Assembléia

Xucurus se reúnem para denunciar e lutar por desenvolvimento

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Publicado em 16/05/2008 às 21:13
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Cleide Alves
Do JC

No dia 20 de maio de 1998, o cacique Francisco de Assis Araújo (Xicão), líder político dos índios xucurus de Pesqueira, município do Agreste pernambucano, foi assassinado a mando de fazendeiros da região. Xicão lutava pela demarcação das terras indígenas. Com a morte dele, esperavam calar a voz dos índios, habitantes da Serra do Ororubá. Não foi o que aconteceu. Dez anos depois, o povo xucuru se destaca pela organização social. Como uma mostra desta organização, deste sábado até a próxima terça-feira (20), a comunidade indígena se reúne na Aldeia Pedra D’Água para denunciar injustiças e perseguições, além de lutar pelo desenvolvimento sustentável da região.

A 8ª Assembléia do Povo Indígena Xucuru assinala os dez anos do assassinato do cacique e abre para o debate a política indigenista brasileira. Moradores das 23 aldeias xucurus participam do evento, que tem como tema "10 anos sem Xicão e a perseguição continua". "Crianças, jovens e idosos estarão nos debates. Este é o nosso espaço democrático de discussões", afirma Aguinaldo Xukuru, um dos líderes da comunidade. Quase dois mil índios da etnia estarão presentes.

Este ano, pela primeira vez os organizadores do encontro convidaram representantes dos poderes públicos. Com isso, pretendem ampliar o debate, principalmente em relação ao projeto de lei do Estatuto dos Povos Indígenas e à criação do Conselho Nacional de Política Indigenista. A primeira assembléia anual dos xucurus, diz Aguinaldo, foi realizada em 2000. A data sempre coincide com o aniversário de morte do cacique Xicão.

Líderes indígenas de Pernambuco e de outras regiões do País, solidários aos xucurus, também participam da assembléia na aldeia Pedra D’Água, área de mata que abriga a Pedra do Rei do Ororubá. O local, onde fica o terreiro sagrado da etnia, é emblemático para a comunidade. Em Pedra D’Água, aconteceu a primeira retomada das terras xucurus, no ano de 1986. E lá os índios "plantaram" o cacique Xicão em 1998.

LEITE - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que confirmou presença, vai assinar contrato para repasse de quatro resfriadores ao povo Xucuru de Ororubá. Com as máquinas, os índios poderão armazenar o leite de gado produzido no território demarcado. E já pensam em projetos de beneficiamento do produto, para fabricação de queijo e outros derivados.

"Hoje, sem os resfriadores, somos obrigados a vender o leite de imediato. Toda a produção é vendida a atravessadores, por preços baixos", diz Aguinaldo. "Agora, poderemos nos organizar para fornecer o leite diretamente a empresas e até mesmo ao programa Leite de Pernambuco, do Governo do Estado", destaca.

A programação da assembléia prevê rituais religiosos, apresentação do toré (dança das comunidades indígenas), mostra de vídeos produzidos por jovens xucurus e teatro. No último dia, terça, haverá ato religioso na aldeia Pedra D’Água pela manhã. No período da tarde, os índios saem em caminhada até o bairro Xucurus, na cidade de Pesqueira, onde Xicão foi assassinado. O governador Eduardo Campos e o prefeito do Recife, João Paulo, participam do ato público.

Nos dez quilômetros do percurso, o grupo vai dançar o toré, divulgar as conquistas da população indígena, que ultrapassa dez mil pessoas, e denunciar as perseguições. "No ponto final, haverá uma avaliação da assembléia e será lida a carta que vamos escrever durante os três dias de debates, com nossas reivindicações", diz Aguinaldo. A carta é encaminhada a representantes da Justiça, dos governos federal e estadual, além de outras autoridades.

A organização sócio-política do povo xukuru recebeu em 2005 o Prêmio Gestão Pública e Cidadania da da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP). Foi uma das cinco iniciativas selecionadas entre 1191 inscrições de todas as regiões do Brasil. A assembléia anual dos xucurus conta com apoio da organização não-governamental Centro de Cultura Luiz Freire.

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