São Paulo registrou o segundo caso de transmissão do zika vírus através de uma transfusão de sangue Foto: Reprodução
O diretor da Divisão de Hemoterapia do Hemocentro da Unicamp, Marcelo Addas Carvalho, explicou que o homem recebeu mais de 100 bolsas de sangue no período em que ele ficou internado, entre fevereiro e maio. Em abril, foi identificada uma queda de plaqueta. Encaminhou-se então uma amostra de seu sangue para o instituto Adolfo Lutz. A suspeita era de que ele estava com dengue.
"O teste deu negativo, mas o Adolfo Lutz, nos casos negativos para dengue, e com suspeita química de arbovirose (infecção viral por arbovírus, como zika e chikungunya), prossegue na investigação de acompanhamento epidemiológico", descreve Marcelo.
A confirmação de zika chegou para o Hemocentro em dezembro. Como o paciente ficou internado na UTI, a possibilidade de transmissão por mosquito foi reduzida, segundo Marcelo. Com isso, foi feito um rastreamento das bolsas de sangue utilizadas no atendimento deste paciente, na época em que identificaram a queda de plaqueta. Chegou-se a um doador, de 20 anos. Segundo Marcelo, só foi possível encontrar o homem porque havia amostras guardadas.
"O doador informou que, três dias após a doação, ele e pessoas de sua família tiveram quadro clínico de zika. Uma coisa interessante é que o paciente mesmo não apresentou nada", conta.
No primeiro caso, a Unicamp notificou a contaminação por transfusão em maio. O homem infectado, morador de Sumaré, havia doado sangue no Hemocentro de Campinas alguns dias antes de apresentar os sintomas, teve a iniciativa de ligar para o local para informar que estava com dengue. O hemocentro desencadeou então o processo de investigação da notificação, enviando a amostra de sangue desse doador para o Adolfo Lutz. O paciente receptor não desenvolveu a doença, nem apresentou sintomas. Os dois ficaram bem.
Segundo a secretaria Municipal de Saúde de Campinas, há seis casos na cidade, de zika, em investigação. Dezenove foram descartados.
TESTES - Após uma doação de sangue, são feitos testes para doenças de Chagas, sífilis, hepatites B e C e HIV. Dengue, zika e chikungunya não entram na lista. A orientação agora é que os doadores fiquem atentos quanto aos sintomas.
"O risco de transmissão por transfusão dessas doenças (as que estão na listagem) é muito alto. Já o risco maior de se pegar dengue e essas outras doenças é realmente pela picada do mosquito Aedes aegypti — frisa Marcelo: — Todo investimento em termos de segurança de saúde pública precisa ser feito em controle dos vetores e tratamento dos pacientes", continua.
Em nota, o Ministério da Saúde informa que a capacidade de infecção do vírus por transmissão sanguínea deve ser avaliada, além dos procedimentos de hemovigilância que devem ser adotados conforme novas descobertas. O órgão informa ainda que reforçou orientação aos hemocentros para que não deixem de realizar a triagem clínica (quando os candidatos apontam em questionário da doação a ocorrência de sintomas de doenças infecciosas), com atenção também aos sintomas de dengue, zika e chikungunya.