Do JC
Foi sepultado, nesta quinta-feira (24), em Além-Paraíba, Minas Gerais, às 8h, o corpo de Ivson de Freitas, de 77 anos, ex-atacante e ídolo do Náutico. O ex-jogador morreu nessa quarta-feira (23), às 12h, por causa de um enfisema pulmonar. Ele foi homenageado, no dia 28 de abril deste ano, pelo Conselho Deliberativo do Náutico, com um almoço, na sede social do clube. O presidente do Náutico, Ricardo Valois, decretará três dias de luto.
Ivson defendeu as cores alvirrubras de 1952 até 1957. Nesse período, conquistou o tricampeonato estadual (1952, 53 e 54), foi duas vezes artilheiro do Pernambucano (53 e 54) e entrou para a história do clube com 118 gols em 159 partidas – média de 0,74/jogo, só inferior a de Fernando Carvalheira (1,23). Tantos gols lhe deixaram entre os maiores artilheiros do Náutico, na 5ª posição, para ser mais específico, só atrás de Bita (223), Fernando Carvalheira (185), Baiano (181) e Kuki (155) – a quem conheceu pessoalmente em abril deste ano. Ganhou o seu quarto título pernambucano, defendendo o Sport, em 61, após passagem pelo português Sporting.
Há quase dois anos, o JC o entrevistou por telefone em Além-Paraíba. À época, Kuki acabara de ultrapassá-lo na lista dos maiores goleadores timbus. Na ocasião, disse que acompanhava as notícias do time e que estava satisfeito por Kuki fazer a alegria da torcida. Alegria que ele deu cinco décadas atrás. “Num amistoso, contra o Comércio, de Caruaru, em 56, o técnico Gilberto Carvalho preparava a troca de Ivson pelo reserva Maurício. Percebendo que sairia, ele deu vazão à sua genialidade. Recebeu a bola no meio-de-campo, driblou toda defesa e fez o gol (seu segundo no jogo vencido por 4x0). Depois, sob aplausos, cumprimentou seu substituto e saiu. Esse lance segue vivo até hoje em minha mente”, relembra o pesquisador Carlos Celso Cordeiro.
Ivson trocou o Fluminense pelo Náutico no início dos anos 50. No Rio, brilhava nos aspirantes, recordista de gols da categoria em 48, com 38 tentos. Jogou algumas vezes no time principal do tricolor carioca, mas foi no Timbu, o seu melhor momento. “Foi um dos maiores atacantes que vi. Elegantíssimo, como Heleno de Freitas (que marcou época no Botafogo e no Vasco). Ele fazia dois, três gols por jogo e não trombava nos marcadores. Tinha drible seco, preciso e chutava bem com os dois pés”, diz Fernando Menezes, colunista do JC.
O futebol de Ivson despertava paixões. “Um estilista a serviço do espetáculo e do gol. Encantava a torcida o seu rush em direção à meta, em seguimento ao drible desconcertante deixando os marcadores para trás, e a complementação da jogada com o chute quase sempre rasteiro, no canto, longe do alcance do goleiro. Gol na certa”, disse o médico e escritor Lucídio José de Oliveira, em coluna sobre o ídolo no site Papo de Bola.
O jornalista pernambucano Duda Guennes, radicado em Portugal há 32 anos, parafraseou o poeta João Cabral de Melo Neto e disse: “(Ivson foi) o melhor goleador que vi no Recife e que ainda carrego na lembrança ‘como um cão vivo dentro do bolso’”.