Você leu de notícias.
Possui cadastro? Faça login aqui
Você atingiu o limite de conteúdos que pode acessar.
Para acessar o conteúdo, faça seu login abaixo:
Faça login ou cadastre-seApontou! / Parece uma baleia se movendo no ar! / Parece um navio avoando nos ares! / Credo, isso é invenção do cão! / Ô coisa bonita danada! / Viva seu Zé Pelim! / Vivaôôô.
- Ascenso Ferreira, poeta pernambucano, 1930.
O gigantesco dirigível Graf Zeppelin foi a maior façanha humana nos ares por muitos anos. Com 236 metros de comprimento, cruzava oceanos e chegou a realizar uma volta ao redor do mundo no início do século passado, quando voar representava o maior desafio da tecnologia até então. A relação do Zeppelin com o Recife sempre foi estudada, mas ainda hoje é pouco conhecida. A cidade mantém intacta a torre de atracamento, única no Brasil, aberta à visitação no parque científico no bairro do Jiquiá.
No próximo dia 22 de maio completam 85 anos da primeira viagem do Zeppelin ao Recife. Foi a primeira vez que um veículo aéreo cruzava o Atlântico vindo da Europa à América Latina. Por aqui, tripulação e passageiros desembarcavam e o dirigível era reabastecido com gás e suprimentos. A cena foi tão espetacular para os habitantes da época que até hoje as imagens são admiradas em fotografias, selos e cartões postais.
Para celebrar a data será lançado o livro "O Zeppelin no Recife", com 30 imagens selecionadas pelo historiador Dirceu Marroquim e pelo artista plástico e restaurador Jobson Figueiredo, este último uma das maiores autoridades no Brasil sobre a era dos Zeppelins. São fotos antigas, muitas delas inéditas, que mostram cenas e bastidores deste grande feito para o Brasil. As imagens foram feitas pelos próprios tripulantes durante a passagem do Zeppelin. O lançamento será no Museu da Cidade do Recife, no dia 22 de maio, às 19h. Parte dessas fotos publicamos com exclusividade aqui no MundoBit.
O Zeppelin no Recife
Recife passou meses se preparando para a chegada do Graf Zeppelin LZ 127. O prefeito à época, Francisco da Costa Maia chegou a decretar feriado municipal e a cidade vivia um clima de festa. Segundo registros em jornais, cerca de 15 mil pessoas e dois mil veículos foram até o Jiquiá presenciar a chegada do dirigível.
"Tudo foi preparado para mostrar uma cidade preparada, com pompa. O Estado deu o campo, água, luz elétrica, coisas que eram escassas à população da época", explica Jobson Figueiredo. "Além da torre de atracação foi construído ainda um pavilhão de 315m², onde ficavam a sala de embarque, lojas de venda. Tinha até uma lagoa para os resíduos, que ficou conhecida como Lagoa da Morte".
A travessia do Atlântico, vindo da Europa, durava entre três a quatro dias. O dirigível Graf Zeppelin tinha capacidade para receber de 20 a 25 passageiros, além de uma capacidade de carga que possibilitava trazer um carro. "Nenhum avião do período conseguia atravessar grandes distâncias e navios levavam meses para chegar, por isso o Zeppelin foi a primeira ligação direta da América com a Europa", diz Jobson. "Era muito luxuoso, algo reservado apenas a príncipes, alta burguesia e industriais ricos", explica.
Hotel nos ares
O primeiro Zeppelin que chegou ao Brasil, atracando no Recife, foi o LZ127. Ele tinha 236 metros de comprimento e 30 metros de diâmetro. Tinha em seu interior suítes, banheiros, salas de jantar e estar.
Surge depois, em 1936, um novo zeppelin, ainda maior, mais bonito, mais imponente — o Hindenburg LZ-129. Tinha 245 m de comprimento, 41,2 m de diâmetro e voava a 135 km/h com autonomia de 14 mil km e podia transportar 50 passageiros e 45 tripulantes. Parecia um hotel voador, com sala de jogos, estar, restaurante e cabines luxuosas. Foi necessária a troca da torre de atracação do Zeppelin por uma torre que pudesse receber o LZ-127 e o LZ-129.
O fim da era dos dirigíveis se deu em 1937, quando o Hindenburg pegou fogo em Nova Jérsei, nos EUA, matando 36 pessoas. "Além disso, o acirramento da Segunda Guerra Mundial também contribuiu para o fim das viagens, uma vez que a Alemanha estava bastante envolvida no conflito", diz Jobson. O LZ-127, o Graf Zeppelin, foi desmanchado em 1940 para sua estrutura ser utilizada na feitura de materiais bélicos. Durante essa guerra, a Marinha americana ocupa o Jiquiá e constrói paióis para a guarda de armamentos e munição. "É curioso como o Parque do Jiquiá guarda a memória dos dois principais lados do conflito".
Dirigíveis hoje
A mesma empresa criadora dos primeiros Zeppelin ainda segue fabricando dirigíveis. "A tecnologia não ficou obsoleta, apenas mudou de função. Hoje os Zeppelins são utilizados em pesquisas científicas e de monitoramento", explica Jobson.