Conscientização

Cólicas terríveis e infertilidade podem ser sinal da endometriose

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 02/03/2016 às 15:09
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Dores provocadas pela endometriose são descritas por especialistas como "incapacitantes" de tão fortes / Foto: FreeImages

Dores provocadas pela endometriose são descritas por especialistas como "incapacitantes" de tão fortes Foto: FreeImages

Cólicas menstruais muitas vezes são negligenciadas, até mesmo por quem as sente. Vistas como comuns, essas dores são um dos principais sintomas da endometriose, uma doença que além de causar forte desconforto pélvico, gera infertilidade em uma a cada dez mulheres em idade reprodutiva - de 15 a 49 anos. 

Embora o problema não seja raro, um levantamento da Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE) aponta que mais da metade das mulheres nunca ouviu falar deste mal e mais de 60% desconheciam os sintomas. Para popularizar o debate sobre o assunto, março foi eleito o mês mundial da conscientização da endometriose e é neste momento que diversas cidades brasileiras realizam marchas para chamar atenção para a doença.

Especialista em saúde reprodutiva, o ginecologista Antônio Pereira Filho explica que a endometriose é uma doença que se desenvolve quando o endométrio - tecido de revestimento do útero - cresce em outras regiões do corpo como ovários, tubas uterinas, intestinos, bexiga, entre outros. “Quando a mulher não é fecundada ela menstrua e as células do endométrio saem no sangramento. Mas na paciente que tem endometriose esse sangue se espalha por outros órgãos causando dor e pontos de acúmulo que prejudicam a fertilidade”, detalhou.

Até hoje, diversas teorias científicas tentam decifrar por que a endometriose se desenvolve, mas nenhuma delas crava uma resposta definitiva. Por enquanto, acredita-se que múltiplas causas se combinem para gerar a doença, como fatores genéticos, imunológicos, endócrinos e ambientais. “É uma doença que vem sendo estudada com muita intensidade de 40 anos pra cá. Hoje se sabe que a doença existe e que não é uma dor comum. Acredita-se que haja predisposição familiar e uma outra origem primária seria uma má formação do embrião (quando a mulher ainda está na barriga da mãe)”, ressaltou o ginecologista Antônio Pereira Filho.


Ilustração: Bruno de Carvalho/NE10

O desconhecimento sobre o tema é tanto que a jornalista Carolina Braz, 28 anos, precisou passar por oito médicos até encontrar o especialista com quem se trata hoje. Ela contou que nesta busca chegou a ouvir de dois médicos que o mais indicado seria se submeter a uma histerectomia total, eliminando qualquer chance de uma gravidez futura. 

“Desde que eu era adolescente sofria muito com cólicas e forte fluxo menstrual. Todo mundo dizia que era normal e que poderia ser ovário policístico ou qualquer outra coisa, menos endometriose, que nunca foi falada”, relembrou Carolina, que só foi diagnosticada com a doença em 2013. Ela conta que o primeiro a desconfiar foi o clínico geral de um hospital onde costumava ser levada para receber medicamento intravenoso contra as dores descritas como incapacitantes.    

Carolina precisou sofrer toda a adolescência para poder descobrir a endometriose

Carolina precisou sofrer toda a adolescência para poder descobrir a endometrioseFoto: cortesia

Para ter certeza do diagnóstico, Carolina foi submetida a uma ressonância magnética com contraste e gel. Após a confirmação, ela passou por duas videolaparoscopias para retirar os focos de acúmulo do sangue do endométrio. Hoje, ela usa anticoncepcional contínuo para suspender a menstruação por períodos, mas quando precisa parar a medicação, ainda sofre com as dores. 

“Além da dor, a gente tem que aprender a lidar com a informação de que terá dificuldades para engravidar. É uma pressão psicológica que também prejudica nesse processo e o que acaba ajudando muito é poder conversar com quem sofre o mesmo que você”, pontuou a jornalista que administra um grupo no WhatsApp no qual portadoras da endometriose trocam experiências. O contato com o grupo pode ser feito através do telefone (81) 9.9708.3792 ou na página da Associação de Apoio às Portadoras de Endometriose (Aspend-PE), no Facebook.

VIDA NOVA - Hoje mãe de duas meninas, uma de 8 e outra de 7 anos, a advogada e autora do blog Maternidade Sonhada, Taciana Lira, 40 anos, é uma das principais defensoras no Estado da conscientização sobre a endometriose. Ela descobriu ser portadora da doença há 15 anos, logo após se casar e iniciar as tentativas de ter um filho. “Passei um ano tentando engravidar e não consegui. Num exame de rotina, uma ultra endovaginal, os focos da doença foram detectados. Depois disso foram duas cirurgias, sendo uma invasiva, dois tratamentos hormonais que são como uma menopausa forçada e a informação de que eu só tinha 5% de chance de engravidar”, resumiu.

Taciana acredita que suas duas filhas são bênçãos, principalmente após saber  que só teria 5% de chance de engravidar

Taciana acredita que suas duas filhas são bênçãos, principalmente após saber que só teria 5% de chance de engravidarFoto: Rachel Girelli/cortesia

Sem desistir do sonho, a blogueira insistiu por seis anos em tratamentos de reprodução humana (uma inseminação artificial e três in vitro) até conseguir engravidar da pequena Mariana. Menos de um ano após o nascimento da primeira filha, Taciana recebeu a notícia de uma segunda gravidez, desta vez por vias naturais - sem qualquer indução médica. “O que pouca gente sabe é que o período que você passa grávida e sem menstruar é um ótimo 'tratamento' contra os focos da endometriose”, disse Taciana. 

Agora Taciana se dedica a trocar experiências com diversas mulheres que, por causa da endometriose ou não, tiveram dificuldade para ter filhos. Além disso, ela também conseguiu trazer a primeira edição da Endomarcha para o Nordeste. Marcada para o dia 19 de março, às 9h, no Parque da Jaqueira, na Zona Norte do Recife, a atividade deverá realizar atividades de conscientização sobre o tema, como distribuição de panfletos.

No mesmo dia, a Endomarcha 2016 também será realizada em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande e Florianópolis. “Essa atividade é em prol de cada uma das mais de 6 milhões de mulheres brasileiras que sofrem com a doença e com a falta de conhecimento, tanto da população, quanto da própria classe médica, sobre esse assunto que é tão sério”, explicou Taciana Lira.

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