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Depois de meses de incerteza, Aung San Suu Kyi finalmente revelará nesta quinta-feira o nome do candidato de seu partido para a presidência de Mianmar, quatro meses após a sua vitória histórica nas legislativas.A Prêmio Nobel da Paz não pode concorrer ao cargo, o combate de toda a sua vida, em razão de um artigo da Constituição herdada da junta militar que permaneceu no poder por décadas.
Mas será, necessariamente, uma pessoa próxima, que aceite tê-la ao lado como alguém "acima" do presidente, como prometeu antes da eleição. Desde a vitória da Liga Nacional para a Democracia (LND), o país vive suspenso entre duas eras.
Os birmaneses participaram em massa nas eleições de 8 de novembro de 2015 e agora aguardam a formação do primeiro governo eleito pelo povo em gerações. E, finalmente, o estabelecimento de uma nova política para transformar um país arruinado por quase 50 anos de ditadura militar.
A impossibilidade de Aung San Suu Kyi de se tornar presidente tornou a equação complexa, especialmente por não contar com um número 2 dentro de seu partido. Na quinta-feira, a LND vai finalmente revelar o nome do seu candidato para substituir o atual presidente Thein Sein, no cargo até o final de março.
Desde a eleição, a Senhora de Rangum fez poucas declarações públicas, deixando espaço para muita especulação sobre os candidatos.
ABERTURA - "Tudo isso vai criar enormes problemas", estima o analista político Khin Zaw Win, acrescentando que o novo presidente terá constantemente que "olhar por cima do ombro" para obter instruções de Aung San Suu Kyi.
De acordo com a Constituição de 2008, herdada da junta, para a eleição do presidente, o Parlamento é dividido em três grupos: os deputados eleitos da câmara alta, os deputados eleitos da câmara baixa e, finalmente, os membros militares não eleitos (que representam 25% do Parlamento).
A vencedora do Prêmio Nobel não pode ser presidente porque o acesso ao mais alto cargo é proibido para pessoas com filhos de nacionalidade estrangeira. Seus dois filhos têm dupla nacionalidade, birmanesa e britânica.
Além do presidente, a LND anunciará o governo, que poderia incluir personalidades de abertura, uma vez que Aung San Suu Kyi anunciou planos de trabalhar para a reconciliação nacional.
"Nós queremos que ela seja nossa presidente. Não há outra posição que possa ser adequada", disse Tun Tun Maing, que dirige uma agência de viagens em Rangum.
O prestígio de Aung San Suu Kyi, filha do general Aung San, herói da independência assassinado em 1947, é enorme neste país pobre de 51 milhões de habitantes, onde passou anos sob prisão domiciliar.
Mas desde a auto-dissolução da junta e o estabelecimento de um governo semi-civil em 2011, o país se abriu com a libertação de centenas de presos políticos, liberdade de imprensa, abertura econômica... Um mini-revolução que permitiu o levantamento da maioria das sanções internacionais sobre o país.
Hoje, os veículos novos importados circulam no caos das ruas da capital birmanesa, e cada vez mais habitantes entram nas redes sociais, quando a internet ainda era reservada para a elite há dois anos.
De acordo com o Banco Mundial, o país deve crescer mais de 8% no próximo ano.
Mas os desafios que esperam por Aung San Suu Kyi e seu partido são imensos: educação e saúde, como a maioria dos serviços públicos, estão em frangalhos. E a guerra civil assola muitas regiões fronteiriças.
Também deverá lidar com o exército, que mantém um papel político importante com três ministérios-chave (Interior, Defesa e Fronteiras).