Vídeos de unboxing viram febre entre crianças, mas despertam debate

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Vídeos de unboxing viram febre entre crianças, mas despertam debate

Rebeca Montenegro
Publicado em 05/10/2016 às 12:00
https://imagens4.ne10.uol.com.br/ne10/imagem/noticia/2016/10/05/normal/45b22f779a10df7488d151f32c675445.jpg Foto: JC



A youtuber mirim Julia Silva, de apenas 11 anos, criou o canal que leva seu nome em 2007 e conta com mais de um milhão e meio de inscrições. Juntos, seus vídeos somam mais de 400 milhões de visualizações e tratam de temas como resenhas de brinquedos e bonecas e novidades e lançamentos das marcas infantis. No vídeo "Kinder Ovo - Dinos e Sereias", Julia leva quase 15 minutos apenas abrindo, montando e avaliando surpresas na companhia do pai.

A audiência é fiel: quase todos os comentários do vídeo são feitos por perfis que levam fotos de crianças e dizem coisas como "adoro você, comprei um desses" e "a sua sereia é igual à minha, Julia". O unboxing, afinal, é consolidado como um sucesso. Assim como temáticas comuns de canais infantis como a montagem de "casas da Polly" e a exposição da "rotina de bonecas", é mais uma ferramenta para atrair a atenção de crianças usuárias do Youtube em todo o Brasil. Porém, nem tudo são flores.

Cultura do consumo

O inocente Kinder Ovo não é o único produto utilizado pelos youtubers mirins. Alguns fazem unboxing de brinquedos caros, como a boneca Baby Alive, e avaliam os produtos brincando com eles. Muitas vezes, canais famosos recebem o material dos próprios fabricantes para essa finalidade. 

A prática funciona como uma espécie de publicidade infantil e pode incentivar o consumismo entre as crianças, como explica o psicólogo Carlan Pacheco. "A partir do momento que há a divulgação de um produto, existe de fato um marketing por trás, um interesse que não é apenas da avaliação", detalha. 

Consumo crescente de vídeos no Youtube por crianças pode levar a um vício que deve ser combatido, afirma psicólogaFoto: EBC

 O psicólogo ressalta que proibir de assistir aos vídeos não é a solução. "Os pais precisam começar a ensinar desde cedo sobre o consumismo, sobre o que é e o que não é necessário, antes mesmo do acesso ao Youtube começar. Quando a criança já tem o acesso à internet, ela ainda vai precisar dos pais para obter o produto, então cabe uma intervenção e relembrar o tema. Não adianta se os pais não exercerem esse processo desde cedo, já que a criança vai ter dificuldade em assimilar o que está assistindo com o que aprendeu no dia a dia", orienta Carlan Pacheco. 

O arquiteto Lourenço Albuquerque é pai de três meninas de 12, 5 e 3 anos e busca praticar o consumo consciente em casa. "Os vídeos incentivam o consumismo, experiência própria, mas cabe aos pais regular possíveis excessos, principalmente quando estão fora da realidade financeira da família". O arquiteto busca pensar em alternativas para as crianças poderem curtir sem o gasto exacerbado. "Vivenciando uma fantasia necessária pelo fator da idade, as crianças, mesmo sem possuir o brinquedo do vídeo, podem materializar em outras brincadeiras aquela 'realidade' com outros elementos", opina.

Já a psicóloga da Medicina Preventiva do Hapvida, Sílvia Regina, lembra da importância de desconectar os pequenos do computador. "A febre do Youtube tomou conta porque funciona muito bem para prender a atenção das crianças, mas acaba se tornando um vício. Os pais devem ter bom senso e, quem sabe, limitar o acesso, determinando um tempo para a criança passar em frente ao computador e incentivando a socialização com outras crianças", avalia. 

Para Sílvia, a orientação dos pais em relação ao consumo é, realmente, a principal medida a ser tomada. "A criança não sabe atribuir significado ao que está assistindo, não vai identificar que está sendo influenciada pela mídia a querer aqueles produtos. Se é uma febre, o que a criança está entendendo deste vídeo?", questiona a psicóloga. 

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