Tradição

Maracatu está na moda em Pernambuco

Publicado em 27/01/2007 às 18:54
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Margarida Azevedo
Do Jornal do Commercio

A classe média foi seduzida pelo maracatu. O contagiante som de alfaias, agbês, agogôs, caixa e outros instrumentos de percussão faz parte hoje do cotidiano de gente que, poucas décadas atrás, jamais imaginaria estar tocando nestes grupos. Um giro, nos fins de semana, pelas ruas do Bairro do Recife, na capital pernambucana, ou pelas ladeiras do Sítio Histórico de Olinda, revela o crescente interesse pela tradição africana. A discriminação foi esquecida. E com a proximidade do Carnaval, a realidade fica mais evidente. Crianças, adolescentes e adultos, pernambucanos ou não, daqui ou de fora do País, anônimos ou famosos, todos se rendem ao ritmo dos tambores.

“Quem vê um grupo se apresentando na rua tem vontade de participar. A procura aumenta quando está perto do Carnaval. Temos alunos de 5 a 74 anos de idade. A maioria é classe média”, conta André Leite, do Congo Bloco Batebum, grupo do Maracatu Nação Pernambuco que ensaia nos domingos à tarde, em frente à Prefeitura de Olinda.


O médico Clézio Leitão foi um dos que aderiram à percussão há pouco mais de dois meses. “Sempre tive vontade de tocar algum instrumento. Levo a vida com leveza, agora mais ainda depois da percussão. Também tem me ajudado a entender melhor a cultura do meu povo”, assegura.


Em um casarão da Rua da Moeda, no Bairro do Recife, 40 alunos seguem atentos o comando do músico Jorge Martins, há uma década responsável pelo Grupo Corpos Percussivos. Enquanto tocam, o som dos instrumentos ecoa do lado de fora, chamando a atenção de quem passa pela rua. É comum turistas pedirem para assistir às aulas. “Não diria que o maracatu ou a percussão é moda. As pessoas estão descobrindo suas culturas. É um fenômeno mundial e aqui não é diferente”, destaca.


Primeiro foi a amiga da namorada. Depois, a namorada Bruna. O professor Carlos Sivini, então, se convenceu e comprou uma alfaia. Desde novembro, as tardes domingueiras são ocupadas com o instrumento. O melhor é que ele convocou as três filhas, Daniela, 22 anos, Vanessa, 19, e Amanda, 17, a participar do Corpos Percussivos. Amanda foi a última a topar. “Estamos mais unidos. Minha relação com as meninas melhorou. Sem falar que estou menos estressado. Esqueço dos problemas quando estou tocando”, assegura Carlos Sivini.


Bem perto dali, na vizinha Rua Tomazina, tem ensaio do Grupo de Percussão Quebra Baque, sábados e domingos à tarde. O interesse pelas aulas, afirma Tarcísio Rezende, o maestro da equipe, triplica perto do período momesco. O público feminino é maioria. “Não somos maracatu, pois não há a religiosidade. Somos um grupo de percussão”, explica. Tarcísio Rezende acredita que o movimento mangue beat ajudou a diminuir o preconceito que havia em torno dos maracatus.


A atriz global Lívia Falcão ficou três anos afastada dos instrumentos. Retomou a alfaia há três meses. Antes, começou com o agbê, pois parecia mais fácil. “É muito legal tocar. Também gosto quando as pessoas nos observam tocando. Para mim, é como uma terapia, além de um bom exercício, porque suamos pra caramba quando tocamos”, afirma Lívia, que divide as aulas com a filha de 15 anos.


Três dias no Recife foram suficientes para o economista alemão Dieter Lipinski se juntar ao grupo. Pegou um tambor emprestado e se entregou ao batuque. “Participo do Sambaria, um grupo de maracatu da cidade de Hannover, na Alemanha. Faço questão de tocar quando venho ao Brasil. Realmente me sinto em outro mundo”, diz Dieter. Daqui, ele foi para Salvador, cidade tão rica em percussão quanto Recife e Olinda.

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