Conflito

China adverte Trump sobre as consequências de reconhecer Taiwan.

Maria Luisa Ferro
Maria Luisa Ferro
Publicado em 12/12/2016 às 8:29
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País asiático advertiu Trump por aproximação com Taiwan, inimigo chinês / Foto: AFP

País asiático advertiu Trump por aproximação com Taiwan, inimigo chinês Foto: AFP

A China advertiu nesta segunda-feira (12) Donald Trump para as graves consequências de uma eventual retomada das relações oficiais entre Estados Unidos e Taiwan, um dia depois de o presidente eleito americano ter citado a possibilidade, deixando de lado quase 40 anos de compromisso de Washington com Pequim. "Tomamos conhecimento das informações e estamos gravemente preocupados", afirmou o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang, em referências às declarações de Donald Trump no domingo ao canal Fox.

Desde o início do mês, Trump fez várias declarações que comprometem as relações de Washington com Pequim. O gigante asiático pareceu receber com benevolência a notícia da eleição de Trump em 8 de novembro e, de fato, em um primeiro momento voltou as baterias contra Taiwan, atribuindo as ações do bilionário a sua "inexperiência" diplomática. Mas isto acabou nesta segunda-feira. 

"A questão de Taiwan afeta a soberania e a integridade territorial da China. Está ligada aos interesses fundamentais da China. O respeito do princípio de uma só China é a base do desenvolvimento das relações China-EUA", recordou Geng.

Pequim impõe o reconhecimento deste princípio a todo país com o qual mantém relações diplomáticas. O princípio impede qualquer independência formal de Taiwan, separada politicamente do continente desde 1949 e que Pequim deseja unificar com o restante da China. O nome oficial de Taiwan continua sendo "República da China". "Não entendo por que temos que estar atados a essa política, a menos que consigamos um acordo com a China sobre outros temas, incluindo o comércio", disse Trump no domingo.

O presidente eleito já havia omitido o princípio de "uma só China" no início de dezembro, ao atender uma ligação telefônica da presidente Taiwan, Tsai Ing-wen, para irritação do governo chinês.

Uma 'técnica de negociação'? 

Com as declarações, Trump rompe com a linha de conduta seguida pelos presidentes americanos desde o estabelecimento de relações diplomáticas com Pequim em 1979, que consiste em não manter relações oficiais com a ilha, o que nunca impediu Washington de vender armas a Taiwan. Se o governo dos Estados Unidos romper o compromisso, "o saudável e estável crescimento da relação China-EUA, assim como a cooperação bilateral em grandes áreas estariam fora de questão", advertiu o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores.

A imprensa chinesa também não perdeu tempo e fez advertências ao futuro ocupante da Casa Branca. Se o próximo presidente americano apoiar abertamente a independência de Taiwan e aumentar a venda de armas à ilha, Pequim poderia então passar a respaldar "forças hostis aos Estados Unidos", advertiu o jornal nacionalista Global Times.

Ao mesmo tempo, outras vozes defendem a prudência, como Wu Xinbo, especialista em relações sino-americanas na Universidade Fudan, em Xangai, que considera as declarações de Donald Trump uma "técnica de negociação". "Ele sabe que a questão de Taiwan é extremamente delicada para a China", recorda o analista.  "Por isto ele joga esta carta, esperando obter concessões da China nas questões comerciais que o preocupam", opina. 

Xinbo considera que Pequim não deveria reagir com grande intensidade. "Deve-se esperar que tome posse (em 20 de janeiro) e ver o que fará concretamente", destaca. Mas a questão taiwanesa não é a única divergência do novo presidente americano com o gigante asiático. Trump já acusou Pequim de desvalorizar sua moeda para favorecer as exportações, de construir uma "enorme fortaleza" no Mar da China meridional e inclusive de não fazer o suficiente para frear as ambições nucleares da Coreia do Norte.

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