Papa adverte jovens da Polônia que crueldade não acabou em Auschwitz

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Papa adverte jovens da Polônia que crueldade não acabou em Auschwitz

Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 29/07/2016 às 20:00
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Sentado em um banco, ficou em silêncio e com os olhos fechados por quase dez minutos / Foto: AFP

Sentado em um banco, ficou em silêncio e com os olhos fechados por quase dez minutos Foto: AFP

O papa advertiu na quinta-feira (28) os jovens de todo mundo que a crueldade não acabou em Aushwitz, que segue torturando no mundo, pouco depois de sua histórica visita ao campo de concentração nazista na Polônia, que percorreu sem pronunciar uma palavra.

"Não quero deixá-los tristes, mas tenho que dizer a verdade. A crueldade não cessou em Auschwitz e Bikernau", confessou o pontífice entristecido ao aproximar-se da janela do Palácio Episcopal de Cracóvia para saudar grupos de jovens de diferentes nacionalidades que assistiam à Jornada Mundial da Juventude.

"Hoje se tortura, muitos são torturados para que falem. É terrível. Muitos homens e mulheres vivem como animais em prisões superpopulosas. Essa é a crueldade de hoje", explicou ao resumir seus sentimentos após um longo dia marcado por sua primeira visita ao local onde mais de um milhão de pessoas foram exterminadas, em sua imensa maioria judeus.

Francisco, que rendeu uma comovente homenagem às vítimas do nazismo com seu silêncio durante todo o tempo que esteve no campo de extermínio, sem deixar de recordar, horas depois, todos os perseguidos que "sofrem hoje em dia tanta maldade".

"Fui a Auschwitz e a Birkenau para relembrar o que ocorreu há 70 anos. Quanta dor! Quanta crueldade! Como é possível que nós, homens, criados à semelhança de Deus, sejamos capazes de fazer o que foi feito!" nesse campo, lamentou o papa em suas declarações.

Um sentimento que já havia resumido em uma nota escrita a próprio punho no livro de honra do museu de Auschwitz: "Senhor, tem piedade do seu povo. Senhor, perdão por tanta crueldade".

Reunião com os sobreviventes

Comovido, triste e em silêncio, Francisco cruzou a, infelizmente, célebre porta do campo de Auschwitz a pé, na qual está escrito, em alemão, 'Arbeit macht frei' (O trabalho liberta), com a qual os nazista recebiam os deportados.

No fim do singular percurso, de quase duas horas, se reuniu com dez sobreviventes deste campo de concentração.

Sentado em um banco, ficou em silêncio e com os olhos fechados por quase dez minutos, um dos momentos mais emocionantes de sua visita à Polônia.

Francisco entrou em um carro elétrico e foi até o chamado Muro da Morte, onde os nazistas executaram milhares de prisioneiros com um tiro na cabeça.

O papa, que vem do país da América Latina com a comunidade judaica mais numerosa, trocou umas palavras com cada um dos sobreviventes, e acendeu uma vela diante do muro, que tocou com as mãos.

Um gesto simbólico seguido de uma oração na cela subterrânea onde morreu o santo polonês Maximiliano Kolbe, franciscano como ele, que deu sua vida para salvar um pai de família.

O pontífice latino-americano visitou o campo de concentração de Birkenau-Auschwitz II, onde morreram a maior parte das vítimas em quatro fornos crematórios e onde estavam localizadas as mulheres.

Gesto do papa com os sobreviventes

O pontífice transitou também ao longo dos trilhos construídos pelos nazistas para permitir que os trens cheios de deportados chegassem diretamente às câmaras de gás e aos crematórios.

"Estou muito emocionada. É o primeiro papa que fala conosco, que veio por nós", comentou à AFP Janina Iwanska, de 86 anos, levada a este campo em agosto de 1944 após a insurreição de Varsóvia.

Alguns dos assistentes levavam lenços com listras em alusão às roupas que os prisioneiros tinham que vestir.

Francisco é o terceiro pontífice que visita Auschwitz depois do polonês João Paulo II, em 1979, e do alemão Bento XVI, em 2006.

Gesto pelos excluídos

Ao término do dia, dirigindo-se aos jovens do mundo inteiro, depois de assistir a uma original e moderna Via Sacra no parque de B?onia, no centro de Cracóvia, o papa clamou pelos "excluídos" de todo o mundo: pobres, doentes, presos, desempregados, perseguidos, refugiados e imigrantes.

"Onde está Deus se no mundo existe o mal, se há pessoas passando fome, que não têm um lar, que fogem, que buscam refúgio?", questionou-se diante de uma multidão heterogênea, de todas as nacionalidades, reunida na esplanada.

"Hoje a humanidade necessita de homens e mulheres, e em especial de jovens como vocês, que não querem viver suas vidas médias", disse o pontífice.

No sábado (30) visitará o santuário da Divina Misericórdia dedicado a João Paulo II e assistirá à vigília de oração no Campo da Misericórdia, no entorno da cidade, onde mais de meio milhão de jovens passará toda a noite de sábado acampado para compartilhar e refletir sob as estrelas a respeito "da fé e da fraternidade".

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