos Diários e Emissoras
Associados. Como a história registra, a Rede Globo assumiu a liderança e a Rede Tupi desapareceu ainda no regime militar.

Assis Chateaubriand, o homem que inaugurou a televisão para o Brasil, morreu em 4 de Abril de 1968, aos 75 anos, depois de passar vários anos em uma cadeira de rodas, com os movimentos restritos por um derrame cerebral, mas sempre ativo como cronista ferino e passional.

 

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