HIV

Aids ainda é tabu para relacionamentos amorosos e sexuais

Priscila Miranda
Priscila Miranda
Publicado em 01/12/2016 às 7:20
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Pernambuco registrou 23.923 casos de aids desde 1983 / Foto: Alexandre Severo/Acervo JC Imagem

Pernambuco registrou 23.923 casos de aids desde 1983 Foto: Alexandre Severo/Acervo JC Imagem

Há dois anos, João da Silva* descobriu que havia contraído o vírus da aids. Assim que soube, precisou de um tempo para digerir a notícia e, mais importante, ter coragem para contar para sua esposa, com quem vive há oito anos e tem uma filha de seis. Ele precisou de três dias para tomar a decisão e conversar com ela. 

A reação foi de espanto, mas ele percebeu que podia contar com o apoio dela. “Em momento nenhum ela decidiu terminar o relacionamento. Estamos juntos até hoje e ela se preocupa para que eu não esqueça de tomar os remédios”, afirma João.

Após a descoberta, os dois passaram a ter mais cuidado durante as relações sexuais. “Sempre com preservativo. Quando soube que tinha o HIV, levei ela para fazer exames. Chegou a pegar sífilis, mas o HIV deu negativo. Ela faz exames periodicamente”, comenta João.

A maneira como a companheira de João encarou o assunto infelizmente ainda é rara. João conta que somente ela e os pais deles sabem que ele soropositivo. O medo de contar para familiares e amigos o assusta. “Eu acho que haveria preconceito. Prefiro não contar, sei que vai existir, então é melhor evitar”, acredita.

De acordo com Wladimir Reis, coordenador do Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+), as pessoas soropositivas ao HIV se sentem desprotegidas e desconfortáveis para falar abertamente sobre o assunto. “Hoje o preconceito é mais sutil. Mas a discriminação é, muitas vezes, mandar a pessoa sair de casa. Pessoas de comunidades pobres quando descobrem que alguém está com a doença não dão um aperto de mão, ou abraçam. É uma situação horrível. As pessoas estão morrendo com medo", diz.

O coordenador alerta para a falta de conscientização sobre formas de prevenção e tratamento da aids. "A gente vê uma epidemia extremamente preocupante hoje. A cada 6 horas, uma pessoa se infecta em Pernambuco e isso é muito grave. Já estamos na quarta década da Aids e a população mais vulnerável é de pessoas muito jovens, que não vivenciaram a epidemia quando morreu Cazuza e Freddie Mercury. Eles não têm conhecimento e ação de política de pares para esclarecer dúvidas", comenta.

Outra crítica de Wladimir é em relação à falta de políticas públicas para combater a doença. "Já fomos referência no mundo na luta contra a aids, mas não têm mais editais públicos para efetivar ações para população mais vulnerável. Ano passado foram 500 óbitos só em Pernambuco. Não estamos falando só de números, mas de pessoas, de homens mulheres e crianças", alerta.

Dados sobre a aids

Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde aponta que 827 mil pessoas vivem com HIV/aids no Brasil atualmente. Desde 1983, Pernambuco registrou 23.923 casos de aids (quando o paciente já desenvolve os sintomas da doença), sendo 15.484 em homens e 8.439 em mulheres, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Entre 2014 e 2016, foram 3.106 casos (1.990 em homens e 1.116 em mulheres). 
 
A partir de junho de 2014, o Ministério da Saúde também instituiu a notificação das pessoas apenas infectadas com HIV, que são aquelas que possuem o vírus, mas ainda não desenvolveram a doença (aids). Desde julho de 2014 até 2016, já foram registradas 4.051 novas infecções, sendo 2.604 casos em homens e 1.447 em mulheres.
 
Em contrapartida, o Brasil registra queda na transmissão da aids de mãe para filho. Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos seis anos, houve redução de 36% na transmissão vertical da infecção. Essa diminuição seria consequência da ampliação da testagem aliada ao reforço na oferta de medicamentos para as gestantes.

Ações no Dia Mundial de Luta Contra a aids

Diversas entidades e órgãos realizam ações de conscientização sobre a aids nesta quinta (1º), quando celebra-se o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. O Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+) realiza uma série de atividades voltadas à prevenção de HIV/Aids junto à população.

Em frente à sede do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sintepe), no Centro do Recife, o público receberá orientações do GTP+ em parceria com o Sindicato. Durante a manhã serão realizadas testagens ao HIV, distribuição de insumos, como preservativos masculinos e femininos, informativos da instituição e demonstração do uso de preservativo. Como forma lúdica de comunicação, os personagens Lampião e Maria Bonita irão realizar esquetes teatrais da Campanha Quero + Com Camisinha.

Além dessas ações, o GTP+ marca presença na Audiência Pública para discutir sobre as política públicas de HIV/aids em Pernambuco, às 10h, na Alepe.

Já a Secretaria Estadual de Sáude vai reforçar com a população a importância de se prevenir contra o HIV, a aids e outras infecções sexualmente transmissíveis. Até às 12h, haverá uma ação na Estação Central de Metrô do Recife, no bairro de São José, para distribuição de material informativo e preservativos masculinos e femininos. 
 
A partir das 17h, no Pátio do Carmo, no bairro de Santo Antônio, serão atendidas 100 pessoas para realização de testes rápidos de HIV e sífilis. Também serão distribuídas camisinhas masculinas, camisinhas femininas, gel lubrificante e folder. 
 
*Nome fictício para preservar a identidade do entrevistado

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