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Trump: empresas que deixarem EUA enfrentarão 'consequências'

Maria Luisa Ferro
Maria Luisa Ferro
Publicado em 02/12/2016 às 6:51
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Trump fez declarações polêmicas durante visita ao estado de Ohio nessa quinta (1º) / Foto: AFP

Trump fez declarações polêmicas durante visita ao estado de Ohio nessa quinta (1º) Foto: AFP

As companhias que deixarem os Estados Unidos em busca de custos menores em outros países enfrentarão "consequências" - ameaçou nessa quinta-feira (1º) o próximo presidente americano, Donald Trump, que também ofereceu corte de impostos e regulamentações empresariais. "As companhias não vão abandonar os Estados Unidos sem consequências. Não vai acontecer", disse Trump, durante visita à fábrica de aparelhos de ar condicionado Carrier em Indiana, que se recusou a reposicionar mil postos de trabalho no México.

Em sua proposta para conter a fuga de empresas, Trump prometeu reduzir impostos e cortar as regulamentações que "esmagam" as indústrias e os pequenos negócios. "Seus impostos estarão no mais baixo e suas regulamentações desnecessárias desaparecerão. Precisamos de regulamentações por segurança e pelo ambiente. Mas a maioria das regulamentações não faz sentido", disse o bilionário republicano.

Ao ressaltar que seis das oito companhias americanas de ar condicionado estão realocadas no México, Trump insistiu: "Não toleraremos mais". "Abandonar o país vai ser muito, muito difícil", insistiu. "Gostamos do México. Estive há três meses com o presidente do México, um cara incrível, mas devemos ter um tratamento justo. Não recebemos nada", afirmou, reiterando as críticas de campanha contra o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês). "Temos o Nafta, que é um desastre total", afirmou. Trump também reiterou sua promessa de construir um muro na fronteira com o México. "Acreditem em mim, vamos construir esse muro", afirmou.

O magnata nova-iorquino fez da Carrier um símbolo desde que a fábrica anunciou que não vai transferir os mil empregos para o México, garantindo na última terça-feira (29) no Twitter ter "chegado a um acordo com o presidente eleito". Em nota publicada depois, a empresa explicou que os "incentivos propostos pelo Estado (de Indiana) tiveram um papel importante" na decisão.

"O estado de Indiana ofereceu a Carrier um pacote plurianual de US$ 7 milhões, acompanhado de condições de emprego, de manutenção de postos de trabalho e de investimentos financeiros", relatou a filial do gigante United Technologies, nessa quinta-feira. Segundo veículos da imprensa americana, também receberá benefícios fiscais por seis anos.

Indianápolis foi a primeira parada de Trump em uma "turnê da vitória" por estados industriais, onde pavimentou seu caminho à Casa Branca com a mensagem de que devolverá empregos em uma região deprimida pela realocação de empresas para outros países. Acompanhado de seu vice-presidente, Mike Pence, que também é governador de Indiana, Trump narrou em detalhe como, durante um telefonema, forçou o braço do presidente do grupo United Technologies, Gregory Hayes, presente na sala.

Também ironizou aqueles que o criticam por menosprezar, com essa postura, a função presidencial. "Eles dizem que não é presidencial ligar para esses grandes líderes empresariais. Acho, pelo contrário, que é muito presidencial e, se não for, tudo bem", minimizou.

Os empregos salvos representam, porém, apenas uma mínima parte do problema. No Twitter, o economista Paul Krugman calculou que um acordo similar semanal durante quatro anos devolveria apenas 4% de todos os postos de trabalho desaparecidos desde 2000.

A proposta de Trump abarca, principalmente, reduzir impostos, de 35% a 15% "com sorte", e eliminar regulações "sem sentido" que "esmagam" os negócios. O ex-pré-candidato democrata à presidência Bernie Sanders denunciou uma "solução que apenas piora o problema de desigualdade nos Estados Unidos". "Em vez de um (pagamento de) impostos, a empresa vai-se beneficiar de uma redução de impostos. Uau! (...) Como é que isso pune as companhias que se mudam dos Estados Unidos?", ironizou.

Na localidade de Huntington, 700 empregados de uma fábrica de microprocessadores pertencente à United Technologies temem por sua estabilidade, já que a empresa planeja deslocar a produção para o México em 2018. A taxa de desemprego é de 4,4% em Indiana, onde as empresas buscam pessoal altamente qualificado, como nos setores de Tecnologia da Informação, ou fabricação automatizada. A "turnê" de Trump continuou, nessa quinta, no também industrial estado de Ohio.

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