Violência

Papa se reúne com presidente mexicano no Palácio Nacional

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 13/02/2016 às 14:15
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O encontro constitui a primeira vez que um presidente mexicano recebe, no Palácio, um chefe Católico / Foto: AFP

O encontro constitui a primeira vez que um presidente mexicano recebe, no Palácio, um chefe Católico Foto: AFP

O papa Francisco se encontrou, neste sábado (13), com o presidente mexicano Enrique Peña Nieto no Palácio Nacional, na primeira visita de um pontífice ao local - para abordar sua preocupação com a violência, corrupção e pobreza que assolam o país.

O papa foi recebido por milhares de fiéis no Zócalo, uma praça construída sobre as ruínas de templos pré-hispânicos e onde estão a catedral e o Palácio Nacional.

Peña Nieto esperava Francisco na porta do Palácio, junto a membros de seu gabinete e do episcopado.

"Espero que o papa nos traga consciência sobre esses problemas" de corrupção, pobreza e discriminação, disse à AFP Adán González, um empreiteiro industrial aposentado de 68 anos, que chegou à Praça da Constituição ainda de madrugada para ser um dos primeiros na fila ante a catedral.

Ao sair com seu papamóvel da Nunciatura Apostólica, o pontífice se aproximou para cumprimentar os fiéis, entre eles anciãos e um grupo de homens e mulheres em cadeiras de rodas.

"Sua visita nos enche de esperança, reforça nosso espírito. É um país com muita dor devido a este problema tão grande que temos com a violência", disse Ema Torres, uma dona de casa de 70 anos que esperava pelo papa desde o amanhecer, em frente à Nunciatura.

O encontro deste sábado constitui a primeira vez que um presidente mexicano recebe, no Palácio, um chefe da Igreja Católica, um gesto simbólico em um país devoto, mas com uma larga tradição laica e que, apenas em 1992, restabeleceu relações diplomáticas com o Vaticano.

A presença de Francisco vem para fechar um ciclo. "Durante muito tempo, no século XIX e boa parte do XX, vivemos momentos, em nossa relação com o Vaticano, caracterizados pela tensão e, inclusive, pelo conflito" em meio às leis anticlericais do governo nascido de uma Revolução", reconheceu o embaixador do México no Vaticano, Mariano Palacios Alcocer.

De fato, a visita do papa ao país mexicano foi muito esperada pelo governo de Peña Nieto, alvo de fortes críticas pela situação de direitos humanos no país e casos como o desaparecimento e possível massacre dos 43 estudantes de Ayotzinapa.

POBREZA, MIGRAÇÃO E VIOLÊNCIA - Ainda comovido pelo motim que, na quinta-feira, deixou 49 mortos em uma prisão de Monterrey, o México vive, atualmente, todos as questões que preocupam Francisco: uma sociedade desigual, onde a metade de seus habitantes continua na pobreza; um país imerso na violência do tráfico de drogas e onde milhares de migrantes vivem um tormento tentando chegar clandestinamente aos Estados Unidos.

"O México da violência, da corrupção, do tráfico de drogas e dos cartéis não é o México que quer Nossa Senhora e, sem dúvida, eu não quero dar cobertura a nada disso", manifestou o papa dias antes de sua visita.

"Tentarei ser claro, falar de forma clara", comprometeu-se Francisco, na sexta-feira, ainda no avião papal frente à expectativa de muitos mexicanos para que ofereça algumas palavras de conforto diante da dramática situação que vive o país.

Antes de chegar ao México, o pontífice fez uma escala de algumas horas em Cuba, onde se encontrou com o patriarca ortodoxo russo Kirill, em uma reunião histórica que selou o reencontro entre Oriente e Ocidente.

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