
Como qualquer medicamento, o uso de anticoncepcionais orais oferece riscos e benefícios (Foto: Free Images)
A Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), a partir de petição que pressiona a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) a recomendarem a solicitação de exames laboratoriais para diagnóstico de trombofilia antes da prescrição de anticoncepcionais, faz alerta sobre o assunto.
A entidade informa que a literatura médica já reconhece, há anos, o risco de eventos tromboembólicos proporcionado pelo uso de anticoncepcionais combinados. Estudos populacionais, realizados ao longo das últimas décadas, mostram de forma clara que esse risco é influenciado também pela presença de diversos outros fatores como a idade, tabagismo, obesidade, sedentarismo, hipertensão, dislipidemias e história familiar de trombose, entre outros.
E mais: como qualquer medicamento, o uso de anticoncepcionais orais traz riscos e benefícios. A avaliação cuidadosa dessa equação para cada paciente é utilizada no Brasil e, em todo o mundo, como padrão para a indicação do uso desse tipo de medicação.
A partir da década de 1990, foram descobertas algumas deficiências de proteínas anticoagulantes e mutações protrombóticas que se associam a um maior risco de trombose. Conhecidos coletivamente como trombofilias hereditárias, a presença desses fatores, associada a outros fatores de risco para trombose, como o uso de anticoncepcionais, pode fazer elevar ainda mais a chance de se desenvolver um evento trombótico.
Mais do que fazer a investigação de trombofilia, a ABHH sugere:
- Avaliar todas as situações associadas ao risco de trombose antes da prescrição de terapia hormonal
- Considerar o possível benefício que a medicação poderá trazer
- Avaliar histórico pessoal e familiar de trombose
- Não fazer de rotina a investigação de trombofilia
- Caso identificada trombofilia, considerar a indicação de uso e tipo e dosagem hormonal a ser prescrito
- Lembrar que todas as pílulas aumentam o risco de trombose. Porém, o risco absoluto permanece baixo para todas elas;
- Conversar com a paciente sobre os possíveis efeitos colaterais e sinais e sintomas de trombose venosa profunda (TVP)
Sobre a trombose venosa profunda (TVP)
A trombose venosa profunda (TVP) e sua mais temida complicação, o tromboembolismo pulmonar (TEP), são manifestações cada vez mais diagnosticadas e comentadas. É preciso entender causas, complicações e tratamento para uma ampla discussão a respeito de métodos preventivos adequados.
A formação de coágulo em veias calibrosas é mais freqUente nos membros inferiores, mas pode ocorrer em qualquer parte do sistema vascular. A sua formação é decorrente, na maioria dos casos, de ativação indevida e exagerada do sistema de coagulação, com interrupção do fluxo venoso normal.
São várias as situações naturais e patológicas associadas à TVP. Entre elas, envelhecimento, sobrepeso e obesidade, tabagismo, varizes de membros inferiores, imobilização, gestação e puerpério e sedentarismo. Algumas doenças também são claramente relacionadas a uma maior chance de trombose, como dislipidemias, hipotireoidismo mal controlado, câncer, vasculites, cateteres intravenosos e infecções. A composição, quantidade e tipo de estrógeno e progesterona influenciam no risco de trombose a que a paciente está sujeita.
As trombofilias, assim chamadas por serem condições congênitas ou adquiridas que predispõem a trombose, fazem com que determinado indivíduo tenha maior capacidade de formação de trombos do que a média da população geral. As trombofilias não são todas iguais e algumas modificam pouco, outras aumentam enormemente esta tendência.
Não basta fazer a investigação laboratorial de trombofilia para concluir se uma pessoa pode ou não tomar anticoncepcionais e pode ser falsa a ideia de segurança, caso a investigação venha negativa. É necessário fazer toda a avaliação clínica pertinente, incluindo histórico pessoal e familiar.
O médico deve sempre conversar com sua paciente sobre os benefícios e a indicação do uso de terapia hormonal, assim como seus possíveis efeitos indesejados. Nos casos em que for indicado, deve realizar análise laboratorial complementar e, dessa maneira, decidir a melhor conduta terapêutica.