Lava Jato

Paulo Roberto Costa sugere investigação sobre construção de navios e plataformas

Ana Maria Miranda
Ana Maria Miranda
Publicado em 13/02/2015 às 11:50
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O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa sugeriu à força-tarefa da Operação Lava-Jato que sejam levantados todos os contratos fechados entre a Petrobras e estaleiros instalados no Brasil para que se tenha uma ideia de qual foi o total de vantagem ilícita obtida pela diretoria de Serviços, comandada por Renato Duque. Em um dos depoimentos de sua delação premiada, divulgado na quinta-feira, Costa afirmou que a decisão de produzir navios para a Petrobras no Brasil “foi política e não técnica”, elevando os custos da estatal. Segundo ele, era muito mais barato e vantajoso encomendar de estaleiros da Coreia do Sul, por exemplo.

A encomenda de navios e plataformas de produção faz parte do orçamento da diretoria de Exploração e Petróleo. Em apenas dois anos, entre 2010 e 2012, o plano de investimento da área para um período de cinco anos saltou de US$ 118,8 bilhões (2010-2014) para US$ 141,8 bilhões (2012-2016), atingindo 60% de todos os investimentos realizados pela estatal.

Fazer essa encomenda cabia a Duque, que, segundo informações obtidas nas investigações, cobrava 3% de propina sobre o valor dos contratos. Ou seja, Duque e o PT podem ter levado US$ 4,2 bilhões.

O ex-gerente da diretoria de Serviços Pedro Barusco Filho, que também assinou acordo de delação premiada, afirmou que Duque recebeu propina, e dividiu com o PT, na instalação de pelo menos nove plataformas de exploração de petróleo (P-51, P-52, P-53, P-55, P-56, P-57, P-58, P-61 e P-63) e sobre os valores pagos para oito cascos de navios destinados à exploração do pré-sal. Segundo ele, um único operador de propina, Zwi Skornicki, teria intermediado pelo menos seis negócios com a Keppel Fels — empresa de Cingapura fabricante do navio-plataforma que explodiu no Espírito Santo na útima quarta-feira.

Costa afirma que dificilmente não houve cobrança de propina, pois muitos navios e plataformas estão sendo produzidos pelas mesmas empreiteiras listadas entre as 16 participantes do cartel que atuou nas obras de refinarias, como Abreu e Lima, e do Comperj, o complexo petroquímico do Rio de Janeiro.

O ex-diretor citou encomendas para o consórcio Quip (Queiroz Galvão, UTC e Iesa), que opera no porto do Rio Grande, e para o Estaleiro Atlântico Sul (Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Samsung). Segundo levantamento do GLOBO, o Quip foi o responsável por quatro destas plataformas (P-53, P-55, P-58 e P-63), dividindo parte do trabalho com o Estaleiro Atlântico Sul. O estaleiro Brafels, da Keppel Fels, ficou com cinco: P-51, P-52, P-56, P-57, P-61.

Muitos destes negócios tiveram financiamento oficial. A compra de sete cascos de navios pela Transpetro, subsidiária da Petrobrás, foi 90% financiada pelo BNDES, que repassou R$ 2,6 bilhões . O banco liberou ainda crédito de R$ 1,3 bilhão para financiar o Estaleiro Atlântico Sul, numa operação fechada em 2010.

CUSTO ALTO - Dados do Sinaval, o sindicato das empresas do setor, mostram que entre 2003 e 2013 os estaleiros em operação no Brasil participaram da produção de 16 plataformas e de seis navios. Até 2020, estão previstas outras 32 plataformas e 28 sondas.

Segundo informações de mercado, os navios produzidos no Brasil custam quase o dobro do preço internacional, que gira em torno de US$ 35 milhões. Cada plataforma pode custar US$ 2 bilhões e um navio-sonda cerca de US$ 1 bilhão.

Costa afirmou que também os negócios fechados fora do Brasil devem ser investigados. A Toyo Setal, segundo ele, que participou do cartel, também forneceu para a Petrobras lá fora.

A Schahin, que opera com arrendamento de navios nas bacias de Campos e de Santos, atua também na África e nos Estados Unidos, com contratos fechados pela Petrobras Netherlands, com sede na Holanda.

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