Conflito

ONU discute planos de trégua na Síria; combates em Aleppo prosseguem

Ingrid
Ingrid
Publicado em 08/10/2016 às 14:54
Leitura:

Uma das propostas, apresentada pela França, pede o fim dos bombardeios em Aleppo. / Foto: Georges Ourfalian / AFP

Uma das propostas, apresentada pela França, pede o fim dos bombardeios em Aleppo. Foto: Georges Ourfalian / AFP

Os combates entre o regime sírio e os rebeldes se intensificavam no coração de Aleppo neste sábado (8), enquanto se espera que o Conselho de Segurança da ONU discuta duas propostas de trégua para a Síria muito diferentes entre si.

Uma das propostas, apresentada pela França, pede o fim dos bombardeios em Aleppo, segunda maior cidade da Síria, enquanto a outra, defendida pela Rússia, pede simplesmente o cessar-fogo.

Duas semanas depois do lançamento de uma ofensiva de grande envergadura sobre Aleppo do exército sírio, com o apoio de Moscou, as tropas de Damasco seguiam avançando palmo a palmo, ganhando terreno dos rebeldes por três eixos.

Aleppo é o principal foco do conflito que arrasa há mais de cinco anos a Síria, que deixou mais de 300.000 mortos, provocando a pior tragédia humanitária desde a Segunda Guerra Mundial.

A parte oriental da cidade, onde os rebeldes estão mobilizados, foi arrasada por bombardeios muito intensos, que deixaram centenas de mortos e destruíram as infraestruturas civis.

"A batalha se desenrolava no centro, especialmente no bairro de Bustan al-Basha, onde o exército está avançando, no sul, em Sheikh Said, e na periferia norte, onde o regime tomou o bairro de Uwayja", explicou à AFP o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.

A ONG informou que desde o início da ofensiva de Damasco e Moscou, em 22 de setembro, 290 pessoas morreram, a maior parte delas civis, incluindo 57 menores de idade. Enquanto isso, nos bairros controlados pelo governo 50 civis morreram, entre eles nove crianças.

Durante o dia, os bombardeios se concentraram sobretudo nas zonas de combates, informou o correspondente da AFP na parte rebelde.

 

Mais perigoso que a Guerra Fria 

Em alusão à tensão cada vez mais palpável entre Estados Unidos e Rússia, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, disse em uma entrevista publicada neste sábado que o período atual é "mais perigoso" que a Guerra Fria.

"É uma ilusão pensar que se trata da antiga Guerra Fria. A época atual é diferente, mais perigosa", declarou o ministro alemão. "O risco de um confronto militar é considerável", acrescentou.

Na sexta-feira, o secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault, denunciaram em Washington que o regime sírio cometeu "crimes de guerra" em Aleppo ao bombardear hospitais e escolas. No antigo pulmão econômico da Síria, há 250.000 habitantes sitiados há quase dois meses.

Kerry denunciou "uma estratégia organizada para aterrorizar os civis e matar qualquer um que esteja no caminho de seus objetivos militares".

Após a reunião com Kerry, Ayrault anunciou que irá à sede da ONU para defender um projeto de resolução apresentado pela França para estabelecer um cessar-fogo em Aleppo e proibir o voo de aviões de guerra sobre a cidade.

Ao mesmo tempo, o Conselho de Segurança votará um projeto de resolução proposto pela Rússia convocando simplesmente o cessar-fogo em Aleppo, mas que não menciona os bombardeios. Os 15 membros do Conselho decidirão sobre a proposta da Rússia imediatamente depois de votarem a da França.

O texto da Rússia, obtido pela AFP na sexta-feira, pede "a instauração imediata de um fim das hostilidades, especialmente em Aleppo", e solicita a todas as partes que permitam o acesso da ajuda humanitária.

O embaixador britânico na ONU, Matthew Rycroft, rejeitou o texto, estimando que se trata de uma manobra russa destinada cinicamente a "desviar a atenção da necessidade de deter os bombardeios sobre Aleppo".

Por sua vez, a Rússia ameaçou usar seu direito de veto para bloquear a proposta francesa. "Não vejo de que maneira poderíamos deixar que esta resolução seja aprovada", disse à imprensa o embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin.

O ministro francês advertiu que a votação deste sábado será "a hora da verdade para todos os membros do Conselho de Segurança (...) em especial para nossos sócios russos", pedindo "uma rebelião da consciência humana".

Mais lidas