Tetracromatismo: as mulheres que enxergam cores 'invisíveis'

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Tetracromatismo: as mulheres que enxergam cores 'invisíveis'

Amanda Duarte
Publicado em 02/11/2014 às 14:06
https://imagens4.ne10.uol.com.br/ne10/imagem/noticia/2014/11/02/normal/272a488fb678bd2f37e8bf7d30c34465.jpg Foto: JC


Condição especial fez Antico se destacar no mundo das artesFoto: BBC

Há 20 anos, os cientistas Gabriele Jordan, da Universidade de Newcastle, e John Mollon, de Cambridge, levantaram a hipótese de humanos poderem fazer isso.

A hipótese é baseada no fato de o cromossomo X carregar dois tipos de cones - que percebem o vermelho e o verde. Como as mulheres possuem dois cromossomos X, elas poderiam, em tese, carregar quatro cones diferentes, cada um sensível a um espectro de cores diferentes. Essa hipótese dos quatro cones que deu origem ao termo "tetracromatismo".

Em tese, ela só se aplica a mulheres, já que os homens não possuem dois cromossomos X.

'Ir no supermercado é um pesadelo'

Provar essa hipótese dos cientistas foi uma jornada longa de duas décadas. Jordan e Mollon passaram anos administrando um teste de cores em vários voluntários. As cores apresentadas tinham diferenças tão sutis que apenas uma pessoa com quatro cones poderia percebê-las.

Em 2010, eles finalmente acharam uma pessoa capaz de fazer isso. A identidade dessa pessoa foi preservada, mas a pesquisa publicada fez com que vários outras pessoas com tetracromatismo se voluntariassem para outros estudos.

Uma delas é Maureen Seaberg, uma jornalista americana que passou anos reclamando das roupas que as pessoas usavam. Ela achava que muitas pessoas não sabiam combinar bem uma saia com uma blusa, por exemplo. Ao reformar sua casa, ela rejeitou 32 tipos de tintas diferentes até achar a ideal.

"O bege era amarelado demais, e não tinha tons azuis o suficiente; o amêndoa era alaranjado demais", conta ela. Esse tipo de descrição só confundia os seus decoradores e arquitetos.

Antico conta que sempre soube que tinha uma visão especial e diferente da dos demais. Justamente sua sensibilidade aguçada a levou ao mundo das artes. Hoje ela é dona de uma galeria em San Diego, na Califórnia.

Suas pinturas são vibrantes em cores. Um eucalipto comum vira uma erupção de violetas, amarelos e verdes. Se os quadros realmente são uma representação de como ela vê o mundo, o resultado mostra que sua percepção é radicalmente diferente da maioria das pessoas.

Foi um cliente da galeria que sugeriu que ela fosse trabalhar com a cientista Kimberly Jameson, da Universidade da Califórnia. Jameson imediatamente suspeitou que a resposta estava nos genes.

O ganho em sensibilidade - apesar de parecer ser uma habilidade extra - pode também ser uma maldição.

"Ir ao supermercado é um pesadelo. É como uma lata de lixo de cores pulando de tudo que é lado", conta. Por isso, sua cor preferida é o branco.

"As pessoas acham incrível que minha cor favorita seja o branco, mas isso faz sentido porque ela é pacífica e agradável aos olhos. Ainda tem bastante cor presente ali, mas elas não me agridem."

Antico e Jameson querem criar um sistema de treinamento com crianças com tetracromatismo, para que elas aprendam a usar melhor seu potencial raro.

Como professora de arte, Antico tem uma ambição ainda maior: a de mostrar aos demais como ela enxerga o mundo. Sem o gene extra, é impossível que as pessoas consigam as cores que ela enxerga. Mas ela trabalha descrevendo os diferentes tons a quem não consegue enxergá-los.

Isso se tornou ainda mais importante depois do nascimento de sua filha. A artista americana que possui um dom raro não conseguiu passar esses genes a sua filha. E curiosamente o oposto aconteceu: a filha nasceu com daltonismo.

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