Dia Mundial do Câncer

Câncer na infância: inocência e esperança são aliados poderosos

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 04/02/2015 às 7:02
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Estima-se que, no Brasil, ocorram 9 mil novos casos de câncer por ano entre os indivíduos com idades entre 0 e 18 anos / Foto: Marília Banholzer/NE10

Estima-se que, no Brasil, ocorram 9 mil novos casos de câncer por ano entre os indivíduos com idades entre 0 e 18 anos Foto: Marília Banholzer/NE10

Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que somente em 2015, pelo menos 580 mil novos casos de câncer serão diagnosticados no Brasil. O número é considerado alto e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa situação já se tornou um evidente problema de saúde pública global. No meio deste tema que causa tanta apreensão dos pacientes e preocupação dos médicos, as crianças são as que mais se beneficiam de um ingrediente especial no tratamento dos diversos tipo de câncer: a esperança.



Quando chegou ao Hospital do Câncer de Pernambuco (HCP), no bairro de Santo Amaro, área central do Recife, José Guilherme, 13 anos, estava com medo. Ele que mora com a família em Exu, no Sertão pernambucano, só conhecia o câncer pelas notícias da televisão. “Tive muito medo. Sabia só que era só uma doença perigosa. Hoje, depois de começar o tratamento e ver minha perna ficar melhor, tenho menos medo. Só quero ficar bom e voltar pra casa”, contou o menino ao lembrar qual foi seu primeiro sentimento ao ser diagnosticado com linfoma, uma forma da doença que se origina nos linfonodos (gânglios) do sistema linfático.

De acordo com um do médicos que o acompanham, o oncologista pediátrico Tadeu Calheiros, o menino, que está internado há 18 dias no HCP submetendo-se a sessões de quimioterapia, já apresenta uma grande melhora. “Ele chegou aqui com diversos nódulos pelo corpo, um deles  prejudicava a circulação sanguínea na perna que estava muito inchada. Hoje ele está muito melhor, e não há indicativos, por enquanto, de precisar de qualquer cirurgia”, explicou o especialista.

Dona Rosa e Guilherme acreditam no tratamento para voltar rápido para casa

Dona Rosa e Guilherme acreditam no tratamento para voltar rápido para casaFoto: Marília Banholzer/NE10

Tímido, o garoto disse estar com saudade de casa e da família que ficou a 617 km de distância. “Gosto de jogar videogame, jogar bola. Sinto falta dos meus colegas e do meu irmão de 1 ano que ficou em casa”, resumiu Guilherme que conviveu por cerca de oito meses com o aparecimento de “caroços” pelo corpo até ser diagnosticado com câncer. “Eu levava ele no médico, fizemos duas biópsias nos caroços que deram negativo. Mas quando a perna começou a inchar ele recebeu o encaminhamento para cá [Hospital do Câncer] e já iniciou o tratamento”, lembrou a mãe do garoto, a agricultora Rosa Dutra Duarte, 32 anos.

ALERTA - Para o oncologista do HCP, Tadeu Calheiros, datas como o Dia Mundial do Câncer, lembrado nesta quarta-feira, 4 de fevereiro, servem para ressaltar a importância do diagnóstico precoce para um tratamento mais eficaz e que cause o mínimo de sequelas para o paciente. Especialista em pediatria, o médico alerta que, no caso das crianças, é necessário um acompanhamento médico contínuo para que qualquer suspeita possa ser identificada com a maior brevidade. “As pessoas precisam entender que câncer em criança não é uma regra, é a exceção, mas acontece e não é raro”, ressaltou o especialista.


Arte: Guilherme Castro/NE10

Mesmo representando a primeira causa de mortes por doença entre crianças e adolescentes de 0 a 18 anos no Brasil, o câncer tem 80% de chance de cura quando diagnosticado precocemente e tratado em centros especializados. “Essa alta taxa de curabilidade das crianças até 18 anos está relacionada não só ao seu sistema imunológico. Eu acredito que, quanto mais inocente a criança for, é mais fácil para nós, pediatras, pois elas não têm o medo que os adultos têm. Elas acreditam no tratamento, elas entendem o que passa ao seu redor, mas não perdem o ar infantil, não pulam etapas, continuam sendo crianças”, resumiu Tadeu Calheiros.

Antonília teve que abrir mão da vaidade em nome de sua saúde

Antonília teve que abrir mão da vaidade em nome de sua saúdeFoto: Marília Banholzer/NE10

Aos 18 anos, saindo da “infância”, a jovem Antonília Pereira, que mora em Itaquitinga, na Zona da Mata Norte do Estado, descobriu um tumor ósseo na perna direita. Hoje com 19 anos, ela está no sétimo mês de tratamento. A garota com ar de menina não esconde que sofreu, chorou, assustou-se, e até desacreditou do diagnóstico de osteosarcoma -  tumor maligno dos ossos que se propaga rapidamente para outros órgãos como pulmões.

“Tive que escolher entre perder a perna ou a minha vida e nó último mês de dezembro passei pela cirurgia de amputação. O médico teve que cortar na altura do joelho. Agora estou mudando de quimioterapia porque o tratamento anterior não estava funcionando e o câncer estava se espalhando, mas agora estou melhor”, resumiu Antonília sobre o que passou nos últimos meses após identificar um tumor “do tamanho de uma laranja” na perna.

Apesar de uma história que muitos se abateriam e desistiriam de encarar as dificuldades, a percepção da jovem de Itaquitinga é diferente. Ela sorri, brinca, faz planos e não tem pudores ao mostrar as sequelas da doença que tem enfrentado. Olhando com carinho para o noivo, Antonília se diverte ao cobrar o tão sonhado casamento. “Algumas pessoas dizem que querer ficar boa primeiro, eu quero é casar logo”, disse entre risadas e piscadas para o rapaz que lhe estendia mais um comprimido.

A garota que chorou e se perguntou como faria para dançar as quadrilhas juninas que tanto gostava e se preocupou em ficar “careca” após as sessões quimioterapia agora sorri ao pensar em fazer um curso técnico de segurança do trabalho. “Tenho esperança de voltar a estudar o mais rápido possível, conseguir uma próteses e seguir a minha vida”.

CÂNCER INFATOJUVENIL - Estima-se que, no Brasil, ocorram 9 mil novos casos de câncer por ano entre os indivíduos com idades entre 0 e 18 anos. Por isso, torna-se indispensável que os pais ou responsáveis observem os sinais dados pelas crianças e jovens e mantenham as consultas periódicas ao pediatra de confiança, que possui todo o histórico de saúde do menor.

Os tipos de câncer mais frequentes nessa faixa etária são as leucemias (que afetam os glóbulos brancos), os de sistema nervoso central, os linfomas (sistema linfático), e os chamados tumores sólidos, como o neuroblastoma (tumor de células do sistema nervoso periférico) e o tumor de Wilms (tipo de tumor renal). Entre os sintomas mais comuns que indicam algum tipo de câncer estão: manchas pelo corpo, febre, sangramentos sem motivo aparecente, aumento do volume abdominal e dores articulares ou nos músculos.

Caso seja identificado qualquer um desses sinais, a criança ou jovem deve ser encaminhado à uma unidade de saúde para que seja referendada ao serviço especializado. De acordo com o oncologista pediátrico Tadeu Calheiros, o Hospital do Câncer de Pernambuco recebe, de segunda a sexta-feira, crianças – até 18 anos – para passar por exames de diagnóstico. Hoje a unidade tem seis pacientes na Enfermaria Anjo Gabriel, ala pediátrica do serviço público do Estado.


No HCP, o ambulatório pediátrico tenta fazer a dor ser "esquecida" com atividades lúdicas

DIA MUNDIAL DO CÂNCER - O Instituto Nacional de Câncer (Inca) vai promover campanha nesta quarta-feira (4) para alertar a população sobre a importância da mudança de hábitos para evitar a doença. A campanha Qualidade de vida ao nosso alcance: escolhas saudáveis para prevenir o câncer contará com a participação de profissionais de saúde e personalidades ligadas à alimentação, esportes e práticas saudáveis. A iniciativa faz parte da agenda de eventos promovidos todos os anos para marcar o Dia Mundial do Câncer.  A data foi criada pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) com a intenção de chamar a atenção globalmente para a doença e desmitificar conceitos.

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