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Autoridades pedem que se evite pânico sobre o zika em Miami

Ingrid
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Publicado em 04/08/2016 às 16:12
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O condado de Miami-Dade fumigou a área afetada de Wynwood, de casa em casa e pelo ar e também entrega repelentes aos visitantes / Foto: Joe Raedle / Getty / AFP

O condado de Miami-Dade fumigou a área afetada de Wynwood, de casa em casa e pelo ar e também entrega repelentes aos visitantes Foto: Joe Raedle / Getty / AFP

A mensagem oficial após a detecção de um surto de zika em Miami é que tudo está sob controle. Mas é difícil não se inquietar quando algumas lojas param de funcionar, os restaurantes colocam repelentes nas mesas e as autoridades pedem calma.

O epicentro dos primeiros casos de zika transmitidos localmente por mosquitos nos Estados Unidos continental é uma área de 2,5 Km2 no bairro de Wynwood, norte de Miami, que concentra parte da cena artística e gastronômica da cidade, e onde 15 pessoas foram infectadas pelo vírus.

A guia turística Grace Della, fundadora do negócio Miami Culinary Tours, decidiu suspender os seus passeios gastronômicos para garantir a segurança dos seus empregados e clientes.

"Mais de 90 pessoas remarcaram os tours. Então você pode imaginar a mesma situação para outros negócios, e o grande impacto que isso terá", disse Della à AFP.

Na segunda-feira, as autoridades de saúde americanas emitiram um alerta de viagem para a parte de afetada de Wynwood, recomendando às mulheres grávidas que não visitem o local.

Na maioria dos casos, o vírus causa apenas sintomas brandos, mas pode provocar, além de transtornos neurológicos em pessoas infectadas, malformações congênitas graves, como a microcefalia, que se caracteriza por um desenvolvimento insuficiente do cérebro, em fetos de mulheres que contraíram o vírus durante a gravidez.

O inédito alerta de viagens também levou o centro cultural Wynwood Yard, com espaços para shows, restaurantes e atividades ao ar livre, a fechar suas portas.

Mas outros comerciantes, que trabalham em lugares fechados com o ar condicionado ligado - o que afasta os mosquitos -, dizem que estes dois são casos isolados.

"Esses são tipos diferentes de negócios, que operam ao ar livre", disse Joaquin Cintron, gerente da barbearia Razzle Dazzle. "Além disso, as pessoas estão reagindo positivamente", acrescentou.

A loja de Cintron - com tapeçarias, sofás vintage e um piso de ladrilho quadriculado - é um cartão postal de Wynwood: um bairro que passou por um processo de 'aburguesamento', atraindo hipsters e Millenials que circulam ao lado de pessoas de baixa renda entre ruas degradadas e galerias de arte.

Por isso, Wynwood faz parte da rota turística da cidade. Mas é muito cedo para dizer se o surto de zika vai provocar uma diminuição no número de visitantes, prejudicando o setor.

As autoridades de Miami estão fazendo o possível para evitar que nem o pânico nem o zika se espalhem. "Contanto que todo mundo tome as precauções adequadas, não há motivo para ter medo de que vamos ter um impacto econômico" negativo, disse Ken Russell, membro do conselho municipal de Miami, de um distrito que contém parte da zona afetada pelo zika.


Tudo sob controle

O dano pode ser causado principalmente pelos meios de comunicação, segundo Carolin Lusby, professora de hotelaria e turismo na Universidade Internacional da Flórida.

Citando como exemplos o efeito que epidemias como o ebola e a gripe suína tiveram para o turismo, Lusby disse à AFP que "a propaganda negativa tem um impacto econômico negativo", ressaltando, porém, que as coisas eventualmente voltam ao normal.

"A notícia se espalhou e as pessoas estão mudando seus planos de viagem, devido ao efeito generalizador que isso pode ter em toda a Flórida e o sul dos Estados Unidos", disse Lusby, lembrando que a Organização Mundial da Saúde não emitiu nenhum tipo de restrição para Miami.

"Já temos relatos de que alguns pequenos negócios fecharam. Isso nos lembra que o zika não é só uma emergência de saúde pública, mas também econômica. Estamos muito preocupados com o impacto que isso pode ter no turismo da Flórida", disse o senador Marco Rubio na quarta-feira a jornalistas.

As autoridades locais insistem em que a Flórida continua sendo um estado "seguro e aberto aos negócios", como disse o governador Rick Scott em um comunicado na segunda-feira.

O condado de Miami-Dade fumigou a área afetada de Wynwood, de casa em casa e pelo ar. Também entrega repelentes aos visitantes e tem uma página na internet onde as pessoas podem reportar focos de água parada, onde o mosquito Aedes aegypti, o principal vetor da zika, se reproduz.

Para reforçar a mensagem de que tudo está sob controle, o prefeito de Miami, Tomas Regalado, disse que acredita que agora "Wynwood é o lugar mais seguro do sul da Flórida porque foi fumigado", segundo uma publicação do Miami Herald.

No entanto, uma jornalista da AFP observou que os mosquitos ainda estão picando ferozmente na zona. A Flórida já recebeu 30 milhões de turistas em 2016, segundo Scott, que espera atingir o recorde de 110 milhões de visitantes neste ano.

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