França

Proibição de uso do burkini gera controvérsia na França

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 17/08/2016 às 15:42
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O uso do burkini "não é compatível com os valores da França", afirmou o premiê / Foto: AFP

O uso do burkini "não é compatível com os valores da França", afirmou o premiê Foto: AFP

A decisão de vários prefeitos franceses de proibir o uso do burkini, o traje de banho muçulmano, recebeu o apoio do primeiro-ministro Manuel Valls, mas não é um tema unânime na França e foi fortemente criticada no exterior.

Na quarta-feira, Valls se juntou ao debate e afirmou que "compreende" e "apoia" os prefeitos de estações balneárias como Cannes (sul) que, em um contexto de atentados jihadistas e aumento das tensões inter-religiosas, proibiram este traje que cobre o corpo inteiro, menos o rosto, as mãos e os pés, para "evitar alterar a ordem pública".

Três mulheres que usavam burkini foram multadas no fim de semana passado em Cannes e tiveram que pagar 38 euros cada uma.

Estes trajes de banho que pretendem preservar o pudor das mulheres muçulmanas são pouco comuns nas praias francesas, mas para Valls sua aparição recente é "a tradução de um projeto político, de contra-sociedade, fundado na opressão da mulher".

O uso do burkini "não é compatível com os valores da França", afirmou o premiê no diário regional La Provence.

Deputados de direita pediram inclusive que se fosse além e se fizesse respeitar a proibição do véu islâmico integral - a burca, que cobre inteiramente o corpo e a cabeça e tem uma rede sobre os olhos para permitir a visão, e o niqab, que cobre tudo menos os olhos - nos espaços públicos, aprovada em 2010.

Para a Liga de Direitos Humanos, Valls "participa da estigmatização de uma categoria de franceses que se transformaram, devido a suas crenças, em suspeitos".

Uma opinião compartilhada pelo porta-voz do partido comunista francês Olivier Dartigolles: "de certa maneira", o líder do governo "entra no jogo dos terroristas porque é justamente o que querem, a guerra de religiões, as tensões permanentes, entrar em uma guerra civil".

O Coletivo contra a Islamofobia na França anunciou que ia contestar na justiça todas as decisões municipais que proíbam o uso do burkini.

Mulheres 'instrumentalizadas'

O sociólogo Michel Wievorka, entrevistado pela AFP, disse que essa polêmica poderia alimentar a ideia no exterior de que a França "não é capaz de manejar bem, de forma democrática, através do debate, temas como o lugar do islã" no país.

Os meios europeus qualificaram a medida adotada em alguns balneários franceses como ridícula, discriminatória contra os muçulmanos e contraproducente na luta contra o islã radical.

"Uma vez mais as mulheres estão sendo instrumentalizadas em uma batalha ideológica (...) que deu uma guinada grotesca", opinou o jornal berlinense TAZ.

"Não há nenhuma evidência de que as mulheres que usam burkinis estejam relacionadas com o terrorismo, e não há nenhuma razão para que a sua proibição ajude a eliminar o fundamentalismo islâmico", disse o diário conservador britânico Daily Telegraph. "Isto poderia, pelo contrário, alienar os muçulmanos moderados", acrescentou.

Na Itália, o ministro do Interior, Angelino Alfano, se manifestou contrário à proibição do uso do burkini, afirmando que se trata de uma medida "inapropriada" e inclusive "perigosa".

As autoridades de um país têm "a responsabilidade de garantir a segurança" sem cair em "uma provocação capaz de suscitar ataques", explicou o ministro.

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