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Faça login ou cadastre-seDa Fiocruz Pernambuco
Profissionais da Fiocruz Pernambuco isolaram e sequenciaram, de forma inédita no mundo, o genoma do vírus zika coletado no organismo de mosquitos do gênero Culex, conhecido popularmente como pernilongo ou muriçoca. Também pela primeira vez, se fotografou, por meio de microscopia eletrônica, a formação de partículas virais na glândula salivar do inseto. Essas conquistas, obtidas com o uso exclusivo das plataformas tecnológicas da Fiocruz Pernambuco, estão descritas no artigo Zika virus replication in the mosquito Culex quinquefasciatus in Brazil, publicado nesta quarta-feira (9) na revista Emerging microbes & infections, do grupo Nature.
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A equipe do Departamento de Entomologia da instituição detectou a presença do vírus em amostras naturais de Culex colhidas na Região Metropolitana do Recife e também comprovou em laboratório que esse vírus consegue se replicar no interior do mosquito e alcançar a glândula salivar. Utilizando cartões especiais para a coleta, foi comprovada a presença de partículas do vírus na saliva dos mosquitos, o que indica a possibilidade de transmissão ao picar uma pessoa. Para a coordenadora do estudo, Constância Ayres, o artigo demonstra, “de diversas formas diferentes”, a possibilidade do Culex ser um dos vetores do vírus zika na cidade.
O pesquisador Gabriel Wallau, que também integra a equipe, considera que esse artigo vem mostrar, “com dados consistentes”, que o zika consegue se replicar dentro do organismo de Culex e que existem mosquitos dessa espécie infectados no campo. Responsável pelo sequenciamento do genoma, Gabriel explica que a cepa do vírus isolada de dois pools (grupos) de Culex quinquefasciatus é semelhante à que foi previamente sequenciada, a partir de amostras humanas, pela equipe do Departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz Pernambuco, em parceria com pesquisadores da Universidade de Glasgow (com artigo publicado na revista PLoS Neglected Tropical Diseases, em outubro de 2016). Ele destaca que o ineditismo de agora reside no fato do vírus ter sido obtido de amostras de mosquito.
Para Gabriel, essa semelhança era esperada, pois se trata de uma linhagem de vírus que estava circulando no Estado. Mas o fato de terem sido encontradas mutações nas amostras corrobora a metodologia utilizada nas análises, mostrando que não houve contaminação no laboratório. O pesquisador explica que os vírus de RNA de fita simples, como o zika, têm uma altíssima taxa de mutação e que já existem trabalhos na literatura científica reportando que a simples replicação desses vírus dentro do organismo, humano ou do mosquito, gera novas mutações.
Os resultados encontrados estão servindo de base para o início de novos estudos. De um lado, na verificação das mutações presentes nos genomas e se elas influenciam na capacidade de replicação do vírus no organismo do mosquito. Por outro lado, agora que estabeleceu a competência do Culex quinquefasciatus como vetor do zika, o grupo parte para estudar a sua capacidade vetorial, ou seja, será analisado o conjunto de suas características fisiológicas e comportamentais, no ambiente natural, para entender o papel e a importância dessa espécie na transmissão do vírus zika.
O estudo foi conduzido pela Fiocruz Pernambuco na Região Metropolitana do Recife, onde a população do Culex quinquefasciatus é cerca de vinte vezes maior do que a população de Aedes aegypti. Os resultados da pesquisa de campo apresentados no artigo mostram a presença de Culex quinquefasciatus infectados naturalmente pelo vírus zika em três pools (grupos) de mosquitos Culex (de um total de 270 pools) e dois pools de Aedes (de um total de 117). Em duas dessas amostras os mosquitos, não estavam alimentados, demonstrando que o vírus estava disseminado no organismo do inseto e não em uma alimentação recente num hospedeiro infectado. O vírus foi isolado dessas amostras e seu genoma foi sequenciado.
Na etapa de laboratório, com o objetivo de investigar a competência vetorial das espécies Culex quinquefasciatus e Aedes aegypti, os mosquitos foram alimentados com uma mistura de sangue e vírus, permitindo o acompanhamento do processo de replicação do patógeno dentro do inseto. Foram realizadas duas infecções de mosquitos, cada infecção com duas concentrações de vírus diferente (104 e 106). A menor simula a condição de viremia de um paciente real. Depois os mosquitos foram coletados em diferentes momentos: no tempo zero (logo após a infecção), três dias, sete dias e 15 dias após a infecção pelo vírus.
Um grupo controle, com mosquitos alimentados com sangue sem o vírus, também foi mantido. Cada mosquito foi dissecado para a extração do intestino e da glândula salivar, tecidos que representam barreiras ao desenvolvimento do vírus. Se a espécie não é vetor, em determinado momento, o desenvolvimento do vírus é bloqueado pelo organismo do mosquito. No entanto, se ela é vetor, a replicação do vírus acontece, dissemina no corpo do inseto e acaba infectando a glândula salivar, a partir da qual poderá ser transmitido para outros hospedeiros durante a alimentação sanguínea, pela liberação de saliva contendo vírus. Segundo Constância, a partir do terceiro dia após a alimentação artificial, já foi possível detectar a presença do vírus nas glândulas salivares das duas espécies de mosquito investigadas. Após sete dias, foi observado o pico de infecção nessas glândulas.
Além da detecção do vírus nesses tecidos (intestino e glândula salivar), foram investigadas amostras de saliva expelida pelos mosquitos infectados. A carga viral encontrada nas duas espécies estudadas (Aedes aegypti e Culex quinquefasciatus) foi similar.