Eleições Americanas

EUA têm direito de construir muro, diz Trump a Peña Nieto

Emilayne Mayara dos Santos
Emilayne Mayara dos Santos
Publicado em 01/09/2016 às 7:53
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Mesmo após recusa de Peña Nieto, Trump afirmou que o México vai pagar por 100% do muro / Foto: Jonathan Bachman/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP

Mesmo após recusa de Peña Nieto, Trump afirmou que o México vai pagar por 100% do muro Foto: Jonathan Bachman/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP

Em conversa com o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, nessa quarta-feira (31), o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu sua polêmica proposta de construir um muro entre os dois países, alegando que há "muito crime e problemas" na fronteira.

Os dois se reuniram na Cidade do México, um encontro duramente criticado por políticos, analistas e cidadãos mexicanos que desaprovam o discurso xenófobo do magnata nova-iorquino.

"Os Estados Unidos têm o direito de construir um muro fronteiriço", disse o magnata Trump em uma mensagem à imprensa, junto com Peña Nieto, o qual garantiu que o México não pagará essa obra.

"No início da conversa com Donald Trump deixei claro que o México não pagará pelo muro", escreveu Peña Nieto no Twitter.

O porta-voz da presidência Eduardo Sánchez assinalou à AFP que Peña Nieto reconheceu que "os Estados Unidos têm o direito de construir um muro em seu território", mas ele deve ser pago pelos americanos.

Trump disse acreditar no presidente mexicano para poderem resolver juntos os problemas na fronteira comum.

"Acho que o presidente e eu podemos resolver esses problemas (...). A imigração ilegal é um problema tanto para o México quanto para nós. As drogas são um tremendo problema tanto para o México quanto para nós. Não é uma via de mão única. Trabalharemos juntos e resolveremos esses problemas", manifestou Trump.

Sobre sua conversa privada com Peña Nieto, o magnata garantiu que tiveram uma "substantiva e construtiva troca de ideias" e que, para ele, foi importante apresentar sua perspectiva sobre o impacto da imigração ilegal e sobre o comércio entre ambos os países.

Peña Nieto é o primeiro presidente mexicano que se reúne com um candidato americano e que, além disso, oferece uma mensagem midiática conjunta, apesar de seu convidado não ser um chefe de Estado.

O presidente mexicano destacou a importância de se trabalhar em conjunto para conseguir uma fronteira mais segura, mas ressaltou a obrigação de conter o fluxo de armas e de dinheiro do vizinho do norte para organizações criminosas no sul.

"Muitas vidas podem ser salvas em ambos os lados da fronteira, se as organizações criminosas deixarem de receber armas e dinheiro (...) Ambos os países devem investir mais nisso (na fronteira), mais em infraestrutura, mais nas pessoas, mais em tecnologia para tornar mais segura e eficiente" a fronteira comum, declarou o mexicano.

Encontro repudiado

Trump desembarcou às 13h09 locais (15h09, horário de Brasília), no hangar presidencial do Aeroporto Internacional da Cidade do México.

Com esse surpreendente encontro, Trump busca reverter sua desvantagem nas pesquisas de intenção de voto em relação à sua oponente democrata, Hillary Clinton. O candidato tenta mostrar ao eleitorado americano que não é xenófobo, apesar de suas destemperadas declarações contra os imigrantes.

O convite do presidente mexicano surpreende, já que poucos americanos são tão impopulares nesse país quanto Trump. Ao longo da campanha eleitoral, o empresário teve no México um de seus alvos, causando um escândalo regional.

Além de acusar o vizinho de enviar seus piores elementos para os Estados Unidos - entre estupradores, criminosos e traficantes de drogas -, declarou que esses imigrantes tiram o trabalho de americanos e defendeu inúmeras vezes a construção de um grande muro ao longo dos mais de 3.000 km de fronteira binacional.

Embora ele tenha amenizado sua postura recentemente, postulando uma política "justa e humana", os mexicanos não esqueceram a dureza de sua retórica.

"Duvidosa forma de o presidente Enrique Peña Nieto defender o interesse do México e de conacionais na eleição dos Estados Unidos", disse à AFP o presidente da mesa diretora da Câmara dos Deputados, Jesús Zambrano.

Na mesma linha, o presidente do Senado, Roberto Gil, tuitou que a visita de Trump "legitima sua proposta de demagogia e de ódio".

"Ele nos ameaça com guerra e muros, mas lhe abrimos o Palácio Nacional", lamentou.

Hoje, cerca de 100 pessoas se aglomeraram no emblemático Anjo da Independência para mostrar seu repúdio ao americano.

"Trump, 'go home' e leva o Peña", lia-se em um dos cartazes.

"Não sei como ele foi convidar Trump", disse à AFP a atriz Leye Nedvedovich, enquanto Carmen Rodríguez, uma dona de casa de 70 anos, dizia-se "indignada que o presidente tenha convidado um cara que nos insulta e nos trata como criminosos".

"Sem uma desculpa pública de Trump a todos os mexicanos pelo que disse, não é alguém que seja bem-vindo ao México e menos ainda (na residência presidencial) em Los Pinos, sobretudo, porque não é um chefe de Estado", o ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda.

Castañeda concorda em que essa reunião "põe de bandeja para Trump uma oportunidade de se recuperar nas pesquisas, depois de tantas barbaridades que ele disse".

Para Castañeda, a visita de Trump ao México não tem lógica, "a menos que tenha negociado que pedirá perdão e que, saindo de Los Pinos, tenha um comunicado conjunto, e (...) que, chegando ao Arizona, faça um discurso onde diga que não vai mais insistir no muro, que não vai mais construí-lo".

A visita de Trump ao México acontece no mesmo dia de seu comício no Arizona, estado na fronteira com o México.

A bancada parlamentar do Partido da Revolução Democrática (de esquerda) emitiu um comunicado, considerando que "Peña Nieto comete um grave erro político, ao se deixar usar e ao servir aos interesses eleitorais desse mentiroso antimexicano".

"Embora tenham-no convidado, sabia que não é bem-vindo. Nós, mexicanos, temos dignidade e repudiamos seu discurso de ódio", escreveu a Donald Trump a mulher do ex-presidente Felipe Calderón (2006-2012), Margarita Zavala, possível futura candidata à Presidência pelo conservador Partido Ação Nacional.

Os Estados Unidos são o principal sócio comercial do México. Estima-se que vivam hoje nos EUA cerca de 11 milhões de pessoas em condição clandestina, a maioria mexicana.

Trump afirma que 'México' pagará 100% do muro

Apesar da recusa de Peña Nieto, Trump reafirmou que o México pagará 100% da construção do muro e prometeu excluir a regularização de imigrantes que entrem ilegalmente nos Estados Unidos.

"Vamos construir um grande muro na fronteira sul", disse Trump em um comício na cidade de Phoenix (Arizona), pouco depois de sua polêmica reunião com o presidente mexicano.

"O México vai pagar pelo muro, acreditem, 100%. Ainda não sabem disto (...), são gente grandiosa e líderes grandiosos, mas vão pagar pelo muro".

No mesmo discurso, Trump prometeu que se chegar à Casa Branca excluirá qualquer possibilidade de regularização para os imigrantes que entrem ilegalmente nos Estados Unidos.

"Nossa mensagem ao mundo será: você não pode obter status legal ou se tornar cidadão dos Estados Unidos entrando ilegalmente no nosso país. Apenas esta declaração deterá a crise dos imigrantes ilegais".

Trump realizou em Phoenix um de seus mais detalhados discursos sobre imigração, no qual reafirmou seus planos para reprimir os estrangeiros que vivem ilegalmente nos Estados Unidos.

"Você não pode simplesmente vir até aqui e esperar ser legalizado. Este tempo acabou".

"Para os que estão aqui ilegalmente e buscam status legal, haverá apenas um caminho: regressar ao seu país e apresentar um pedido para voltar sob as regras do novo sistema migratório", declarou Trump.

O candidato republicano declarou que sua prioridade será a deportação de criminosos e delinquentes cujos visto já venceram, além dos "milhões" de imigrantes ilegais "que entraram durante o atual governo".

Trump disse ainda que triplicará o número de funcionários da agência de imigração ICE e criará um departamento especializado na deportação dos criminosos mais perigosos.

O plano inclui ainda o cancelamento das ordens presidenciais de Barack Obama que protegem milhões de imigrantes ilegais da deportação e a suspensão do financiamento federal para as chamadas "cidades santuário", que proíbem a discriminação contra trabalhadores sem documentos.

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