Planejamento

Drenagem precária e lixo são causas dos buracos no Recife, diz especialista

Julliana de Melo
Julliana de Melo
Publicado em 24/07/2015 às 16:30
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Denúncia sobre a Rua Jacobina, nas Graças, foi enviada para o Comuniq / Foto: Justo Duarte/Comuniq

Denúncia sobre a Rua Jacobina, nas Graças, foi enviada para o Comuniq Foto: Justo Duarte/Comuniq

É sempre assim: com as chuvas, os recifenses se deparam com os inúmeros buracos nas ruas e avenidas como mais um obstáculo para a mobilidade. Nesta sexta-feira (24), na Avenida Mascarenhas de Moraes, na Zona Sul, um buraco trava o trânsito há dois dias. O conserto foi iniciado, mas é apenas uma ação paliativa que deixa muita gente se perguntando se um dia haverá uma solução definitiva para esse problema. Para o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Oswaldo Lima Neto, especialista em estradas, isso só será possível com um melhor sistema de drenagem e menos lixo nas ruas.

O docente explica que o acúmulo de água nas ruas permite que haja infiltração nas pistas, sejam elas de asfalto ou de concreto. Quando a água chega às camadas mais baixas, o material perde a sustentação e acaba afundando, abrindo verdadeiras crateras. "O inimigo número 1 de qualquer via é a água. Se você não escoar, está fadado a destruir a estrutura que tem", ressalta Lima Neto.

Está aí a importância da drenagem. No entanto, o professor justifica que isso já é naturalmente complicado na capital pernambucana, devido ao baixo nível dos terrenos. A altitude média é de 4 a 10 metros acima do nível do mar e uma parte da cidade foi construída sobre manguezais.

Buraco na Av. Caxangá, próximo ao terminal integrado, provoca congestionamentos

Buraco na Av. Caxangá, próximo ao terminal integrado, provoca congestionamentosFoto: @carolsultanum/Twitter

Aliado a isso, Lima Neto classifica o sistema como precário na cidade. Esse trabalho é de responsabilidade da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) no Recife, que defende, no entanto, que tem feito intervenções planejadas no sistema de drenagem, principalmente no verão. A programação tem como base as análises do Serviço Itinerante de Gerenciamento Avançado (Siga), que tem equipe de técnicos e a ajuda de equipamentos. "Essa forma de trabalhar é pioneira na cidade", afirma a diretora de Manutenção Urbana, Fernandha Batista. "Recife sofre por ser uma planície. A água aqui não escoa tão rapidamente como em outras que têm morros e isso faz com que a água fique mais tempo no pavimento", acrescenta, concordando com o professor.

Só com operações para tapar buracos, a Emlurb gastou R$ 5,2 milhões este ano. Foram resolvidos problemas em 7.580 buracos. "Fica aquele negócio de enxugar gelo. Enquanto as prefeituras não reconhecerem que é necessário ter bons planos de drenagem, terão custos grandes", afirma Lima Neto. Apesar disso, proporcionalmente, os números ainda são menores do que o orçamento do ano passado, quando foram investidos R$ 13.558.631,15 em operações do tipo, que taparam 23.497 buracos.

A diretora da Emlurb ressalta que têm aumentado também os gastos com pavimento - antes de R$ 10 milhões por ano, em média - e com drenagem - de aproximadamente R$ 12 milhões anteriormente. Veja como estão os investimentos:

A drenagem tem sido estudada no Recife, com previsão de a pesquisa ser concluída até o fim do ano, apontando onde é preciso ser feita a dragagem de rios, por exemplo. Mesmo antes dos estudos, a Emlurb aponta que esse é o problema na Avenida Dois Rios, um dos pontos mais críticos. De acordo com o órgão, a melhor capacidade de escoamento depende do serviço no Rio Tejipió, para o qual recursos estão sendo captados.

Fernandha Batista explica que o sistema de drenagem na capital começou a ser implantado na década de 1950 e, com as diversas mudanças urbanísticas desde então, é preciso fazer requalificações todos os anos. "O do Espinheiro (na Zona Norte) foi na década de 60, quando era um bairro formado por casas e jardins, enquanto hoje são muitos prédios", exemplifica. A diretora alega que, por isso, há problemas na tubulação subterrânea - de esgoto, abastecimento de água e distribuição de gás -, que muitas vezes só ficam evidentes quando interferem no pavimento.

O "campo minado", como alguns recifenses se referem à buraqueira, está em diversas partes da cidade, desde vias com grande fluxo de veículos e pedestres até as menos movimentadas: Avenida Caxangá, Rua Dois Irmãos, Rua Pessoa de Melo, Rua José Bonifácio, entre tantas outras que dariam um livro se fossem escritas nesta matéria.

Até vias como a Avenida Norte, que liga a BR-101 ao Centro, formada por placas de concreto, mais resistentes, estão esburacadas. Lima Neto explica que pistas como essa deveriam ter ações de conservação constantes. "As emendas precisam ser limpas e vedadas com asfalto", explica. Sem isso, a água acaba penetrando e, saturada, o concreto quebra. "Damos muita importancia a fazer as coisas, mas muito pouco a manter", alerta o professor.

A diretora da Emlurb afirma que há planos de substituir as placas quebradas na Avenida Norte, como foi feito na Avenida Mascarenhas de Moraes. A intervenção prevê também o preenchimento das juntas. "Assim, aumentamos o tempo de vida das placas, que já é de 30 anos", afirma Batista. "Não aconselhamos nem costumamos colocar asfalto sobre a placa. A fissura reflete para ele", acrescenta.

Trecho da BR-101 em Jaboatão é ponto crítico

Trecho da BR-101 em Jaboatão é ponto críticoFoto: @jrinfotec10/Twitter

RODOVIA - A BR-101, aliás, é um exemplo clássico dos buracos. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a BR tem vários pontos críticos de congestionamentos provocados pelas crateras que se abrem a cada dia na pista. "É um descaso. Isso não poderia acontecer numa estrada, ainda mais por questões políticas", opina Lima Neto. Os seguidores do JC Trânsito no Twitter concordam.


O trecho da rodovia entre Abreu e Lima e Jaboatão dos Guararapes, de responsabilidade do Governo de Pernambuco, está em obras desde 2 de junho, apenas para tapar os buracos e fazer limpeza na drenagem, capinação, roçagem e construção de muros de arrimo. A ação paliativa, que não trará soluções definitivas, está orçada em R$ 8 milhões e tem prazo de conclusão de dois anos. Foram tapados buracos em quatro pontos: Muribeca, em Jaboatão; Universidade Federal de Pernambuco e Macaxeira, na capital; e Paulista. Agora, as equipes estão nos bairros de Dois Irmãos, na Zona Norte do Recife, e do Ibura, na Zona Sul.

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