Jogos Paralímpicos Rio-2016 pelas lentes de um fotógrafo cego

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Jogos Paralímpicos Rio-2016 pelas lentes de um fotógrafo cego

Javier Tovar
Publicado em 10/09/2016 às 11:21
https://imagens4.ne10.uol.com.br/ne10/imagem/noticia/2016/09/10/normal/6d347271d1b247720b7a29cdc803e768.jpg Foto: JC


João explica para algumas crianças como consegue fazer fotos, mesmo sendo cegoFoto: AFP Photo / Christophe Simon

Olhos emprestados - Com a câmera em uma das mãos, e a bengala na outra, João sobe na tribuna de fotógrafos e se posiciona. Primeiramente, tentou fotografar as corridas de velocidade, mas a largada ficava muito longe.

"Quando estou perto, sinto até o pulsar do coração dos corredores, os passos, e estou pronto para o disparo. Entre o ruído do público e a distância, é difícil para mim", explicou.

Este é o primeiro evento que João cobre, desde que começou a levar a Fotografia a sério, em 2008. Antes dos Jogos Rio-2016, havia feito eventos-teste e competições locais, todas com baixíssimo público. Essa situação é perfeita para ele, que se apoia, principalmente, em sua audição.

João começou a trabalhar com uma câmera tradicional automática, mas agora usa um telefone celular de última geração, que lhe diz se a foto tem boa luminosidade e se está no foco adequado. Vai a campo acompanhado de Ricardo Rojas e de Leonardo Eroico. Ambos promovem o trabalho de João, com o projeto Superação-2016, o qual busca retratar os Jogos Paralímpicos do Rio. O projeto conta ainda com um fotógrafo cadeirante.

Rojas é o fundador do Mobgrafia, um movimento cultural que define a arte visual captada com um celular. Ricardo e Leonardo são "seus olhos". "Sem eles, não poderia fazer nada. São eles que me ajudam com a edição, que eu não poderia fazer, que postam as fotos nas redes sociais", descreveu João, que tem quase 1.800 seguidores em sua conta no Instagram (@joaomaiafotografo). 

João em ação durante os Jogos Paralímpicos Rio 2016

João em ação durante os Jogos Paralímpicos Rio 2016Foto: AFP Photo / Christophe Simon

O futuro - Pouco satisfeito com as fotos dos 100 m rasos, João opta pelo salto em distância. A área de aterrissagem está a poucos metros. 

"Aqui sim, está bem. Estão ajeitando a areia, não é? Escuto perfeitamente. O zoom está bom? Me mostra a tábua... Ok... Me avise quando sair para eu estar preparado", pedia, falando sem parar.

Firmemente apoiado sobre uma mureta, ele começa a capturar imagens incríveis. Em uma delas, Le Fur aparece abraçada com uma bandeira francesa, mostrando apenas sua prótese. Em outra foto, a holandesa Marlene van Gansewinkel está sentada, conversando com a britânica Stef Reid, esperando o fim da prova. "Não é apenas a ação que você tem de capturar. Essas fotos mostram intimidade", ensinou.

João acredita ser o único fotógrafo cego dedicado ao esporte. Conhece bem o mundo do atletismo, pois já tentou seguir carreira paralímpica no arremesso de peso e nos lançamentos de dardo e de disco.

"Não entrei na equipe. O nível é muito alto. Mas o esporte é tudo para mim e, agora, eu o sigo com a câmera", disse João, que vive de sua pensão por invalidez dos Correios. Próximo passo? "Aprender inglês", contou. "Vamos para Tóquio... Ou, pelo menos, sonho com isso", confidenciou.

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