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Policial turco mata embaixador russo aos gritos de 'Alá é Grande'

Ingrid
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Publicado em 19/12/2016 às 19:48
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O embaixador russo não resistiu aos ferimentos e morreu após o ataque que aconteceu na véspera de uma reunião crucial sobre o conflito sírio. / Foto: Hassim Kilic / Hurryet / AFP

O embaixador russo não resistiu aos ferimentos e morreu após o ataque que aconteceu na véspera de uma reunião crucial sobre o conflito sírio. Foto: Hassim Kilic / Hurryet / AFP

Um policial turco à paisana assassinou nesta segunda-feira o embaixador russo na Turquia, aos gritos de "Aleppo" e "Allahu Akbar" (Alá é Grande), um incidente que Moscou qualificou de "ato terrorista".

Andrei Karlov não resistiu aos ferimentos e morreu após o ataque, cometido durante uma exposição de fotos e na véspera de uma reunião crucial entre os ministros das Relações Exteriores russo, turco e iraniano sobre o conflito sírio.

Imagens exibidas na TV mostravam o homem, vestindo terno preto, camisa e gravata, empunhando uma arma e gesticulando em um centro de exposições em Ancara, onde o diplomata estava inaugurando uma amostra russa de fotografias.

» Atenção: o vídeo contém cenas fortes


 

As autoridades turcas identificaram o assassino como Mevlüt Mert Altintas, um policial de 22 anos. Por enquanto não estava claro se integrava o dispositivo de segurança mobilizado na exposição.

Sua residência foi revistada, anunciou a promotoria. Seus pais e sua irmã foram detidos, noticiou a agência Dogan. Segundo o ministro turco do Interior, o assassino foi "neutralizado". Nas redes sociais foram compartilhadas imagens em que ele era visto no chão, aparentemente morto, com impactos de bala em uma parede atrás dele.

"Hoje, em Ancara, como consequência de um ataque, o embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov, sucumbiu aos seus ferimentos", afirmou de Moscou a porta-voz do ministério russo das Relações Exteriores, Maria Zakharova, em declarações à televisão. "Qualificamos o que aconteceu de um ato terrorista (...) Os assassinos serão castigados", disse a porta-voz.

Na capital turca, o prefeito de Ancara, Melih Gokcek, informou no Twitter que o "atacante era um policial". O jornal pró-governamental Yeni Safak noticiou que o atacante é membro das forças especiais, a chamada M.M.A..

Conhecido por seus comentários diretos, o jornal sugeriu que o policial poderia estar vinculado ao grupo de Fethullah Gulen, acusado pelas autoridades turcas de orquestrar o fracassado golpe de Estado de 15 de julho.

 

O atirador falou em 'Vingança'

O ataque aconteceu no Cagdas Sanatlar Merkezi, um destacado centro de exposições no bairro de Cankaya, onde fica a maioria das embaixadas, inclusive a russa.

"Aconteceu durante a inauguração da exposição", disse à AFP Hasim Kilic, jornalista do Hurriyet Daily, que estava no local. "Quando o embaixador estava fazendo um discurso, um homem alto, de terno, atirou para o alto e depois apontou para o embaixador", revelou Kilic.

"Disse algo sobre 'Aleppo' e 'vingança'. Ele mandou que os civis saíssem do local. Quando as pessoas estavam fugindo, atirou de novo", acrescentou.

Em imagens de vídeo, o embaixador aparece de pé em um púlpito para discursar na inauguração da exposição fotográfica "Rússia, de Kaliningrado a Kamchatka".

Ele cambaleia e cai no chão depois de receber os disparos. Seu corpo jaz no chão, o atacante empunha a arma e aterroriza as testemunhas. O assassino grita "Allahu Akbar" ("Alá é grande") e depois jura lealdade à jihad em árabe, segundo as imagens.

Falando depois em turco, ele diz: "Não se esqueçam da Síria, não se esqueçam de Aleppo. Todos os que participam desta tirania serão responsáveis".

Reação internacional do ataque em Ancara

O incidente ocorreu dias depois dos protestos na Turquia contra o papel da Rússia na Síria, embora agora Moscou e Ancara estejam trabalhando juntas na evacuação em Aleppo, e um dia antes de o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, e seus contrapartes russo, Sergei Lavrov, e iraniano, Mohamad Javad Zarif, se reunirem em Moscou para tratar do conflito sírio.

Andrei Karlov, de 62 anos, era um diplomata experiente, que contribuiu com o relançamento das relações entre Ancara e Moscou, abaladas por fortes turbulências. Casado e pai de um filho, serviu nas duas Coreias e foi embaixador de Pyongyang de 2001 a 2006.

Ele tinha sido nomeado embaixador da Turquia em 2013, enquanto Moscou e Ancara buscavam reforçar seus laços comerciais apesar dos desacordos profundos sobre o conflito na Síria.

Em novembro de 2015, as relações bilaterais foram abaladas depois que um caça turco foi abatido por um avião de combate russo ao longo da fronteira síria, um ato denominado por Moscou de "punhalada nas costas".

Sete meses após este incidente, o presidente russo, Vladimir Putin, e seu contraparte turco, Recep Tayyip Erdogan, começaram a superar suas diferenças.

Putin qualificou o assassinato do embaixador russo de "provocação" destinada a minar os laços bilaterais. "O crime que foi cometido é, sem sombra de dúvida, uma provocação destinada a perturbar a normalização das relações turco-russas e o processo de paz na Síria", declarou à TV russa.

"Só pode haver uma resposta para isto: intensificar a luta contra o terrorismo e os bandidos vão sentir isso", acrescentou Putin, durante um encontro com o chanceler russo e os chefes das agências de Inteligência doméstica e externa.

"Nós sabemos que se trata de uma provocação com vistas a (...) prejudicar o processo de relações de normalização das relações entre a Turquia e a Rússia", afirmou Erdogan, em declarações transmitidas pela TV. Os Estados Unidos condenaram o que chamou de "ato de violência, qualquer que tenha sido a origem".

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