Conflito

Bombardeios deixam dezenas de mortos na Síria

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 19/09/2016 às 22:27
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Seis civis, entre eles uma criança, morreram na cidade de Aleppo, e outros 22, no oeste da província / Foto: AFP

Seis civis, entre eles uma criança, morreram na cidade de Aleppo, e outros 22, no oeste da província Foto: AFP

Horas após a Síria decretar o final da trégua, vários bombardeios golpearam a província de Aleppo, deixando dezenas de mortos, incluindo 12 trabalhadores de um comboio de ajuda humanitária.  

Após a agência de imprensa síria SANA anunciar a decisão de Damasco sobre o fim da trégua, acusando os rebeldes "de não respeitar qualquer das disposições" do acordo, começaram os bombardeios em Aleppo. 

Seis civis, entre eles uma criança, morreram na cidade de Aleppo, e outros 22, no oeste da província, incluindo os 12 voluntários do Crescente Vermelho e motoristas de caminhões de ajuda humanitária. Além disso, mais quatro civis foram fatalmente atingidos no leste da província, de acordo com a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que cita dezenas de feridos.

O comboio humanitário seguia para Orum al-Kubra, na província de Aleppo, para entregar ajuda a cerca de 78 mil pessoas.

Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), "a situação no local é muito caótica".

"Estamos chocados com que trabalhadores humanitários e das missões voltem a sofrer com a brutalidade deste conflito", disse à AFP a porta-voz da Cruz Vermelha Ingy Sedky.

O chefe das operações humanitárias da ONU, Stephen O'Brien, se declarou "muito preocupado" e apelou a "todas as partes no conflito, uma vez mais, que adotem todas as medidas necessárias para proteger os atores humanitários, os civis e as infraestruturas civis, como exigem as leis humanitárias internacionais".

O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault, condenou o ataque "com a maior firmeza" e declarou que "a destruição de um comboio de ajuda humanitária que se dirigia a Aleppo ilustra a urgência do fim das hostilidades na Síria".

Acordo violado

Em um comunicado divulgado pela agência de notícias síria Sana, Damasco anunciou que a suspensão dos combates, anunciada há uma semana, terminou e acusou os grupos rebeldes "de não respeitar nenhuma das disposições" do acordo.

"O Exército sírio anuncia o fim da suspensão dos combates, que começou às 19h00 (13h00 de Brasília) de 12 de setembro de 2016, em virtude do acordo russo-americano", indicou.

Menos de uma hora após este anúncio, os setores de Aleppo controlados pelos rebeldes foram alvos de bombardeios aéreos e de artilharia, constataram jornalistas da AFP.

Os ataques alcançaram os bairros de Sukari e Amiriya, dois setores orientais da cidade, e também no norte da cidade, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A trégua apoiada pelas duas superpotências, Rússia e Estados Unidos, tinha por objetivo colocar fim a cinco anos de um conflito na Síria no qual mais de 300.000 pessoas morreram e milhões foram obrigadas a abandonar seus lares.

Mas depois de vários dias de uma relativa calma, os combates foram retomados progressivamente na maioria dos fronts, a ponto de um bombardeio da coalizão liderada pelos Estados Unidos ter atacado no fim de semana uma posição do exército sírio.

"Acreditava-se que a trégua deveria ser uma verdadeira oportunidade para terminar com este banho de sangue, mas os grupos terroristas armados descumpriram este acordo", indicou Damasco em um comunicado.

Por sua vez, Kerry, que negociou o acordo com sua contraparte russa, Serguei Lavrov, afirmou que a Rússia falhou em cumprir sua parte da trégua, mas que Washington está disposto a continuar trabalhando nela.

O general russo Serguei Rudskoi disse que, "considerando que as condições do cessar-fogo não estão sendo respeitadas pelos rebeldes, acreditamos que não tem sentido para as forças do governo sírio respeitá-la de forma unilateral".

Disse ainda que "o principal ponto" é que os rebeldes não se separaram em terra do grupo extremista Frente Fateh al-Sham.

A trégua estava por um fio no domingo depois que a coalizão liderada pelos Estados Unidos bombardeou no sábado uma colina controlada pelo exército sírio em Deir Ezzor (leste), onde as tropas de Damasco combatem o grupo extremista Estado Islâmico.

O presidente sírio, Bashar al-Assad, acusou nesta segunda-feira Washington de ter cometido "uma agressão flagrante".

Uma conselheira do presidente sírio, Buthaina Shaaban, disse no domingo à AFP que Damasco considera que "este ataque foi deliberado. Tudo era premeditado".

O porta-voz do departamento de Estado Mark Toner informou que Estados Unidos, Rússia e outros atores principais no processo de paz na Síria se reunirão nesta terça-feira, em Nova York, para discutir o fim do cessar-fogo.

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