Brittany Kaiser, e mulher que denunciou o escândalo da Cambridge Analytica, repetiu em várias sessões da Web Summit Rio 2023 seu mantra de que dados são uma propriedade como qualquer outra e devem ser tratados como tal.
Seu discurso contra a forma como as grandes empresas usam os dados que coletam das pessoas soa repetitivo, mas parece longe de ter efeito prático na vida de bilhões de usuários que todos os dias acessam redes sociais, apps de mensagens ou qualquer outro sistema digital que perde ˜permissão" para coletar suas informações.
Brittany tornou-se mundialmente conhecida com o escândalo da Cambridge Analytica, empresa de consultoria que usou dados capturados de milhões de usuários do Facebook para impactar com fake news eleitores americanos.
Quatro anos depois da sua história ter virado o documentário arrasa-quarteirão "Privacidade Hackeada", ela reconhece que falta muito para que as pessoas entendam que seus dados precisam ser tratados como sua propriedade.
"Você não deixa sua casa abandonada, com a porta aberta e de luz acesa. Por que deixa que isso aconteça com seus dados?" Ela defende que só quando a legislação permitir que uma empresa que vazou seus dados seja criminalmente responsabilizada é que realmente haverá respeito por esse "bem".
Seus dados podem ser qualquer coisa: seu endereço, suas informações médicas, o que você faz quando está online, por onde você anda... "Se isso é um bem, você devia receber se alguém quer usar esse seu bem", disse Kaiser em uma das sessões de que participou na Web Summit Rio.
"Receber não significa necessariamente em dinheiro. Mas pode ser um cupom, um serviço... Por que dar de graça se alguém está ganhando com aquilo?", questiona.
Britanny e sua irmã, Natalie, fundaram uma ONG, a Own Your Data, que percorre o mundo nessa cruzada de educar as pessoas sobre essa propriedade e ajudar empresas que querem ser justas na forma como usam os dados que coletam.
"Trabalhei com uma empresa que já havia desenvolvidos milhares de correções de brechas de segurança mas nunca havia parado para implementá-las", conta.
Ela reconhece que já aconteceram avanços legais, e cita a lei GDRP europeia e a LGPD brasileira como exemplos.
Brittany também defende que há um longo caminho até que a maioria das pessoas esteja educada para a necessidade de cuidar desse bem imaterial como cuidam da sua casa, do seu carro, e até de pequenas coisas.
Britanny Kaiser sempre que é questionada como foi ser a denunciante do escândalo da Cambridge Analítica, diz que tem um arrependimento daquela época: de não ter delatado antes a campanha de Donald Trump.
Ela denunciou em 2018 as técnicas usadas pela empresa em que trabalhava para manipular a opinião pública, segmentando pessoas para receber informações de acordo com suas crenças e rejeições.
Dados coletados de forma ilegal de mais de 87 milhões de pessoas teriam sido usados, a partir de aparentemente inocentes questionários respondidos no Facebook.
A consultoria britânica foi obrigada a fechar as portas em 2018. Mas àquela altura o micromarketing, que usava os targets montados com os dados vazados, já tinha sido peça chave nas vitoriosas campanhas do Brexit e de Donald Trump.