Terror na França

Para especialistas, reivindicação do atentado de Nice pelo EI é ambígua

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 16/07/2016 às 20:37
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O atentado com um caminhão deixou um saldo de 84 mortes, inclusive 10 crianças / Foto: AFP

O atentado com um caminhão deixou um saldo de 84 mortes, inclusive 10 crianças Foto: AFP

A reivindicação do atentado de Nice pelo Estado Islâmico (EI) é "ambígua", mas até agora este grupo extremista nunca assumiu a autoria de ataques de forma "oportunista", asseguram especialistas.

Através de sua agência Amaq, a organização informou que um de seus "soldados" realizou, na quinta-feira à noite, o atentado no qual morreram 84 pessoas, inclusive 10 crianças, nesta cidade da Riviera Francesa.

O massacre foi uma "resposta aos chamados feitos para atacar cidadãos dos países da coalizão que lutam" contra o EI no Iraque e na Síria, acrescentou o comunicado.

A reivindicação "é ambígua e não especifica se (o atentado) foi ordenado ou apenas inspirado nos chamados para atacar a França, feitos pelo EI", destacou Yves Trotignon, ex-analista dos serviços de inteligência franceses, a DGSE.

David Thomson, especialista em extremismo islâmico, reforçou que no geral o grupo faz uma distinção entre "soldados" e "simpatizantes" em suas reivindicações.

Neste caso, "a mensagem é um pouco contraditória", afirmou Thomson, pois apresenta o assassino de Nice como um "soldado", o que leva a crer que ele jurou lealdade ao grupo, mas acrescenta que ele agiu "em resposta aos chamados" do EI.

Em 2014, o porta-voz oficial da organização, Abu Mohamed Al Adnani, pediu aos seus simpatizantes que utilizem qualquer meio disponível, como "veículos", para matar "infiéis" americanos e europeus.

NUNCA UMA REIVINDICAÇÃO FALSA - Thomson disse que, embora o EI não tenha ordenado necessariamente o ataque de forma direta, até agora nunca fez uma reivindicação falsa. Este especialista destacou que "várias vezes (o grupo) teve a possibilidade de reivindicar a autoria de um ataque que não cometeram, por exemplo, o acidente com o avião da Egyptair", que caiu no Mediterrâneo em maio.

"Mas não o fizeram, embora as autoridades egípcias tenham evocado a pista islamita", prosseguiu. Thomson também mencionou outras reivindicações do grupo. No caso de um ataque "incentivado por sua propaganda, não fazem uma reivindicação clara", explicou.

"Por exemplo, depois do ataque em San Bernardino", na Califórnia (EUA) em dezembro, quando um casal de muçulmanos matou 14 pessoas, o EI simplesmente "cumprimentou" os atacantes, aos quais descreveu como "simpatizantes".

"Quando há uma reivindicação, na maioria dos casos, depois do comunicado, apresentam provas - fotos ou vídeos - que permitem estabelecer um vínculo entre o terrorista e a organização", acrescentou Thomson.

Para Thomson, o caso de Nice "poderia ser similar ao de Magnanville", o assassinato em junho de um policial e sua companheira na residência do casal, na região parisiense.

O assassino do casal, o extremista Larossi Abballa, "minutos antes de passar à ação, pediu aos seus contatos do Facebook que prevenissem as brigadas midiáticas do EI".

A organização posteriormente reivindicou o ataque, cometido por um "combatente do Estado Islâmico".

Embora o atacante de Nice, Mohamed Lahuaiej Buhlel, não estivesse fichado pelos serviços de inteligência, seu perfil "não exclui que seja um jihadista", concluiu Thomson.

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