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Usar chupeta faz mal à saúde da criança? Especialistas abordam o assunto

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 05/01/2017 às 17:51
Distúrbios respiratórios e problemas respiratórios estão entres os malefícios que a chupeta pode causar para o bebê (Foto ilustrativa: Pixabay)
Distúrbios respiratórios e problemas respiratórios estão entres os malefícios que a chupeta pode causar para o bebê (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: Distúrbios respiratórios e problemas respiratórios estão entres os malefícios que a chupeta pode causar para o bebê (Foto ilustrativa: Pixabay)

Nos primeiros anos de vida, o hábito de sucção proporciona ao bebê uma sensação de bem-estar e acolhimento. Esse conforto pode vir da amamentação que, além de preencher esse instinto, traz outros incontáveis benefícios para a criança. É justamente nessa fase que uma conhecida - e polêmica - aliada na missão de acalmar o pequeno entra na vida da família: a chupeta. Apesar de oferecer alívio imediato, facilitando a rotina corrida dos pais, os especialistas alertam que o uso do objeto por muito tempo pode trazer inúmeros danos à saúde da criança.

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É consenso entre os profissionais que a retirada da chupeta deve ser até os dois anos de idade, fase em que se encerra o crescimento de todas as funções orais da criança. Muitos acreditam que o uso exagerado desse paliativo acarretaria apenas problemas dentários, mas os malefícios vão muito além do que se imagina. "A sucção não nutritiva modifica o padrão de crescimento facial da criança, alterando o posicionamento dos dentes a longo prazo. Em casos mais graves, quando o aparelho não resolve, é necessário partir para a cirurgia. Mas a chupeta traz não apenas problemas dentários como também distúrbios respiratórios. É comum vermos no consultórios a respiração bucal em pequenos que utilizam a chupeta e, geralmente, essas crianças são muito alérgicas já que a passagem do ar fica mais estreita, trazendo rinite e outras complicações", ressalta a odontopediatra Gabriela Trindade.

As alterações que esse hábito causa no futuro pode se estender até a fala. "As alterações nos crescimentos dessas estruturas podem causar várias disfunções, como alterações no modo respiratório e na postura da língua, que pode comprometer a mastigação e prejudicar a fala. E como no momento que a criança está usando a chupeta não consegue falar, há ainda o perigo de comprometer a articulação do som. Os danos vão depender da intensidade e frequência com que o bico artificial é usado", defende a fonoaudióloga Cláudia Marina, professora do curso de fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente.

A estudante de direito Tayrine Ribeiro, 25 anos, mãe do pequeno Tiago, de 3 anos, enfrentou uma difícil batalha para retirar a chupeta dos hábitos do filho. "No início, Tiago não queria usar chupeta de jeito nenhum. Para mim era muito cansativo, porque sempre que ele chorava terminava procurando o peito. Com o tempo, comecei a introduzir a chupeta, mas na hora de tirar foi bem complicado. Tentamos de todas as formas trabalhar o psicológico dele, incentivando de várias maneiras. Quando comecei a esconder a chupeta, Tiago passou a chupar o dedo. O que era pior ainda", lembra.

Imagens de Tayrine Ribeiro e o filho, Tiago (Fotos: Acervo pessoal) Tiago, filho da estudante de direito Tayrine Ribeiro, deixou de usar a chupeta por volta dos dois anos (Fotos: Acervo pessoal)

A forma como o pequeno abandonou o hábito, apesar de inusitada, surtiu efeito e até serviu para que Tayrine compartilhasse o fato com outras mães que enfrentavam o mesmo problema. "Certo dia, quando ele estava fazendo xixi no banheiro da escola, a chupeta caiu no vaso sanitário. Ele chegou em casa contando a história e não pediu por outra. No outro dia, quando sugeriu que eu comprasse outra chupeta para ele, eu disse que todas as chupetas que vendiam na farmácia estavam sujas, como a que caiu no vaso. Passei as dicas para outras mães e funcionou para muitas", conta Tayrine.

Para a psicóloga Maria do Carmo Camarotti, psicanalista e coordenadora do Centro de Formação e Acompanhamento Ciclos da Vida, o uso da chupeta deve ser sim combatido mas não condenado. "A criança não pode usar a chupeta como um consolo eterno. É preciso que os pais fiquem atentos ao mau uso desse objeto. Existem outras formas de acalmar a criança, como a conversa, uma contação de história, um abraço. O uso abusivo não deve ser incentivado, mas tirar a chupeta de uma forma brusca não é a melhor opção", ressalta.

Evitar que o hábito passe do período recomendado pelos especialistas é essencial. Para isso, estar em contato regular com os profissionais que acompanham a criança é o passo mais importante. "A visita precoce ao dentista deve acontecer ainda no primeiro ano de vida do bebê, para que o especialista passe todas as recomendações necessárias para a saúde do bebê. Hábitos de nutrição, higiene bucal e dicas importantes sobre a chupeta e a mamadeira são algumas das informações repassadas aos pais. É importante seguir asa recomendações e respeitar o tempo da criança. Na grande maioria dos casos é sempre mas fácil do que se imagina. Às vezes a dependência é muito maior dos pais do que das crianças", explica Gabriela Trindade.

E chupar o dedo? Também é um hábito prejudicial?

Se o hábito de sucção faz com que muitos bebês não larguem a chupeta, chupar o dedo é ainda mais comum - e fácil para os pequenos. Esse costume instintivo muitas vezes começa ainda no útero. Assim como o bico artificial, pode causar todos os problemas já citados na matéria. "Usar luvinhas e vigiar sempre a criança são alguns dos muitos costumes para retirar o hábito de chupar o dedo. É importante também que os adultos não incentivem de forma alguma o costume de chupar o dedo, já que o dedo não temos como tirar do alcance da criança. O prejuízo a longo prazo é muito maior", ressalta a fonoaudióloga Cláudia Marina.

O pediatra Werther Brunow, coordenador do serviço de pediatria do Hospital Santa Catarina, em São Paulo, listou cinco ações que podem auxiliar os pais a combater este hábito. As dicas também valem para os pequenos que não largam a chupeta. Confira:

» Para crianças de até quatro anos de idade: após se desfazerem do hábito, alguns pequenos quando entram na escola ou no decorrer do crescimento, voltam a apresentar sinais do ‘vício de chupar o dedo’. Por isso, recomenda-se:

1. Substituir o dedo por outro objeto: desde que não seja prejudicial à saúde. Lembrando que nunca se deve utilizar nesta etapa alimentos que tragam ardência ao paladar infantil;

2. Utilizar a imaginação a favor da criança: desenhar personagens favoritos em seus dedos, ou, então, utilizar adesivos específicos para a pele com super-heróis para envolver a ponta dos dedos pode ser um importante aliado. Isso fará a criança refletir sempre antes de levar a mão à boca. No entanto, vale ressaltar a importância de SEMPRE acompanhar o pequeno para que não introduza o ‘papel’ na boca;

3. Paciência e busca de distração: quando a criança é muito nova, abaixo dos dois anos de idade, é preciso ter ainda mais paciência para acabar com este mau hábito. Ofereça mordedores a fim de entreter o pequeno e busque distraí-la sempre que levar os dedos à boca. Busque SEMPRE não reprimir ou constranger a criança.

» Para crianças acima dos quatro anos de idade:

1. Elogie: sim, o simples ato de elogiar a postura da criança quando faz algo correto auxilia muito na ‘correção de rumo’. Esta ação pode incentivá-la a abandonar de vez o mau hábito.

2. Conversas e informações precisas: a criança acima dos quatro anos já possui, de certa forma, mais ciência sobre seus hábitos e ‘vícios’. Explicar as consequências do que esta ação traz para sua vida, de uma forma lúdica e prazerosa (ao contrário do famoso sermão ou bronca), pode auxiliá-lo a corrigir o que esta simples açãopode trazer de ruim a sua própria vida.