WikiLeaks

Homem que expôs os EUA, Assange vive hoje em solidão

Thiago Vieira
Thiago Vieira
Publicado em 06/02/2016 às 10:09
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Assange é o fundador do WikiLeaks / Foto: AFP

Assange é o fundador do WikiLeaks Foto: AFP

Após milhões de documentos confidenciais vazados, revelando trocas de mensagens diplomáticas e uma extensa e indiscriminada espionagem dos EUA, que grampearam governos e empresas, do presidente russo, Vladimir Putin, a Dilma Rousseff — além de aliados, como a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Holande —, Julian Assange ficou mundialmente conhecido. O protagonismo do jornalista australiano, fundador do WikiLeaks, o levou a ser finalista da escolha de “Homem do Ano” da revista “Time”, em 2010, ano em que jornais ao redor do mundo publicaram os documentos vazados.

Na época, a “Time” atribuiu a Assange a frase: “Chegamos à conclusão de que fomentar um amplo movimento mundial de vazamento em massa é a mais efetiva intervenção política.” Assange recebeu prêmios de instituições de defesa dos direitos humanos, e o WikiLeaks tornou-se o pesadelo de Washington, quando vieram a público milhares de mensagens militares sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão e documentos diplomáticos, cheios de relatos constrangedores sobre dirigentes estrangeiros: tudo secreto. Mas, hoje, Assange vive só.

Enclausurado com luz artificial - Considerado aluno inteligente, Assange estudou Matemática, Física e Informática na universidade, mas nunca se formou. Tornou-se um hacker e chegou a invadir os sites da Nasa e do Pentágono, com o pseudônimo “Mendax”. Com a notoriedade do WikiLeaks, acabou sendo mostrado como um gênio da informática, uma espécie de messias cibernético libertário. Uma de suas biografias o chama de “o homem mais perigoso do mundo”. Dois filmes sobre o WikiLeaks estrearam desde que Assange se refugiou.

Agora, Assange é um homem com medo: se for extraditado para os EUA, pode sofrer o mesmo destino da soldado Chelsea Manning, condenada a 35 anos de prisão por revelar documentos confidenciais. Após três anos e meio enclausurado na Embaixada do Equador em Londres e uma saraivada de críticas de autoridades e amigos, o prestígio dele entrou em queda livre. Governos o acusaram de pôr em perigo a vida de agentes de inteligência, e antigos colaboradores e amigos descreveram o australiano como alguém egocêntrico, obsessivo e paranoico. A maioria dos veículos de comunicação que apoiaram Assange se afastaram.

Hoje, o australiano de 44 anos, cabelos completamente grisalhos, diminuiu o sorriso sarcástico: está mais sozinho do que nunca. O cômodo onde vive resume-se a um escritório e uma sala de estar, além de um banheiro. Ele faz exercícios com uma corda de ginástica, tem um micro-ondas à disposição e supre a falta de luz natural com uma lâmpada solar artificial. Assange se aventura, pouquíssimas vezes, a dar umas voltas pelos terraços da embaixada: teme pela segurança.

"Sua existência é miserável" afirmou ontem, à AFP, Vaughan Smith, um dos poucos amigos que restam.

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