Essa importante editora do Rio de Janeiro, sob direção de Waldir Ribeiro do Val - que também edita a revista Poesia, homenageia com essa série a José Simeão Leal, criador dos Cadernos de Cultura, do MEC, na década de 50, que contemplava edições de livros com 50 poemas escolhidos, como o caso de Manuel Bandeira e Carlos Drummond.
A seleção de poemas abrange seis livros publicados (Título Provisório, Gide ou o Desejo, A Cimitarra e o Lume, Burocracial, Gesta Pernambucana e Coração de Areia), além de dois inéditos (Simulacro e Escuras) e poemas estampados em jornais e revistas.
Poemas, como “Só Às Paredes Confesso”, que o professor Sébastien Joachim qualificou de megapoema, ao lado de outros como “Enterrem Meus Olhos no Amanhecer”, “Rumor a Máscaras e Sub Narcose(que foi objeto de um ensaio-conferência apresentado no III Congresso Brasileiro de Escritores) representam bem o que o autor entende por poesia, ou seja, a utilização da palavra em sua carga máxima, a palavra posta na página com alta densidade conotativa.
Conheço bem a poesia de Vital Corrêa e sei que ela se insere num contexto em que a imaginação prevalece sobre a razão, em que o sentido não é o objeto da escrita, mas o sintagma inesperado, em que a preocupação estética sobrepuja qualquer lógica ordinária ou meramente gramatical.
A poesia moderna do século 21 despreza regras, normas, acabamentos clássicos, filigranas, retoques, saias justas, manequins, fórmulas e fôrmas. É a poesia em liberdade, no sentido construído por Murilo Mendes, sem perder as características de sua plasticidade e carga metafórica de acento pessoal.
Encontro paralelo, mutatis mutandis, da poesia de VCA com a de Jorge de Lima.
O poeta expressou seu conceito de poesia no poema “O vinho da palavra chama-se metáfora / e sua embriaguês, poesia”.
Com base nessa visão metafórica (poética) da realidade, ele escreveu Burocracial e Dura Habilidade de Herói, dos quais extraio os poemas Batalha Branca: “O burocrata perdido/nas engrenagens do organograma tomba/na guerra diárias dos despachos/entre litígios de forma/e hecatombes de tinta; e “O herói elabora/ o cume e a queda/ e ao cair/erige o abismo”.
Mais dois poemas pequenos resumem a poética do autor: Econômica: “Há vagas para máquinas / não há vagas para homens”. E seios: “Seios são rijos/deuses redondos/para o culto/alpino do lábio/são canções de carne/que mordem a boca/e encantam/a alma da mão”.
Destacam-se no livro de poemas escolhidos de Corrêa de Araújo aqueles dedicados a suas paixões, como o “Deo Gratia”, para sua mãe, Deográcia Cavalcanti de Albuquerque, o poema “Recife” (que o pintor João Câmara ilustrou), “Lorca”, “Murilo Enegeômetra Mendes Polipoeta”, “Poema a uma Catedral” (dedicado a Dom Hélder) e “Para a Claridade da Fuga”, aos 80 anos de César Leal.
Em resumo, trata-se de uma poética singular, em que o verbo é vazado pela imaginação, em que a realidade é transfigurada pelo sonho, pelo sonho das palavras, pela espessura adverbial do mundo, pela tessitura catárquica do ser. Em que a palavra é colocada no pódio sagrado da poesia, de onde descortina a imaginação triunfante.
Em ensaio sobre o livro inédito Simulacro (objeto de encenação pelo SESC-Santo Amaro), o mestre Sébastien Joachim diz: “Na fábrica metafórica do poeta não causa espanto ver-se lado a lado palavras designando objetos reputados neutros ou banais.Se separadas, isoladas, não significam algo semanticamente novo, mas juntas, sintagmaticamente relacionadas, se convertem em expressões do sublime”.
O livro em tela foi dedicado a uma única pessoa: a Ivonilde, esposa de poeta, o que é muito louvável, porque a mulher deve sempre ser tema e finalidade da poesia. E o amor e a mulher, desde Homero, estão siamesamente unidos, na construção do poema, se o objetivo for o sublime.
Em síntese, externo minha visão poética de que é preciso construir o texto dentro de idéias específicas e inovadoramente construtivas.
E não informar ao leitor o imediatamente compreendido na construção lógica do texto.