Iranianos começam a observar sinais de mudança depois do acordo nuclear


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Iranianos começam a observar sinais de mudança depois do acordo nuclear

Ana Maria Miranda
Publicado em 05/11/2015 às 9:39


Logo depois de sair do aeroporto Imam Khomeini, em Teerã, as luzes de uma rede de hotéis francesa recebem o viajante. O que poderia passar despercebido em qualquer outra cidade, aqui é um sinal das mudanças desencadeadas pela assinatura do acordo nuclear com outras seis potências globais no ano passado. O país não tinha empresas de hotelaria estrangeiras há 36 anos, desde que os americanos partiram, após a tomada da embaixada. Ainda que as sanções levem vários meses para se oficializarem, os iranianos já podem notar sinais da abertura.

— Tenho muitas esperanças — declara Roya Saadat, recém contratada por uma consultora que prepara terreno para marcas estrangeiras. — Fizemos estudos preliminares para campanhas britânicas e internacionais — resume, sem dar mais detalhes.

A confiança na perspectiva de melhoras a incentivaram a deixar seu emprego em um banco (mais burocrático, porém seguro) em que se refugiou quando os protestos pós-eleitorais de 2009 atravessaram seu caminho como intérprete.

Pouco a pouco, se começa a notar um movimento no mercado de trabalho. Consultores estabelecidos recebem solicitações de empresas que necessitam de assistência local e precisam ampliar seus modelos. Outras companhias buscam representantes iranianos ou, como no caso da Nokia, 200 engenheiros. Dezenas de jovens especializados em informática estão encontrando emprego em importantes portais internacionais que ganham versões em persa para se lançarem quando as sanções forem suspensas. Os salários que oferecem são mais altos que a média iraniana — até US$ 3 mil, em alguns casos.

Os preparativos são levados com discrição porque as permissões ainda não são oficiais e há sensibilidades locais. Os setores mais conservadores do regime advertem quase diariamente contra a invasão cultural do Ocidente e, em particular, dos EUA. De fato, algumas dessas plataformas estão em busca de nomes alternativos para evitar a identificação automática com as multinacionais. A TV iraniana transmitiu recentemente uma reportagem em que criticava a Amazon por promover certos livros de acordo com seus interesses. Até o momento, a compra nesse site e em outros similares só pode ser feita a partir de intermediações, devido principalmente à restrição das transferências de dinheiro.

— As empresas estão se preparando para se unir ao mercado global — confirma Fatemeh Moghimi, proprietária de Sadid Bar, companhia de transporte internacional.

Fatemeh começou adaptando suas duas centenas de caminhões aos padrões europeus, na esperança de que receba encomendas.

As expectativas são enormes tanto para iranianos quanto para estrangeiros. O problema é que essa etapa transitória, com capacidade para transformar o Irã e seu papel no mundo, coincide com uma situação econômica terrível, devido aos baixos preços do petróleo.

— Nada está produzindo dinheiro neste momento e nossa indústria necessita de investimentos milionários, algo que, mesmo que as sanções sejam suspensas amanhã, não vai chegar em menos de um ano — esclarece um empresário convencido de que o “grande capital” não vai se mover antes das eleições americanas de 2016.

— O Irã não é só petróleo — pontua José María Viñals, sócio do escritório de advogados espanhol Lupicinio, presente no país desde os “anos de chumbo”, trabalhando na pasta de sanções e representando pessoas e entidades iranianas no Tribunal de Luxemburgo, e cita seus 80 milhões de habitantes. — Por um lado, conta com uma importante classe média alta que é um grande atrativo para o mercado de serviços. Por outro, oferece infraestrutura e recursos humanos com nível de educação elevado. Se tem o que fazer e se abre para o mundo, serão muitas oportunidades, porque está tudo por fazer.

Esse “tudo” se refere às envelhecidas instalações petrolíferas, mas também, como aponta o economista e consultor Jamshid Edalatian, “às infraestruturas de transporte, os portos, a rede ferroviária, as estradas”. Além disso, o especialista reitera a necessidade de outras mudanças, como “simplificar as normas aduaneiras, acelerar o processo de privatização ou garantir a paz na região para poder exportar aos países vizinhos”.

A tarefa parece hercúlea e não se sabe até que ponto as autoridades iranianas estão dispostas a chegar. Por ora, anunciaram 25 parceiros comerciais a serem despachados a suas embaixadas no exterior e não passa um dia sem que se anuncie a visita de alguma delegação comercial estrangeira.

— Claro que não esperamos uma mudança radical na situação econômica nos próximos meses, mas se a implementação do acordo coincidir com uma vitória dos reformistas nas eleições legislativas (em fevereiro), as possibilidades aumentam — concluiu Saadat.

Seu novo trabalho, como o de muitos iranianos, depende disso.
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