Pacientes do Oswaldo Cruz integram primeira sala de aula hospitalar do Estado

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 02/03/2015 às 19:30

Pacientes do HUOC Jovens pacientes, entre 4 e 15 anos, participam de aulas diárias para resgatar a importância da rotina escolar (Fotos: Malu Silveira/NE10)

No ambiente hospitalar, há um momento para o contato com os estudos, geralmente abandonados durante o tratamento contra o câncer. Assim é a rotina de 25 pacientes, entre 4 e 15 anos, internados no Centro de Onco-hematologia Pediátrica (Ceonhpe) do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, área central do Recife. Eles integram a primeira classe hospitalar de Pernambuco. O espaço, além de incentivar o aprendizado, resgata a vontade de superar os obstáculos diários para se concentrar em dias melhores. O nome da primeira classe não poderia ser outro: Semear.

O projeto começou de forma experimental em setembro de 2014 e, desde então, vem rendendo bons frutos. A iniciativa é fruto de parceria firmada na tarde de hoje (2/3) pelo prefeito do Recife, Geraldo Julio, com o Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer de Pernambuco (GAC/PE) e o Huoc. Os recursos financeiros vêm do Instituto Ronald Mcdonaldo. "Nós que trabalhamos no serviço público lidamos com projetos que são importantes pelo volume, mas muitas vezes temos que olhar também pela importância individual. Eu não tenho dúvidas que este projeto muda o resultado e o futuro destas pessoas em tratamento", afirmou o prefeito.

Os alunos, entre 4 e 15 anos, têm aulas diárias (de acordo com a possibilidade de cada um) de português, matemática, ciências, geografia e história. Com carga horária flexível, as aulas seguem as normas estabelecidas pelo Ministério da Educação no documento Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar. "Fazemos todo o trabalho de uma escola regular, mas tentamos executar de uma forma mais lúdica, pois não podemos desejar deles o que é exigido em uma escola regular", explica a professora Cristiane Rose Pedrosa, que acompanha as crianças desde novembro do ano passado.

Professora Cristiane Rose Pedrosa A professora Cristiane Rose acompanha os alunos desde o início do projeto

Para participar do projeto, coordenado pelo GAC/PE, as crianças e adolescentes internados no Oswaldo Cruz precisam estar matriculados em uma escola, independentemente do município de origem. Cada turma tem uma média de oito alunos, geralmente na mesma idade escolar. Uma aula regular geralmente dura cerca de quatro horas.

Já na classe hospitalar, os pequenos participam por uma hora de várias atividades pedagógicas, entre contação de histórias, brincadeiras com jogos educativos e tablets com programas inclusivos, além de outras ferramentas de aprendizado. "O que mais me impressiona é a vontade deles de aprender. As crianças aqui gostam de vir para a escola. É na classe que eles fazem a ligação com o mundo exterior", conta Cristiane.

Aqueles que não estão em condições de ir à aula são acompanhados pela educadora no próprio leito, na parte da manhã. Todos os recursos oferecidos pretendem dar suporte ao paciente, para evitar o abandono dos estudos ou o adiamento do início por causa dos constantes internamentos. "Este é um projeto construído a muitas mãos. Era algo que nos incomodava muito porque as perdas eram grandes. A escola dentro do hospital irá trazer um renascimento dentro de um cenário de muitas perdas", comemora a fundadora e presidente do GAC/PE, a oncologista pediatra Vera Morais.

Pacientes do HUOC Maria Tatiane da Silva, 14 anos (esq), e Thenifer Ventura, 8 anos, participam de todas as tarefas - entre leituras, contação de histórias, pinturas e atividades com tablets

A iniciativa não deve parar por aí. O objetivo agora é estender aos adolescentes que têm idade para frequentar o ensino médio. "Agora queremos multiplicar. Os nossos adolescentes ficaram de fora. Queremos buscar apoio da secretaria do Estado, já que ensino médio é com o Estado", conta a presidente do GAC.