Os brasileiros desenvolvem cálculos melhor do que escrevem. Isto é o que mostra um estudo divulgado na última terça-feira (17) pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística). O levantamento contou com a participação de 2.000 pessoas com idade entre 15 e 64 anos.
De acordo com os resultados da segunda edição do Inaf (Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional), levantamento realizado pelo Instituto Paulo Montenegro, instituição vinculada ao Ibope, apenas 3% dos brasileiros podem ser considerados analfabetos matemáticos. A pesquisa anterior, que tinha como objetivo testar o nível de leitura da população, mostrou que 9% das pessoas não sabem escrever.
Aqueles que foram considerados analfabetos matemáticos não conseguiram efetuar cálculos matemáticos simples (adição, subtração, multiplicação e divisão), além de não saberem ler o preço de produtos em anúncio ou anotar o número de telefone ditado por alguém.
Apresentando 36 atividades matemáticas de complexidade variada, o estudo tentou levantar o nível de habilidade dos brasileiros em realizarem a leitura de números e outras representações matemáticas como gráficos e tabelas, além de avaliar a análise e a solução de situações-problemas envolvendo operações aritméticas simples, cálculos de porcentagem, medidas de tempo, massa, comprimento e área.
Por outro lado, o estudo aponta ainda que apenas 21% dos brasileiros têm pleno domínio de cálculos matemáticos funcionais, ou seja, são capazes de resolverem e interpretarem problemas envolvendo equações simples do cotidiano.
Especialistas consideram alfabetizado funcional o individuo capaz de utilizar a leitura e a escrita para realizarem atividades cotidianas em seu contexto social e usar essas habilidades para continuar se desenvolvendo e aprendendo.
Para Maria da Conceição Fonseca, coordenadora da pesquisa e professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o número de pessoas que atingiram o nível máximo de habilidades matemáticas é baixo e mostra que a necessidade de que sejam adotadas novas metodologias para o ensino de matemática.
"O levantamento mostra que a escola não está exercendo o papel de formadora de indivíduos capazes de planejar resoluções, criticar resultados obtidos e interpretar problemas matemáticos do seu cotidiano", afirma a educadora.
A professora Maria da Conceição afirmou ainda que as mudanças devem ser profundas e demoradas. "A metodologia de ensino está incorporada a séculos e não são as modificações nas leis ou nos livros que irão mudar essa situação", diz
A segunda edição do Inaf mostra que os entrevistados demonstraram menos confiança na sua capacidade de desenvolver cálculos.
De acordo com o relatório do estudo, pelo menos 51% dos brasileiros declararam que têm alguma dificuldade em fazer cálculosA primeira edição do Inaf apontou que 38% das pessoas afirmam ter dificuldades para ler.
O objetivo da pesquisa, segundo o secretário-executivo do Instituto Paulo Montenegro, Fábio Montenegro, é aproximar a escola do cotidiano dos alunos e diminuir a distância entre o conhecimento que se ensina e aquele que é aplicado no dia-a-dia.
Montenegro afirmou ainda que a idéia do Instituto é fazer da pesquisa um índice que possa ser usado tanto por órgãos governamentais quanto não-gevernamentais para buscar metodologias e ferramentas que melhorem a
educação no país. "O Inaf será um compromisso da nossa instituição e esperamos realizá-lo anualmente", afirma.
Fonte: Folha Online