Investigação

Le Monde revela suspeitas de corrupção na escolha do Rio para Olimpíadas de 2016

Cássio Oliveira
Cássio Oliveira
Publicado em 03/03/2017 às 8:40
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 / Foto: Reprodução / Le Monde

Foto: Reprodução / Le Monde

Em matéria publicada nesta sexta-feira (3), o jornal francês Le Monde revela que há suspeitas de corrupção na escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Segundo o diário, "um grande empresário brasileiro" teria pago cerca de US$ 1,5 milhão ao filho de um integrante do Comitê Olímpico Internacional (COI) durante o processo de escolha da cidade que abrigaria o evento.

O jornal afirma que a justiça francesa tem "elementos concretos" que colocariam em questão a integridade do processo de atribuição da sede dos Jogos Olímpicos à capital carioca. "O Rio teria trapaceado", ressalta a publicação.

De acordo com o jornalista Yann Bouchez, que assina a matéria, a holding Matlock Capital Group, nas Ilhas Virgens britânicas, que gerenciaria alguns negócios do empresário brasileiro Arthur Cesar de Menezes Soares Filho, teria depositado no dia 29 de setembro de 2009 - três dias antes da eleição do Rio como sede das Olimpíadas de 2016 -, US$ 1,5 milhão ao filho de Lamine Diack. Na época, Diack era presidente da Federação Internacional de Atletismo (FIA) e membro do Comitê Olímpico Internacional (COI).

"A justiça francesa suspeita de manobras destinadas a comprar votos dos membros do COI. Na França, uma investigação preliminar foi aberta em dezembro de 2015 pelo Ministério Público francês, que trabalhava, há alguns meses, sobre suspeitas de corrupção na cúpula na FIA", diz a matéria.

Madri era favorita para sediar as Olimpíadas 2016

O le Monde ainda lembra que Madri, na Espanha, era a favorita no início do processo, mas, no terceiro turno da eleição, após a eliminação de Tóquio, a capital fluminense bateu a concorrente espanhola por 66 votos contra 32.

Amargurado com a eliminação, o governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, chegou a denunciar "uma lógica invisível colocada em prática para atribuir a sede dos Jogos Olímpicos ao Rio". Le Monde também sublinha que, na época, Ishihara mencionou que o então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, teria ido a Copenhague, onde a eleição foi realizada, e feito promessas "ousadas" a membros africanos do COI.

"Mais que uma lógica invisível ou promessas ousadas, são duas importantes movimentações financeiras que permitem, anos mais tarde, pensar em irregularidades no processo de eleição", salienta a matéria do Le Monde.

Documentos transmitidos pelo Fisco americano à justiça francesa mostraram que no dia 29 de setembro de 2009, três dias antes do voto crucial em Copenhague, a empresa Matlock Capital Group transferiu, de Miami, US$ 1,5 milhão de dólares à sociedade Pamozi Consulting, de Papa Massata Diack, em Dakar, no Senegal. No mesmo período, uma transferência de US$ 500 mil, também proveniente de Matlock Capital Group, foi efetuada para uma conta de Diack na Rússia.

Le Monde escreve que os investigadores puderam estabelecer que a Matlock Capital Group, holding nas Ilhas Virgens britânicas, gerenciava negócios de Arthur Cesar de Menezes Soares Filho. O jornal aponta que o empresário possui residência em Miami, de onde foram feitas as transferências da Matlock Capital Group.

Proprietário na época do Grupo Facility, que vendeu em 2014, o bilionário brasileiro tinha "excelentes relações", segundo o jornal, com Sérgio Cabral, governador do Rio de 2007 a 2014 e atualmente preso. "Arthur Soares e Sérgio Cabral se conhecem bem: os dois homens tinham o hábito de se hospedar em suas luxuosas vilas de Mangaratiba, cidade balneária no oeste do Rio".

Contatado pelo jornalista Yann Bouchez, Papa Massata Diack apenas respondeu "boa sorte com sua matéria". O repórter também não conseguiu falar com Arthur Soares. Já o diretor de Comunicações da Rio-2016, Mario Andrada, respondeu: "A eleição do Rio foi clara: 66 votos contra 32. Foi uma vitória clara. Estamos 200% tranquilos sobre o fato que não fizemos nada fora das regras".

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