Checagem

Vacina não causou morte do marido de Raquel nem apendicite em filho do casal

Estudo apresentado na postagem concluiu que vacinas contra covid-19 não tem ligação com apendicite

Adelmo Lucena
Adelmo Lucena
Publicado em 19/10/2022 às 16:00 | Atualizado em 19/10/2022 às 16:08
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM / Confere.ai
Perfil que fez a postagem é antivacina FOTO: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM / Confere.ai
Leitura:

Uma postagem no Twitter feita pela conta @mpatriabrasil associa o falecimento do marido da candidata a governadora Raquel Lyra (PSDB), e a apendicite de seu filho, às vacinas contra covid-19.

O post reúne notícias sobre a morte do marido de Raquel e cita um estudo que supostamente comprova a ligação entre os casos de apendicite e a vacina contra o novo coronavírus.

Onde foi publicado e alcance

A publicação foi feita no Twitter no dia 12 de outubro de 2022. Até o dia 19 do mesmo mês, o post somava 391 curtidas e 200 retweets.

Como verificamos

O Confere.ai recorreu à assessoria da candidata ao Governo de Pernambuco, buscou por estudos sobre suposta correlação da apendicite e mal súbito às vacinas contra covid-19 em sites de medicina como PEBMED, Medic e a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE).

Também foram analisados os dados do estudo divulgado pelo autor da postagem.

O que diz o autor da publicação

O Confere.ai não conseguiu estabelecer contato com o autor da postagem, uma vez que o usuário não permite o envio de mensagens entre contas não conectadas.

Conclusão

Após a checagem, o Confere.ai classificou as informações da postagem como falsas. Não há estudos que provem que o mal súbito e a apendicite sejam causados por vacinas contra covid-19.

Para o Confere.ai, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Checagem

Uma postagem feita no Twitter correlaciona a morte do marido da candidata a governadora Raquel Lyra (PSDB), Fernando Lucena, à vacina contra covid-19.

O post ainda cita o apendicite do filho mais velho da candidata, João Lyra Lucena, como um dos efeitos colaterais das vacinas contra o novo coronavírus e argumenta que um estudo comprova a ligação dos temas.

No dia 12 de outubro, o filho de Raquel Lyra foi diagnosticado com apendicite, uma inflamação no apêndice. No dia seguinte, ele recebeu alta hospitalar após fazer uma cirurgia para retirar o órgão.

Reprodução
Filho de Raquel Lyra realizou cirurgia em hospital no Recife - Reprodução

Na maioria dos casos, a apendicite ocorre devido à obstrução causada pelo acúmulo do resto de fezes na região, causando dores intensas, mal-estar, perda de apetite, náuseas e vômitos.

O Confere.ai analisou o artigo mencionado pelo autor do tuíte. A pesquisa foi publicada de forma online pela revista médica Jama Network Open no dia 25 de abril de 2022.

De acordo com o estudo, o objetivo era avaliar o risco de apendicite após a pessoa receber uma dose de vacina com o RNA mensageiro do novo coronavírus, e após o diagnóstico de infecção por covid-19, em comparação com o risco de apendicite em indivíduos não vacinados.

O estudo levou em conta dados dinamarqueses para identificar os receptores das vacinas BNT162b2 (Pfizer-BioNTech) ou RNA-1273 mensageiro (Moderna) e localizar todas as pessoas com 12 anos ou mais diagnosticadas com covid-19 por reação em cadeia da polimerase (PCR) entre os dias 27 de dezembro de 2020 e 30 de novembro de 2021.

A pesquisa excluiu indivíduos com apendicite ou apendicectomia prévia, pessoas imunizadas com vacinas contra covid-19 que não usam a tecnologia mRNA e indivíduos infectados com o novo coronavírus por PCR antes da inclusão no estudo.

Porém, a pesquisa ressalta que não foi identificada nenhuma “associação entre a imunização com vacinas COVID-19 baseadas em mRNA e apendicite”.

O artigo ainda cita que um estudo de coorte feito em Israel. Este tipo de estudo analisa a presença de fatores de riscos e o desenvolvimento de doenças em uma população.

A pesquisa israelense estimou o risco de que a cada 100 mil habitantes, cinco poderiam desenvolver apendicite se vacinados com este tipo de vacina.

No entanto, uma análise interina dos dados de vigilância dos Estados Unidos não encontrou associação entre os temas.

Marido de Raquel Lyra não morreu por efeitos da vacina contra covid-19

No dia 2 de outubro, dia do primeiro turno das eleições de 2022, o marido de Raquel Lyra faleceu devido a um mal súbito. Fernando Lucena tinha 44 anos e passou mal quando estava em casa.

O SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegou a ser acionado e fez os primeiros socorros na casa da candidata, mas Fernando não resistiu. O corpo foi velado e enterrado no Cemitério Parque dos Arcos, em Caruaru, no mesmo dia.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Raquel Lyra e Fernando Lucena - REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

O tuíte investigado também associou a morte de Fernando Lucena à vacina contra covid-19. postagens como essa se tornaram comuns após atletas terem falecido por mal súbito ou por AVC (Acidente Vascular Cerebral) no final de 2021.

Porém, esta é mais uma desinformação que circula nas redes sociais. A Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) emitiu uma nota em janeiro de 2022 para esclarecer as dúvidas sobre o assunto.

“A SBMEE orienta que não há nenhuma evidência científica mostrando qualquer tipo de elevação no número de casos de MS [morte súbita] em atletas acima dos índices habituais. Adicionalmente, não há nenhum dado que mostre uma associação entre vacinas contra a SARS-CoV-2 e MS em atletas ou em praticantes de atividades físicas intensas e/ou frequentes”, informou.

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM / Confere.ai
Estudo mostrado na postagem conclui que não há ligação entre apendicite e vacinas contra covid-19 - FOTO:BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM / Confere.ai
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Raquel Lyra na missa de sétimo dia do marido, Fernando Lucena - FOTO:crédito
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Após marido de Raquel Lyra morrer de infarto aos 44 anos, coligação da candidata quer adiar propaganda eleitoral - FOTO:REPRODUÇÃO/INSTAGRAM