Hoje em dia, todo mundo fala inglês; será?

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Hoje em dia, todo mundo fala inglês; será?

Lorena Aquino
Publicado em 17/06/2019 às 13:00
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Christopher acredita que o inglês vem sendo cada vez mais valorizado no Brasil,
e cada vez mais pessoas estão se esforçando para aprender o idioma de verdade

O idioma foi o que permitiu que tantas pessoas estudassem fora do país, nos últimos anos, parte delas até com incentivos do governo. O brasileiro tem experimentado novas culturas e desenvolvido melhor suas habilidades no exterior. Mas se todo mundo fala inglês hoje em dia, como se destacar, então? Há quem diga que aprender uma terceira ou quarta língua já enche os olhos dos avaliadores, é claro. Mas, antes de se aventurar por um novo idioma, é importante não se esquecer de trabalhar a fluência e a desenvoltura em contextos onde o inglês realmente é exigido.

“Muitas empresas hoje em dia procuram por investimento externo, e nessas situações os funcionários precisam ter bom nível de inglês. As pessoas reconhecem a importância de ter inglês no currículo, mas não necessariamente reconhecem a importância de realmente falar inglês - até o momento em que eles precisam estar em uma reunião com pessoas de outros países. Eles percebem ‘Opa, calma aí, meu inglês não está tão bom quanto deveria estar’. É frequente esse choque”, aponta Christopher.

Saber falar inglês não é só compreender o que se lê e escuta, mas saber interagir
com fluência e desenvoltura em situações que exigem a aplicação da língua

E foi exatamente esse ponto que diferenciou o engenheiro João Adeodato, de 26 anos, durante a seleção de trainee do programa de lideranças da empresa onde trabalha, uma multinacional do ramo de alimentos. Ele começou a estudar inglês aos seis anos, na Cultura Inglesa, por incentivo da mãe. Muito além de apenas entender inglês, o estudo prolongado impactou na confiança, na fluência e na performance dele no uso da língua inglesa no contexto aplicado. Esse, sim, foi o diferencial, e ele venceu um seleção com milhares de candidatos de todo o país.

Aos 26 anos, João já viajou a trabalho para outros continentes e diz
que não teria chegado onde chegou sem saber falar inglês fluentemente

“Na entrevista, tivemos um momento em que o avaliador começou a falar inglês, e era sobre business. Tinha muitos termos ali que eu não tinha visto porque foi meu primeiro emprego, mas pelo fato de ter vivenciado muitas coisas no inglês eu consegui entender e desenrolar”, conta o jovem. “Você ter contato com a língua e ser exposto a ela durante mais tempo faz com que você entenda um pouco mais a mecânica do idioma, a formação de expressões, mesmo que desconhecidas. A desenvoltura na hora de falar também é maior”, detalha.

Estar dentro de uma multinacional confirmou a João que falar inglês, atualmente, não é mais vantagem e sim um requisito básico, especialmente em multinacionais e empresas com negócios fora do país. “Acho que o diferencial agora é a fluência, a oratória. Você só consegue com muita exposição à língua, com prática, exercício, é questão de tempo. Eu odiava ir para a aula de inglês duas vezes na semana enquanto meus amigos iam jogar bola na rua, mas hoje sou muito grato à minha mãe”, diz.

A mãe em questão é a médica anestesista Nelbe Cyreno, de 62 anos. Desde muito cedo ela acreditou que o inglês era a língua que movia e moveria o mundo no futuro, e quis dar aos filhos as melhores oportunidades que pôde. “Na globalização não tem isso de não saber inglês. Quem não sabe já começa perdendo. Não se admite hoje em dia que um jovem que se forma em qualquer que seja a área, não saiba falar inglês. Hoje em dia é uma obrigação”, reforça. E mais, ela mesma acredita que nunca é tarde: também se matriculou na Cultura Inglesa quando se aposentou, há dois anos.

Esse é o perfil de boa parte das famílias que matriculam os filhos, desde cedo, em atividades para inserir o inglês no cotidiano. A geração atual de pais valoriza mais a língua inglesa e reconhece o peso que foi não ter aprendido a língua durante a vida adulta – ou, do outro lado da moeda, reconhece que ter aprendido o idioma abriu muito mais portas do que se imaginava.

Crianças estão tendo contato com o idioma cada vez mais cedo,
o que pode promover ganhos no aprendizado da língua no futuro

Christopher garante que esse papel familiar é importante, uma vez que é mais difícil para os jovens visualizarem o uso da língua em longo prazo. “Inglês é útil para eles porque dá acesso ao que está acontecendo internacionalmente em termos de cultura e entretenimento. Não acho que as crianças e os adolescentes entendam a importância do inglês para o futuro. Mas para isso é que temos os pais. Vi o reconhecimento da importância do inglês aumentar dramaticamente ao longo dos anos”, prossegue.

E as oportunidades se abrem de verdade: durante o trainee, João Adeodato passou três meses na Suécia em um intercâmbio da empresa, com funcionários de todo o mundo. “Mais uma vez a língua funcionou como uma ferramenta de trabalho pra mim. Eu não estaria onde estou sem inglês”, alegou. Ainda em 2019, João deve ir a Chicago, nos Estados Unidos, também em nome da empresa em que trabalha.

A voz dos contratantes

Quem está tentando entrar no mundo corporativo muitas vezes valoriza a construção longas carreiras, em grandes empresas. Frequentemente, as instituições têm investimentos fora do país e precisam lidar com clientes que sequer falam português. Esse contato com clientes no exterior é feito desde o atendimento, em posições de entrada, até os cargos mais altos, que fecham negócios na prática.

Mirna Machado, diretoria de soluções de uma multinacional na área de Tecnologias da Informação, confessa que tem dificuldades em encontrar mão de obra qualificada para os cargos mais altos. “Na área técnica, a pessoa precisa com certeza saber ler e escrever, porque muito do nosso material sobre tecnologia está em inglês. Quando você sobe uma camada e vai para a gestão, os profissionais precisam pensar em desenvolver lideranças e atuar fora do Brasil, então é obrigatório que você saiba se comunicar em uma reunião. É nessa camada que eu tenho mais dificuldade”, relata.

O argumento é que, no âmbito das multinacionais, o Brasil não é o limite, e quem não se prepara passa a impressão de que não consegue ver além das fronteiras. “Não importa mais se meu cliente está ou não está aqui. Para atender qualquer demanda, independente de um cliente ser brasileiro ou não, eu preciso estar preparada. O inglês hoje perpassa por todas as camadas porque você nunca sabe com quem vai lidar, então é necessário mesmo nas atividades mais básicas”, finaliza.

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